Cesta básica sobe 34,7% em 2 anos e governo Leite oferece 2,73% para mínimo regional
Cerca de 1,5 milhão de gaúchos e gaúchas que recebem o chamado piso regional, que está congelado há dois anos, terão mais dificuldade para comprar até itens essenciais
Publicado: 30 Julho, 2021 - 18h02 | Última modificação: 30 Julho, 2021 - 18h11
Escrito por: CUT-RS
A cesta básica de Porto Alegre acumulou alta de 34,7% entre 2019 e 2020, três vezes mais do que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do período, mas o governador Eduardo Leite (PSDB) enviou aos deputados estaduais um projeto de reajuste de apenas 2,73% para o salário mínimo regional do Rio Grande do Sul.
Os cerca de 1,5 milhão de gaúchos e gaúchas que recebem o chamado piso regional, que está congelado há dois anos, terão mais dificuldade para comprar até itens essenciais.
É o que dizem os técnicos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). De acordo com o Dieese, o aumento da cesta básica traz enorme dificuldade de acesso a itens essenciais de consumo, atingindo com mais intensidade as famílias de rendas baixas. Cerca de 1,5 milhão de gaúchos e gaúchas recebem o chamado piso regional.
O comparativo entre os percentuais de inflação e da proposta de reajuste do minimo regional feito pelo tucano integra estudo feito pelo Dieese que será levado pela CUT-RS e centrais sindicais para a audiência com o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Gabriel Souza (MDB), marcada para a próxima quarta-feira (4), às 9h30.
“Queremos abrir um diálogo com os deputados, o que não houve com o governador que anda mais preocupado em privatizar o estado e se candidatar a presidente, para mostrar que a proposta de 2,73% é irrisória e vergonhosa diante do aumento do custo de vida e sequer repõe a inflação do período”, afirma o secretário de Administração e Finanças da CUT-RS, Antônio Güntzel.
Achatar o reajuste de quem ganha menos é tirar comida do prato do trabalhador e da sua família.
Segundo o Dieese, o projeto do governo recupera somente 50% da variação do INPC de 2020. No ano passado, Leite havia enviado um projeto aos deputados, propondo aumento de 4,5% para repor a inflação de 2019. Após chantagens das federações empresariais, os deputados aliados do governo aprovaram reajuste zero e o governador sancionou. Em 2020, o INPC variou 5,45%. Assim, nos dois anos, a inflação acumulada foi de 10,3%.
Santa Catarina e Paraná: reajustes de 10,62% e 12,29%
A análise do Dieese mostra também Santa Catarina e Paraná – “dois estados da Região Sul e com características socioeconômicas semelhantes ao Rio Grande do Sul” – também possuem o chamado piso regional. No entanto, ao contrário do governador gaúcho, os vizinhos reajustaram os respectivos mínimos regionais em 2020 e 2021, cumulativamente, em 10,62% e 12,29%, respectivamente.
O Dieese revela ainda esses dois estados registraram variações menores na taxa de desemprego (Paraná +0,4 ponto percentual.) ou até queda da taxa de desemprego (Santa Catarina -1,0 ponto percentual) entre o 1º trimestre de 2019 e o 1º trimestre de 2021 em comparação ao Rio Grande do Sul (+1,2% ponto percentual).
Além disso, ambos possuem taxa de desemprego menor (Santa Catarina: 6,2%) ou similar (Paraná: 9,3%) à do Rio Grande do Sul (9,2%).
Isso confirma que não passam de lágrimas de crocodilo a choradeira dos empresários atrasados que todos os anos repetem a ladainha de que o piso regional gera desemprego”, ressalta Antonio. “É um mito que não se sustenta, que nem palanque em banhado”, compara.
O estudo do Dieese alerta que o mínimo regional é um poderoso instrumento para reduzir as desigualdades. “Aumenta o número de pessoas na extrema pobreza e o de super ricos. Não podemos permitir que milhões de trabalhadores fiquem para trás na recuperação da economia.”
“A distância entre pobres e ricos tende a agravar-se de forma rápida. A fome e a miséria podem crescer mais e piorar a já precária situação da classe trabalhadora. Um padrão de crescimento econômico profundamente excludente e gerador de desigualdades”, salienta o Dieese.
RS concede R$ 20,1 bilhões de renúncias fiscais por ano
O levantamento do Dieese acentua que o Rio Grande do Sul concede em torno de R$ 20,1 bilhões em renúncias fiscais por ano. Somente as de ICMS – que há influência legislativa e que representam em torno de R$ 9,8 bilhões, equivalente a 21,3% do que poderia ter sido arrecadado, o montante significa o dobro do que é concedido por São Paulo, por exemplo.
“Esperamos que os deputados de todas as bancadas dialoguem com as centrais sindicais, a fim de construirmos uma emenda ao projeto do governador que seja capaz de recuperar o valor do piso regional, que é fator de distribuição de renda, valorização do trabalho e estímulo para o crescimento da economia gaúcha”, conclui o dirigente da CUT-RS.