Escrito por: Andre Accarini
Afirmação é do secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo, que complementa: “Bolsonaro sempre deu sinais de que iria ‘combater o combate’ à corrupção” e agora comprovamos isso
O cerco se fechou e o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) ficou totalmente acuado com as denúncias de superfaturamento na compra da vacina indiana Covaxin, que estão sendo investigadas pelo Ministério Público e pela Comissão Parlamentar de Inquéirto (CPI da Covid) do Senado. A CPI, que apurava a negligência do governo no combate a pandemia do novo coronavírus, especialmente o fato de que o governo ignorou mais de 100 ofertas da vacina da Pfizer, e agora segue a rota do dinheiro.
“Ninguém, com exceção aos apoiadores de Bolsonaro, tinha a ilusão de que esse governo viria vinha para combater a corrupção. E tem fatos que comprovam isso, entre ele o escândalo das rachadinhas envolvendo ele e o filho, o senador Flavio Bolsonaro”, diz o secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo, se referindo ao esquema montado pelo então deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para confiscar os salários de assessores de gabinete, muitos deles fantasmas. O filho do presidente, que diz não ter corrupção em seu governo nem na sua família, foi acusado pelo Ministério Público do Rio de montar um esquema criminoso em seu gabinete.
Desde que foi eleito, Bolsonaro dá sinais de que, ao invés de combater a corrupção, iria ‘combater o combate’ à corrupção. E assim vem fazendo- Ariovaldo de CamargoO secretário cita as declarações do ministro-chefe da Casa Civil, Onix Lonrenzoni, que em coletiva nesta quarta-feira (23), em tom de ameaça, afirmou que será aberta uma investigação contra o servidor que denunciou as irregularidades e o caso do delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, que perdeu o cargo de superintendende da PF no Amazonas ao acusar o ex-ministro do meio Ambiente Ricardo Salles de corrupção ao facilitar remessas ilegais de madeira para o exterior.
“A mesma conduta de sempre”, diz Ari sobre os casos que confirmam a tese de que Bolsonaro nunca quis combater a corrupção.
O fio condutor de Bolsonaro é o de desmontar o sistema de combate à corrupção que foi fortalecido durantes os governos de Lula e Dilma Rousseff, que valorizaram servidores e investiram pesado em condições para as instituições agirem, diz o secretário.
De acordo com o dirigente, o povo já percebeu que Bolsonaro é mais perigoso que o próprio vírus em todos os sentidos e decidiu enfrentar os riscos da pandemia para se manifestar contra o governo. E o movimento popular, ele diz, é mais um elemento que se soma ao trabalho da CPI da Covid, para que um dos mais de cem pedidos de impeachment engavetados até agora na Câmara dos Deputados, seja aberto pelo presidente da casa, deputado Artur Lira (PP-AL).
O servidor do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, disse em depoimento ao MP que foi pressionado para acelerar a compra da vacina superfatura e entregou documentos a seu irmão, o deputado Luís Miranda (DEM-DF), que afirma ter avisado Bolsonaro de que a dose do imunizante indiano custava cinco vezes mais do que a vacina mais barata já adquirida pelo Brasil. O aviso, diz ele, foi feito antes do contrato ser assinado em 25 de fevereiro deste ano, com a Bharat Biotech, que produz a vacina. A transação, 1000% superfatrurada, foi intermediação pela empresa Precisa Medicamentos, representante do laboratório no Brasil.
A vacina indiana foi negociada a R$ 80,70, valor quatro vezes maior que a vacina Astrazeneca, comprada por R$ 19,87. E essa foi a´única negociação intermediada por uma empresa.
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Para o secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo, os fatos rementem à hipótese de que houve um retardamento proposital na vacinação dos brasileiros para poder privilegiar a vacina da índia. “As investigações da CPI vão indicar o porquê dessa possível preferência”, diz o dirigente.
Ele afirma que é lamentável isso acontecer em um país que tem o segundo maior número de mortes do planeta, que vacina pouco a população. “Estamos atrasados na vacinação em pelo menos seis meses por causa da negligência de Bolsonaro”, diz o dirigente.
Um dos proprietários da Precisa Medicamentos é Francisco Emerson Maximiano, envolvido em irregularidades em contratos com o Ministério da Saúde. Sua outra empresa, a Global Gestão em Saúde já foi denunciada por vender medicamentos ao Ministério da Saúde, quando Ricardo Barros (Progressistas-PR) era titular da pasta, no governo de Michel Temer, e não ter entregue, causando um prejuízo de R$ 20 milhões aos cofres públicos.
Na negociação intermediada pela Precisa, 20 milhões de doses da Covaxin foram compradas por R$ 1,6 bilhão. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, nega a compra, mas documentos comprovam que o valor já está empenhando desde 22 de fevereiro. Isso mesmo, três dias antes da assinatura do contrato com a Precisa. Quando há o empenho significa que o dinheiro já foi reservado para pagamento, que no caso, seria feito após a entrega das doses.
Agora, além de apurar a negligência do governo, como a falta de ação para salvar vidas de pacientes que morreram asfixiados em Manaus, no começo do ano, atrasar a compra de vacinas e estimular aglomerações sem o uso de máscara e protocolos de segurança, como faz Bolsonaro, a CPI investigará as denúncias de corrupção em um governo que se elegeu tendo com uma das principais bandeiras o combate á corrupção.