Escrito por: Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT
Carlos Gabas, organizador do ciclo de debates diz que desafio é mostrar à sociedade que o Brasil vive um momento em que, ou caminha para a humanidade ou regride à barbárie
Além de destruir as políticas públicas que estavam garantindo justiça e inclusão social, distribuição de renda e geração de emprego decente, o golpe de 2016 que destituiu Dilma Rousseff, presidenta legitimamente eleita com mais de 54 milhões de votos, escancarou uma onda de intolerância jamais vista no País.
No começo, as manifestações de raiva pareciam apenas mágoa com o partido que estava garantindo aos mais pobres acesso à saúde, educação e, com isso, mais oportunidades no mercado de trabalho e na vida – os filhos dos pedreiros passariam a concorrer com os filhos na classe média quase de igual para igual e isso parecia intolerável.
Mas, a mágoa cresceu, virou ódio e, de repente, a empatia sumiu das ruas e das redes, que foram tomadas por ataques e agressões contra pobres, negros, mulheres, gays, lésbicas e qualquer um com orientação sexual diferente dos padrões estabelecidos pela sociedade.
“Desde 2016, aumentaram os registros de violência, especialmente contra as mulheres, com muitos casos de feminicídio, à população LGBT, os estupros e assassinatos de negros pobres da periferia, os atos de racismo exacerbados em todo o Brasil. A onda de ódio direcionada ao PT se espalhou e foi disseminada em todo território nacional”, pontuou o ex-ministro da Previdência Social, Carlos Gabas, que, preocupado com a situação juntou um grupo de estudiosos para tentar encontrar saídas para desconstruir o discurso de ódio e voltar a construir um país com mais amor, mais justo e para todos.
Esse é o objetivo do ciclo de debates “Humanidade ou Barbárie – para onde vamos?”, que começou na semana passada, em São Paulo, com uma palestra da presidenta Dilma.
“O golpe parece ter aberto a tampa de uma garrafa onde estava trancado o gênio do mal e precisamos descobrir como fechar essa garrafa novamente”, diz Gabas.
Segundo ele, a hora é agora. “Estamos vivendo uma encruzilhada civilizatória, ou vamos para a humanidade ou para a barbárie”.
“Estão querendo nos arrastar para a barbárie não só pela crise econômica e exclusão, pelo abismo social que estão criando ao diminuir a proteção social que está sendo desmontada”, avalia Gabas, que complementa: “direitos construídos em nossos governos, entre 2003 e 2013, para mulheres, negros, indígenas, estão passando por um processo de terra arrasada. Nós queremos e lutaremos pela humanidade para garantir a manutenção dessas políticas”.
Eleição vai expor duas visões de mundo
Para Gabas, duas visões de mundo vão polarizar a disputa eleitoral nas eleições gerais deste ano: uma que imprime a barbárie instalada ao focar apenas no capital especulativo em detrimento do bem-estar das pessoas; e, outra, que defende a humanidade, as liberdades e as conquistas do povo.
Neste cenário, diz o ex-ministro, é preciso demonstrar que o Brasil pode e deve continuar com as políticas de crescimento econômico, inclusão e justiça social iniciadas no governo do presidente Lula até mesmo porque, os últimos dois anos já demonstraram que é impossível o país voltar ao rumo do desenvolvimento econômico e social se o governo continuar extinguindo políticas sociais, criando leis que surrupiaram direitos da classe trabalhadora, tomando decisões políticas desastrosas que estão fazendo o país mergulhar em uma profunda crise política, econômica e social jamais vista desde a redemocratização do Brasil, no final dos anos 1980.
“Estamos à frente de um grande desafio e, face à barbárie e aos retrocessos contínuos dos últimos tempos, [PEC 55, reforma trabalhista, terceirização], a humanidade é a garantia da tomada de consciência da sociedade civil dos avanços sociais que tivemos e o quanto ainda devemos avançar”, defende Gabas.
Barbárie x humanidade
A proposta do ciclo de debates “Humanidade ou Barbárie – para onde vamos?”, que vai abordar 13 temas, entre eles, petróleo, comunicação, saúde, previdência, trabalho, sustentabilidade e desenvolvimento regional, sempre com a presença de um convidado especial da política e academia, é conscientizar a sociedade que a supressão das políticas públicas implantadas na última década para combater a miséria e a fome, para gerar oportunidades para todos, está promovendo prejuízos humanos irreparáveis.
A venda do Pré-Sal para petroleiras internacionais é apenas um exemplo dos danos que a política privatista implementada pelo ilegítimo e golpista Michel Temer (MDB-SP) representa para o Brasil e para os brasileiros, diz Gabas.
“O petróleo, como um bem a serviço do povo brasileiro, tem um tratamento que para nós, progressistas, é humanidade. Quando se pega o precedente do óleo do Pré-sal e se faz um fundo para a educação, saúde, formação dos jovens brasileiros, isso é um projeto de humanidade. Já esses que hoje estão no poder, venderam a preço de banana para as petrolíferas internacionais com o único objetivo de aumentar a concentração de renda no país. Isso, para nós, é barbárie”.