Escrito por: Tiago Pereira, da RBA
Apesar da quebra brusca na média de casos, maioria dos estados segue em alerta com relação às UTIs
O Brasil registrou oficialmente nesta quinta-feira (10) 943 mortes confirmadas pela covid-19. Assim, a média móvel teve leve queda. De 873 mortes diárias ontem para 859 a cada um dos últimos sete dias. No último período de 24 horas monitorado pelas autoridades sanitárias, foram identificados mais 164.066 novos casos da doença. Nesse indicador, a média móvel ficou em 146.854 diagnósticos diários (166.046 ontem), a menor em 20 dias. Conforme o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o país tem, ao todo, 636.017 mortos pela covid-19 oficialmente registrados, com mais de 27,1 milhões de casos.
Em sete dias, houve redução de 45,01% no número de casos de covid no Brasil. Na quinta-feira passada (3), o país havia registrado quase 300 mil novos diagnósticos. Nesse sentido, os números indicam que o pico de transmissão causado pela ômicron pode estar ficando para trás.
Ainda assim, a letalidade da doença é comparada a níveis registrados em meados do ano passado. Dessa maneira, também preocupam as altas taxas de ocupação dos leitos de UTI no SUS. Ao todo, 20 unidades da federação estão com mais de 60% dos leitos ocupados, em nível de alerta “crítico” ou “intermediário”.
Para a neurocientista e coordenadora da Rede Análise Covid-19, Mellanie Fontes-Dutra, trata-se de um “cabo de guerra” contra o vírus. “Se aliarmos medidas protetivas, restrições para aumentar a segurança de ambientes e vacinas, estaremos usando boas forças contra o vírus”. Dentre os exemplos dessas medidas, ela citou a exigência do comprovante de vacinação e o uso de máscaras.
Nota técnica divulgada pelo Observatório Covid-19 (da Fiocruz) alerta para o crescimento nas taxas de ocupação de leitos de UTI para a covid-19. Oito estados e o Distrito Federal estão em “alerta crítico”, com mais de 80% dos leitos ocupados. No geral, a situação é de relativa estabilidade em relação à semana passada.
Contudo, os índices de ocupação não pioraram graças ao leitos adicionados em diversos estados. Foi o caso do Amazonas, que saiu de 80% para 58% na taxa de ocupação, com 21 novos leitos. Por outro lado, 15 capitais estão em “alerta crítico”, contra 13 na semana passada.
Entre as unidades da federação, a situação é mais grave no Distrito Federal (99%) e no Mato Grosso do Sul (92%). Logo atrás aparecem Rio Grande do Norte (89%), Pernambuco (88%), Espírito Santo (87%) e Piauí (87%), Mato Grosso (81%), Goiás (80%). O Tocantins, que estava fora da zona de alerta crítico, viu as ocupações subirem de 78% para 81%. Além disso, outros 11 estados na zona de alerta intermediário, com entre 60% e 79% dos leitos ocupados.
Já entre as capitais, houve “piora expressiva” em Fortaleza (80% para 85%) e Vitória (80% para 89%). Brasília e Campo Grande permanecem à beira do colapso, com 99% dos leitos ocupados. Também entraram na zona de alerta crítico Porto Velho (77% para 91%), Palmas (72% para 81%) e João Pessoa (58% para 81%) e Rio Branco (70% para 80%). Completam a lista Goiânia (91%), Rio de Janeiro (86%), Teresina (taxa estimada superior a 83%), Maceió (82%), Belo Horizonte (82%), Natal (percentual estimado de 81%) e Cuiabá (81%).
Assim, os pesquisadores da Fiocruz chamam atenção para a persistência de taxas de ocupação em níveis críticos nos estados e capitais do Nordeste e Centro-Oeste e no Espírito Santo. Especialmente sobre o Nordeste, cogitam que a permanência desses índices elevados tem relação com o aumento do turismo no verão. Além disso, revelam preocupação com o espalhamento da variante ômicron em áreas com baixa cobertura vacinal e recursos assistenciais precários, o que pode propiciar elevação do número de óbitos.
“Como temos sublinhado, a elevadíssima transmissibilidade da variante ômicron pode incorrer em demanda expressiva de internações em leitos de UTI, mesmo com uma probabilidade mais baixa de ocorrência de casos graves”, diz o boletim. E reforçam a necessidade de o Brasil avançar na vacinação contra a covid, principalmente na população de crianças de cinco a 11 anos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou nesta quarta-feira (9) uma campanha que pretende arrecadar US$ 23 bilhões para “colocar fim na emergência global pela pandemia em 2022”. Nesse sentido, a OMS dirigiu o apelo aos países ricos que mais se beneficiaram, até o momento, da imunização em massa de suas populações. Os recursos serão investidos principalmente no projeto Acelerador de Vacinas (ACT Acelerator), que inclui, dentre outras, a iniciativa Covax Facility, que já distribuiu 1 bilhão de doses a países pobres e em desenvolvimento.
Além de 600 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, a OMS também pretende adquirir 700 milhões de testes, tratar 120 milhões de pacientes e oferecer equipamentos de proteção para 1,7 milhão de profissionais de saúde, especialmente em países com redes sanitárias mais frágeis.
Ao lançar a campanha, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, lembrou que “as doenças não conhecem fronteiras”. E disse que a ômicron mostrou que “qualquer sensação de segurança pode mudar em um momento”. Da mesma forma, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que, para acabar com esta pandemia, é preciso “injetar justiça no sistema”.