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Centrais sindicais se reúnem com parlamentares da Alesp para debater saída da Ford

Em reunião virtual com parlamentares de São Paulo, sindicalistas e especialistas apontam que o fechamento da Ford é uma das etapas do processo de desindustrialização que precisa ser revisto no país

Publicado: 20 Janeiro, 2021 - 18h17 | Última modificação: 20 Janeiro, 2021 - 18h27

Escrito por: Vanessa Ramos / CUT-SP

Sindmetau
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Centrais sindicais, sindicatos e parlamentares discutiram nesta quarta-feira (20), em audiência pública virtual realizada pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a situação da indústria no Brasil e os prejuízos do fechamento da Ford nas unidades de Taubaté (SP), Camaçari (BA) e Horizonte (CE).

Com as fábricas fechadas, estima-se a redução de 120 a 200 mil empregos no Brasil, apontou o diretor técnico nacional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fausto Augusto Júnior.

A estimativa considera os trabalhadores das unidades, mas também os sistemistas, as empresas fornecedoras e as empresas terceiras. Há, ainda, o impacto envolvendo a economia local, mas o problema não termina nisso. Segundo o diretor, esta é apenas a ponta do iceberg. 

“A gente não está falando apenas de quem trabalha na Ford. Quando falamos em cadeia, isso quer dizer que até o lavador de carros será impactado. Começa na indústria siderúrgica e vai terminar no setor de serviços. Impacto este que atinge também os impostos e, com isso, estamos falando algo em torno de R$ 3 bilhões por ano de impostos que deixarão de ser arrecadados com a saída da Ford”, afirma.

 

Divulgação AlespDivulgação Alesp

O caso da Ford, porém, não é isolado, como reforçou o vice-presidente da CUT, Vagner Freitas, ao se referir às mudanças na política brasileira.

“O Brasil vive um desgoverno que não é um campo fértil para o investimento de empresas. Por outro lado, sabemos que a Ford é culpada e existe uma decisão global da empresa em fechar a planta. Não é apenas pelo que acontece no Brasil, mas isso certamente tem impacto, já que existe uma confusão institucional, com falta de política econômica e um presidente maluco como o que temos”.

Junto a isso, observa-se no país uma transição da sociedade industrial para a sociedade de serviços a qual, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Brasil não está preparado.

“Nos últimos 5 anos, fecharam por dia no Brasil 17 fábricas. Significa que tivemos neste período 36 mil empresas a menos. Isso mostra um processo de desindustrialização para um aumento dos serviços. Só que ao mesmo tempo em que isso acontece, temos milhões de casas sem geladeira, televisão e acesso a bens materiais, o que demonstra que não estamos preparados para esta fase de transição da indústria para o setor de serviços como acontece hoje na Europa, nos Estados Unidos, em que a área e serviços ganha importância por conta de um suprimento de uma necessidade de bens manufaturados das famílias, que não é o caso do Brasil”, avalia.

Se o Brasil não reverter estas transformações, a partir de uma política específica para o setor, se transformará, na visão do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região (Sindmetau), Cláudio Batista, em uma “colônia” dos EUA, da Europa e da Ásia. “Seremos apenas fornecedores de grãos e minérios”, protesta.

Para que isso não ocorra, Freitas defende que haja uma pressão sobre o Congresso Nacional para que “os bens da Ford sejam nacionalizados pela União e os empregos dos trabalhadores sejam mantidos neste momento. É hora de os trabalhadores ocuparem as fábricas”, propõe.   

Governo dá as costas

“O problema é que temos o modelo de um governo que não tem nenhum compromisso com a classe trabalhadora e o desenvolvimento do país”, disse a deputada estadual Maria Izabel Azevedo Noronha, conhecida como professora Bebel.

Mas, além das críticas unânimes ao governo federal de Jair Bolsonaro (ex-PSL), parlamentares e sindicalistas alertaram durante a audiência para o descaso dos governos locais onde as fábricas serão fechadas.

Em São Paulo, Batista relatou que o governo de João Doria (PSDB) não atendeu os trabalhadores.

“Não há desrespeito maior neste momento em que os trabalhadores da Ford estão fazendo vigília na porta da fábrica. Fizemos um contato para nos reunirmos com o governador, ele não nos recebeu. E mandou secretários para falar que iriam discutir a realocação de requalificação. Que requalificação? Temos lá trabalhadores com mais de 40 anos, formados, preparados. Não precisamos nos requalificar, precisamos é do emprego e da intervenção do Estado”, destacou o dirigente.

Em 2019, quando houve o fechamento da planta da Ford na cidade de São Bernardo do Campo (SP), o deputado estadual Teonilio Barba lembra como Doria se comportou.

“Ele agiu como se fosse um corretor para vender a Ford em São Bernardo até que a fábrica acabou fechando. O impacto direto não se refere apenas aos trabalhadores, mas toda uma cadeia ao redor. É necessário transformar o fechamento da Ford em um escândalo nacional”, defende.

Mobilizações

Além das assembleias agendadas junto aos trabalhadores das fábricas da Ford pelo país, nesta quinta-feira (21) haverá atos nas concessionárias da Ford no Brasil.

No dia 26 de janeiro uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, com horário a ser definido, está agendada para discutir a situação da Ford e da indústria brasileira.