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Catadores de recicláveis pedem políticas de financiamento em seu dia internacional

Para os catadores e catadoras, apesar do reconhecimento por parte da população do papel que exercem na sociedade, é preciso investimentos em todos os níveis para que possam ter melhorias na renda

Publicado: 01 Março, 2024 - 15h34 | Última modificação: 01 Março, 2024 - 16h53

Escrito por: Rosely Rocha

Rovena Rosa / Agência Brasil
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É graças a atividade dos catadores e catadoras de reciclados, que recolhem cerca de 90% desse tipo de material nas ruas do Brasil, que foi evitado o corte de 8 milhões 464 mil árvores; que o país economizou quase 28 milhões de metros-cubos de água e 2,2 milhões de megawatts de energia; evitou a extração de mais de 31 milhões de toneladas de bauxita e outras 76 mil toneladas de areia e o consumo de mais de 1,6 milhão de barris de petróleo, segundo o Atlas Brasileiro da Reciclagem de 2022.

Atlas Brasileiro de ReciclagemAtlas Brasileiro de ReciclagemNeli de Souza Silva Medeiros, de 58 anos, é uma das responsáveis pela preservação do meio ambiente. Ela faz parte dos quase 1 milhão de trabalhadores e trabalhadoras que recolhem material reciclado no país. Já são 24 anos em que ela sustenta a sua família com o que recolhe das ruas e avenidas de Belo Horizonte, Minas Gerais. Com a renda que retira conseguiu formar uma filha em pedagogia e outro filho fez um curso técnico.

O que aparentemente pode parecer que a renda retirada é suficiente para a sua sobrevivência, na verdade, é um paliativo diante do sobe e desce dos valores atribuídos aos materiais reciclados.

“Na pandemia o quilo do papel chegou a R$ 1,90, hoje está em R$ 0,25, o que fez nossa renda do último mês ficar apenas em R$ 900, já tirando a nossa contribuição para a Previdência, porque a gente sonha ainda em ter uma aposentadoria digna”, diz se referindo aos 41 trabalhadores e trabalhadoras que como ela, são associados da Cooperativa Coopersoli-Barreiro, em Belo Horizonte. Neli faz parte também da Comissão Nacional do Movimento dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR)

Diante da variação grande dos preços do material reciclado é que MNCR, pede neste 1º de março, Dia Internacional das Catadoras e Catadores de Materiais Recicláveis, que as autoridades brasileiras atendam ao pedido de acesso a políticas públicas de financiamento para compra de equipamentos.

Segundo Neli, embora os catadores tenham Lula como um presidente amigo da categoria, é preciso que suas 22 propostas, entregues em documento, sejam atendidas.

“A gente está aí numa queda do preço do material, dos galpões muito sucateados e várias propostas não foram atendidas até hoje. E a gente fez já essa cobrança, nos ministérios para poder conversar, mas ainda não conseguimos o atendimento das nossas solicitações como o ‘Pro-catador’ e o Pronarep”, diz.

Neli conta que são projetos de melhoria dentro dos municípios, de infraestrutura, de maquinário para os catadores, para o pagamento pela prestação de serviço, e que, até agora, poucos municípios conseguem fazer. Outros apenas fazem um repasse pequeno para os catadores, que também não recebem pela prestação de serviço. (veja abaixo detalhes sobre o Pro-catador e o Pronarep).

Para a dirigente do Movimento, o ideal para se alcançar melhores preços seria vender diretamente para a indústria, mas existem os “grandes aparistas”, empresas que compram direitamente do catador e revendem para as indústrias.

“Se a gente conseguisse pegar de todas e levar direto para a indústria para poder agregar valor, valorizaria o nosso trabalho. Mas, a gente não conseguiu, porque o grande ‘aparista’ fala para as empresas que se comprar de nós, não vão vender mais para elas. Então, a gente precisa de espaço para expor esse material, para centralizar para ter um caminhão e poder levar o material para fora do estado. São ainda muitos desafios”, conta.

Segundo o Movimento, esses trabalhadores são responsáveis pela maior parte da coleta do país, mas 75% do lucro com esse trabalho fica com as indústrias.

O Dia Internacional dos Catadores

A data foi instituída em memória às vítimas do massacre ocorrido na Universidade Livre de Ottawa, na Colômbia, em 1992, quando 11 catadores foram assassinados no trabalho, com o objetivo de tráfico de órgãos.

Não é um dia para se comemorar, para dizer oba, né?, mas é o dia que a gente tirou para dizer, olha, estamos aqui, estamos vivos, mesmo com a perda de nossos amigos, a gente está aqui. Mas eu desejo um feliz dia para todos os catadores e que a gente consiga, de fato, fazer com que a gente tenha retorno e condições mais dignas de trabalho. Quem tem pressa, tem fome
- Neli de Souza Silva Medeiros

Pró-catador

O Programa Diogo de Sant'Ana Pró-Catadoras e Pró-Catadores para a Reciclagem Popular foi lançado em fevereiro do ano passado pelo governo federal com a finalidade de integrar e articular as ações, os projetos e os programas da administração pública federal, estadual, distrital e municipal voltados à promoção e à defesa dos direitos humanos das catadoras e dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, a partir do fortalecimento das associações, cooperativas e outras formas de organização popular; da melhoria das condições de trabalho; do fomento ao financiamento público; da inclusão socioeconômica; e da expansão: da coleta seletiva de resíduos sólidos, coleta seletiva solidária, reutilização, reciclagem, logística reversa e educação ambiental.

Pronarep

O MNCR entregou em 2014 ao governo federal, a proposta de criação do Programa Nacional de Investimento na Reciclagem Popular (Pronarep).