Chacina no Complexo do Salgueiro: nove corpos são encontrados após operação da PM
Moradores de favela em São Gonçalo (RJ) relatam que vítimas da polícia foram torturadas antes de serem mortas
Publicado: 22 Novembro, 2021 - 16h47 | Última modificação: 22 Novembro, 2021 - 16h57
Escrito por: Redação RBA
Moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), relatam uma chacina policial após encontrar nove corpos na manhã desta segunda-feira (22). Os mortos foram retirados de um manguezal, no bairro das Palmeiras, após operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope), na madrugada do último sábado (20).
Segundo os relatos, durante a ação policial houve tiroteios entre a Polícia Militar e traficantes. Na manhã de domingo (21), uma idosa foi atingida no braço por uma bala perdida e o sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, do 7º BPM, acabou morto.
Os moradores do Complexo do Salgueiro classificam a ação como uma chacina. Na manhã de hoje, corpos foram enfileirados e cobertos por lençóis. De acordo com reportagens, pessoas da região confirmam que as vítimas foram torturadas antes de serem mortas.
Ao jornal O Globo, um dos moradores, que não quis se identificar, disse que a operação foi mal sucedida e só aconteceu por retaliação à morte do sargento. “Vieram de qualquer maneira e o resultado é esse. Eles deram tiro para todos os lados e chefes de família ficaram em risco. E o resultado é esse: nove corpos e muitos outros que podem estar no mangue. Não existe segurança pública no Rio. Eles tratam a gente com a morte”, criticou.
Jogados no mangue
Os relatos locais apontam que os mortos foram vítimas de tortura e os corpos jogados sobre os outros, no mangue. Entre os assassinados pela polícia, haviam pessoas que não eram envolvidas com o tráfico. Há a expectativa de que novos corpos sejam encontrados ao longo do dia.
Em nota, a Defensoria Pública do Rio afirmou ter recebido “relatos sobre a violenta operação no Complexo do Salgueiro” e comunicou o fato ao Ministério Público, “para a adoção de medidas cabíveis a fim de interromper as violações”.
“Tinham pessoas envolvidas com o crime? Tinham. Mas a grande maioria não tem nada com o fato. Muitas pessoas estão desfiguradas. Se eles tivessem a intenção de prender, não teriam feito isso. Se fosse troca de tiros, os jovens não estariam assim. Eles fizeram uma chacina. Resgatamos os corpos e não achamos nenhuma arma. Morreu um PM em um dia e no outro eles fizeram uma chacina”, relatou outro morador ao O Globo.
RepercussãoA chacina no Complexo do Salgueiro revoltou internautas durante o início desta segunda. Nas redes sociais, ativistas de direitos humanos e parlamentares criticaram mais uma operação policial que resultou em novos mortos.
Marcelo David Macedo, da Anistia Brasil, atribuiu o crime à ineficaz guerra às drogas. “Essa roda que gira para encher uns poucos bolsos, matou um policial militar no Salgueiro, em São Gonçalo, há dois dias. Em resposta, a PM alimentou a roda com uma operação que, iniciada nesta madrugada e ainda em andamento, deixa uma chacina no chão. Relatos de moradores apontam para pelo menos vinte execuções, com corpos num mangue sendo retirados pelas próprias mães com lama até os joelhos porque os Bombeiros não entraram na favela. Quem lucra com isso?”, questionou em seu Twitter.
A deputada estadual Renata Souza (Psol) enfatizou que os próprios moradores estão retirando os corpos de uma região de manguezal. “Muito triste. A polícia deve fazer seu trabalho cumprindo a legalidade e respeitando moradores, serviços de saúde, educação e todos que trabalham nas favelas. Seguiremos cobrando!”
O professor e ativista social Jonas Di Andrade classificou a chacina como “barbárie”. “Vocês já viram acontecer numa área “nobre” moradores carregarem corpos após uma chacina realizada por quem deveria proteger? Claro que não! Essa é a realidade das favelas do Rio de Janeiro. O que aconteceu no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, é desumano”, tuitou.
A também deputada estadual Dani Monteiro (Psol) criticou a ação policial. “É essa a imagem do rastro do Estado atuando nas favelas: corpos empilhados e a favela tendo que dar conta de enxugar o sangue derramado.”