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Coletivo de Combate ao Racismo da CUT debate estratégias de luta do movimento negro

Durante o encontro foi apresentada pesquisa do Dieese que mostra que o rendimento médio dos negros é 40% inferior ao dos não negros. Evento discutiu também as estratégias para a 5ª Conapir

Publicado: 21 Novembro, 2024 - 17h10 | Última modificação: 21 Novembro, 2024 - 18h29

Escrito por: Walber Pinto | Editado por: André Acarinni

Roberto Parizotti
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Um dia após as celebrações da Consciência Negra, o Coletivo Nacional de Combate ao Racismo da CUT se reuniu, nesta quinta-feira (21), em São Paulo, para debater estratégias de luta do movimento negro para o ano de 2025 e como será feita a política antirracista. O encontro, composto por estaduais e ramos, termina nesta sexta-feira, dia 22.

Durante o evento, foi apresentado um panorama da realidade do mercado de trabalho para a população negra. Os dados mostram, entre outros pontos, que o rendimento médio dos negros é 40% inferior ao dos não negros (Veja mais dados abaixo).

Os participantes, que vieram de todas as regiões do Brasil, propuseram a realização de encontros estaduais para debater a Marcha das Mulheres Negras e a 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), ambas ocorrerão em 2025.

A secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Júlia Nogueira, explicou que o encontro nacional do coletivo teve o objetivo de compartilhar com sindicatos e ramos as ações que serão levadas para a conferência. “Levar vozes do movimento sindical  CUTista para a 5ª Conapir”, disse.

"Nós do movimento sindical temos que ser uma única voz na Conferência, uma voz com as proposta que sairão desse coletivo”, disse.

Marina Duarte, vice-presidenta do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) e representante da União de Negros pela Igualdade (Unegro), explica que os três eixos da 5ª Conapir serão democracia, justiça racial e reparação. “As conferências municipais, estaduais e nacionais serão realizadas pela sociedade civil, as virtuais também”.

Para Nuno Coelho, representante dos Agentes de Pastoral Negra (APNs), o encontro do coletivo ajuda a pensar a política de combate o racismo. “Devemos enfrentar os preconceitos, organizar a agenda e junto com as demais entidades de articulação do movimento negro para pensar uma ação afirmativa para o Brasil”.

Almir Aguiar, da Juventude Negra Viva e secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, lembrou das ações que estão sendo discutidas em Brasília sobre a violência contra jovens negros no país. "Nosso objetivo é diminuir a letalidade na juventude negra".

Ações

Para além da 5ª Conapir, outras ações estão sendo articuladas, entre ela uma marcha de mulheres negras na capital federal. Rosa Negra, educadora popular e Coordenadora Nacional e Estadual do Movimento Negro Unificado - MNU/RO, afirmou que a meta é levar 100 mil mulheres negra para para esta marcha, em Brasília, no mês de novembro de 2025.

“Nossa meta é que os movimentos sociais, sindicatos e ramos cheguem bem organizados. São muitas tarefas, mas, é por isso que a gente tem que se dividir. Precisamos chamar todas e todos para o debate”.

A atividade contou com a participação dos dirigentes da Executiva Nacional da CUT, como o Secretário Geral, Renato Zulato, o secretário de Administração e Finanças, Ariovaldo de Camargo, a secretária de Comunicação, Maria Aparecida Faria, a secretária de Formação, Rosane Bertotti, e secretário de Economia Solidária, Admirson Medeiros Ferro Júnior (Greg).

Mercado de trabalho e mulheres negras

Durante a atividade do coletivo, foi apresentando o levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), um estudo sobre vários indicadores que apontam, apesar dos avanços, que a desigualdade racial de rendimentos persiste no Brasil.

Segundo o estudo, o rendimento médio dos negros é 40% inferior ao dos não negros. O levantamento demonstrou também que os negros com ensino superior ganham até 32% a menos que os demais trabalhadores com o mesmo nível de ensino, o Dieese destaca que, mesmo com a adoção da Lei das Cotas, a situação pouco se alterou.

Outro dado significativo é a renda de R$ 899 mil a menos dos trabalhadores negros em relação aos não negros, durante todo o período de sua vida laboral. No caso daqueles com ensino superior, o valor chega a R$ 1,1 milhão.

No que diz respeito aos cargos de liderança, um em cada 48 homens negros está em posições de chefia ou comando. Entre os não negros, a proporção é de um para 18 profissionais. Nas profissões mais bem pagas, os negros são apenas 27% do total, com 70% dos trabalhadores em ocupações com salários mais baixos.

Já sobre as mulheres negras, o levantamento do Dieese mostra também que uma em cada seis mulheres negras trabalha como empregada doméstica. O rendimento médio das profissionais sem carteira é R$ 461 menor do que o salário mínimo.

Difícil inserção

Segundo o boletim do Dieese, o mercado de trabalho talvez seja um dos meios onde a discriminação racial e a desigualdade sejam mais evidentes. Os negros enfrentam maior dificuldade desde o momento em que começam a busca por trabalho.

A taxa de desocupação da população negra é sempre superior à do restante dos trabalhadores. No 2º trimestre de 2024, a taxa de desocupação dos negros era de 8%, enquanto a dos não negros ficava em 5,5%.

Entre as mulheres negras, a taxa de desocupação era de 10,1%, mais do que o dobro da taxa entre homens não negros (4,6%).

De acordo com os dados, cerca de um quarto das mulheres negras (24,6%) aptas a compor a força de trabalho disseram que estavam desocupadas ou não tinham procurado trabalho por falta de perspectiva; ou estavam ocupadas, mas com carga de trabalho inferior à que gostariam de ter.

Entre os homens não negros, essa taxa era de 10,1%. Ou seja, mesmo com o mercado de trabalho aquecido, um quarto das mulheres negras enfrentam dificuldades para conseguir uma inserção laboral adequada.

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 57% da população brasileira é composta por negros, sendo também a maioria dos trabalhadores, somando 55% dos ocupados.

Apoio da AFL-CIO

Gonzalo Martínez, diretor do escritório do Solidarity Center no Brasil, destacou a importância do encontro do coletivo nacional de Combate ao Racismo da CUT, que conta com o apoio da entidade.

“O Solidarity Center da AFL-CIO tem trabalhado com a secretaria de Combate ao Racismo da CUT em projetos que vão desde o aumento da conscientização de trabalhadores e trabalhadoras sobre as dimensões raciais da luta de classe até a criação de plataformas políticas de promoção da justiça racial”, ressaltou.

No final da atividade, o Instituto Observatório Social e o Dieese em parceria com SASK – Finlândia divulgou um estudo sobre as situações dos trabalhadores e trabalhadoras com deficiência, nos setores do comércio, serviços e industrial, no contexto das condições de trabalho, como de negociação coletiva-sindical.