Escrito por: Tácito Pereira Dos Santos/ Educador da EFSCMA
Projeto da SNF em parceria com a Secretaria Nacional de Cultura, desenvolvido pelas Escolas Sindicais, debateu no último 25 o livro A queda do céu para discutir as lutas e resistências dos povos da floresta
Em parceria com a Escola Sindical Chico Mendes na Amazônia e as Secretarias de Formação e de Cultura da CUT realizaram no dia 25 de maio o segundo encontro do Círculo de Leitura, que tem como orientação “Pensar o Brasil, pensar o povo brasileiro – história, cultura e formação por uma verdadeira independência. O Círculo de Leitura tem como objetivo o de “estimular a reflexão e o pensamento crítico sobre os 200 anos de Independência do Brasil e sobre os desafios de construção de um país verdadeiramente independente para e com o seu povo”.
Esse segundo encontro, realizado de forma virtual, teve como referência o livro A queda do céu - palavras de um xamã de autoria de Davi Kopenawa, liderança Indígena do Povo Yanomami e Bruce Albert, etnólogo francês. A Escola de Formação Sindical Chico Mendes na Amazônia adotou como lema do Encontro: “A queda do céu: lutas e resistências dos povos da floresta” em uma referência às lutas dos povos amazônicos e em particular dos povos originários que resistem na Região. A reflexão sobre a luta e resistências dos povos da floresta nos trouxe a necessidade da construção de uma narrativa que fala do Brasil do ponto de vista dos povos indígenas em constante embate com os não-índios/brancos, de dentro e de fora das fronteiras geopolíticas brasileiras.
Putira Sacuena denuncia os quatro processos colonizadores
Foram convidados para contribuir neste debate Eliene Rodrigues Putira Sacuena Indígena do Povo Baré, Biomédica, Mestra em Antropologia e doutoranda no PPGA-UFPA em Bioantropologia na linha de pesquisa Genética Forense e Ribamar Barroso dirigente da CUT Nacional, do SIMPRO PA e ex dirigente da CONTEE e ex Coordenador da Escola Sindical Chico Mendes na Amazônia.
Para Putira Sacuena ler e estudar o livro A queda do céu - palavras de um xamã, nos remete a necessidade de conhecer mais os povos originários, inclusive conhecendo mais os saberes, cultura e realidade destes povos “estamos interligados em um grande círculo com florestas, rios, céu, ar, animais, humanos... quando se rompe esse círculo, há um desligamento e temos a queda do céu, e então será tarde demais para nós por que se romperá a vida”. Putira vê esse rompimento ocorrendo com os Povos Indígenas na Amazônia.
É necessário perceber que para os Povos Originários há quatro processos colonizadores ao longo desses 500 anos: a invasão das terras brasileiras por portugueses que chegam com a religião para tornar “humano” os indígenas, a do Estado brasileira que tutela as comunidades indígenas que decreta que mesmo morando aqui Terra não os pertence e sim a União. Tem um terceiro processo que é feito pela ciência em que afirmam que pajés, benzedeiras e os mais velhos não fazem ciência. E por último tem o mais cruel que é o capitalismo, que reúne os três processos anteriores, neste as terras indígenas são invadidas por garimpeiros, madeireiros, grileiros, agropecuarista...na maioria das vezes de forma violenta com assassinatos de lideranças, queimando casas, estupros, destruindo a natureza, matando os rios e com a anuência do Estado brasileiro.
Há um processo de silenciamento e invisibilidade dos Povos Indígenas no Brasil, é importante destacar que a causa indígena é de toda a sociedade brasileira. Putira Sacuena destaca que “quando os povos indígenas estão defendo a floresta, os animais, os rios não estamos pensando somente no seu bem viver, mas sim no bem viver de toda a sociedade”. Esse bem viver compreende o círculo onde vida e saúde estão ligados.
Ribamar Barroso e a necessidade do movimento sindical se apropriar da questão indígena
A importância de se debater a questão indígena na CUT foi um dos pontos destacados por Ribamar Barroso, dirigente nacional da CUT. Para Ribamar que teve a oportunidade de ter contato com o livro A queda do céu - palavras de um xamã é “necessário que o movimento sindical cutista se aproprie do debate sobre a questão dos Povos Indígenas, a maioria está na Região Amazônica e os ataques à essa população também ocorrem em nossa Região”. Grande parte da população amazônida é de origem dos povos originários que expulsos de suas terras e foram para as cidades.
Putira Sacurena, além de liderança indígena também é pesquisadora, com Mestrado e agora Doutoranda em Antropologia com Concentração em Bioantropologia na linha de pesquisa genética forense. Ela destaca que as comunidades indígenas são objetos de pesquisas de diversas áreas e profissionais, porém esses resultados de pesquisas nunca retornam para os povos indígenas “é necessário que a Academia e quem pesquisa tenha a compreensão que não somos objetos, somos sujeitos, queremos ser valorizados, ser reconhecidos, ser respeitados”, reafirmou Putira.
A queda do céu - palavras de um xamã
A obra escolhida para o segundo encontro do Círculo de Leitura A queda do céu - palavras de um xamã aborda o significado do conceito humanidade a partir da perspectiva Yanomami. Este Povo que teve suas terras demarcadas em 1992, não possui seu Território reconhecido pelo Estado e pela sociedade brasileira. São mais de 30 anos de constantes violações de seus direitos.
As Comunidades Indígenas são chamadas e consideradas os ‘guardiões da floresta’, aqueles que a protegem, que lá moram e cuidam. “Mas a defesa da floresta não pode ser somente um compromisso dos Povos Indígenas, mas sim de toda a sociedade brasileira”. A pesquisadora indígena denuncia: “O peixe contaminado pelo mercúrio vai chegar na mesa de todos, o desmatamento que ocorre na floresta provocará uma mudança climática que atingirá a todos, ou nós, enquanto sociedade, possamos nos unir e não deixar o céu cair, pois se não existir o indígena não haverá nenhum humano”.
O próximo encontro do Círculo de Leitura ocorrerá no dia 29 de junho e será organizado pela Escola Sindical Sul.
Ataques recorrentes
Na semana em que se lembra o dia da liberdade de imprensa no Brasil (7) e que se faz esse texto, acompanha-se com apreensão o desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do Indigenista Bruno Araújo Pereira, a dupla desapareceu no domingo no Vale do Javari, no Amazonas, perto da fronteira com o Peru. A área é conhecida por conflitos e crimes ambientais e está dentro das TI Yanomami.
Naa manhã desta quarta-feira (8) a Polícia Militar, no Amazonas, prendeu um homem suspeito do desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.
Autoridades no Brasil (Bolsonaro, Forças Armadas e Itamaraty) já trabalham com a hipótese de ambos estejam mortos.