Juventude pataxó organiza campanha nas redes sociais para ajudar as famílias prejudicadas
As fortes chuvas na Bahia causaram a morte de 11 pessoas e deixaram 51 cidades em situação de emergência. Até terça-feira (14), a Defesa Civil contabilizava mais de 200 mil pessoas prejudicadas pela enchente que isolou também pelo menos 14 aldeias do Povo Pataxó. Entre elas, a Boca da Mata, onde reside boa parte dos anciãos. A única ponte que dava acesso às comunidades foi destruída pela forte correnteza dos rios entre quarta e quinta da semana passada.
A população, que já vivia em situação de vulnerabilidade, ficou em condição ainda mais precária. De acordo com o coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Leste, Domingos Andrade, a falta de acesso a água potável permanece grave em três comunidades do sul e do extremo sul da Bahia. Em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual, o coordenador denunciou que já foram encaminhados documentos para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), mas não houve retorno.
“Inclusive uma das comunidades teve que enviar ofício ao MPF (Ministério Público Federal) solicitando que de fato a Sesai, que é órgão do governo federal responsável pela saúde indígena, possa intervir de forma imediata porque são famílias com idosos, pessoas em tratamento de saúde e crianças que estão sem acesso à água potável. E essa realidade está se mostrando em várias comunidades”, contesta.
Omissão do governo
Há relatos de que pequenas produções de alimentos para subsistência das comunidades também foram devastadas pelas chuvas no sul da Bahia, que levou também pequenos animais e comprometeu a estrutura física de casas da região. Segundo Andrade, os indígenas continuam em situação de alerta para se proteger diante da incerteza sobre a continuidade ou não do período de chuvas intensas.
“A pauta indígena dentro desse contexto de calamidade não é pautada e as comunidades estão reivindicando que sejam também atendidas pelo Estado e o governo federal que não citaram essa temática”, crítica.
A jornalista Marilu Cabañas também conversou com a liderança indígena da Aldeia Pataxó Novos Guerreiros, Thyara Pataxó, que confirmou os relatos de omissão. De acordo com ela, os povos tradicionais estão se mobilizando de forma própria para minimizar os impactos das enchentes.
“Isso ocorre desde o início da pandemia. Não tivemos nada por parte do governo para tentar amenizar os impactos dentro das comunidades. Pelo contrário, nós recebemos notificações da Funai de que servidores não poderiam entrar dentro de territórios que não estavam demarcados, um absurdo (…) O intuito na verdade é nos retirar dos territórios para ampliar seus grandes negócios”, contesta a líder.
Campanha de arrecadação
Apesar do descaso, o momento agora, segundo ela, é de reconstrução. Thyara é uma das vozes da juventude que tomou à frente de uma campanha de arrecadação de recursos nas redes sociais para ajudar essas famílias.
Ela confirmou que, nesta quinta (15), indígenas pataxó de Porto Seguro se uniram para reconstruir a ponte de acesso, por exemplo, às aldeias Boca da Mata, Meio da Mata e Mãe Barra Velha. Com as doações nos últimos dias, 33 famílias receberam mantimentos, colchões e cobertores. Os esforços, contudo, continuam ao longo dos próximos dias.
“Durante essa semana nosso intuito é atender a comunidade de Aldeia Velha que está em situação bem similar a das aldeias isoladas. Lá foram registradas 18 famílias que estão em uma escola. Ontem alguns representantes da juventude foram até Aldeia Velha e puderam ver de perto a situação deles, fizeram filmagens e a situação está bem complicada”.
Informações para apoiar o povo Pataxó vítima das chuvas na Bahia estão sendo compartilhadas nas redes sociais de Thyara.