Com Bolsonaro, sem verba, nem gestão, SUS atrasa mais de 1,1 milhão de procedimentos
A fila de espera por um procedimento, na maioria cirurgias, no SUS tem 1 milhão 102 mil e 146 pessoas. A responsabilidade é do governo Bolsonaro, diz secretária da Saúde do Trabalhador da CUT
Publicado: 06 Dezembro, 2022 - 14h04 | Última modificação: 06 Dezembro, 2022 - 14h43
Escrito por: Rosely Rocha | Editado por: Marize Muniz
A gestão desastrosa de Jair Bolsonaro (PL) em todas as áreas tem sido escancarada pela equipe de transição do presidente eleito, Lula (PT). Diariamente, os técnicos apontam as mazelas cometidas pelo atual presidente, e uma das áreas que mais afeta a população é a má-gestão da saúde. Além disso, os bloqueios de R$ 3,8 bilhões prejudicam o atendimento de doentes e até mesmo dos que gostariam de fazer exames de prevenção rotineiros.
Segundo a equipe de transição de Lula, há falta de dados oficiais na área da saúde, como por exemplo a fila do Sistema Único de Saúde (SUS,) o estoque de vacinas, especialmente às de Covid-19 e muito menos planos de ação para combater a pandemia e para melhorar os índices de vacinação infantil.
Enquanto o Ministério da Saúde não fornece os dados oficiais, quem está levantando a consequências das mazelas do atual governo são pesquisadores como os da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que diagnosticaram haver um atraso de 1 milhão 102 mil e 146 procedimentos médicos no SUS, entre os anos de 2020 e 2022.
Fila de espera para cirurgias
A pesquisa, que buscava entender qual teria sido o impacto da pandemia na saúde pública do país, concluiu que dentre os procedimentos com maior déficit destacam-se: cirurgia do aparelho digestivo, órgãos anexos e parede abdominal, cirurgia do aparelho geniturinário, cirurgia do aparelho circulatório, cirurgia das vias aéreas superiores, da face, da cabeça e do pescoço e tratamento em nefrologia. As consultas médicas regulares e especializadas também foram bastantes afetadas.
“Algumas regiões do país apresentam déficit considerável de atendimentos clínicos e procedimentos cirúrgicos que podem evoluir com complicações. Além disso, a demanda reprimida nos exames e diagnósticos representam problemas para agravamento de condições clínicas não atendidas a tempo”, afirma em nota a Fiocruz. Confira aqui.
A responsabilidade do atraso nos procedimentos médicos vai muito além da pandemia, a responsabilidade é do atual presidente Jair Bolsonaro, afirma a secretária da Saúde do Trabalhador da CUT Nacional, Madalena Margarida da Silva.
“A forma como o governo conduziu as políticas de saúde na pandemia evidenciou todas as fragilidades que existem no SUS, que só não foi um desastre completo, pela bravura e resistência dos trabalhadores e trabalhadoras na área da saúde que assumiram para si a responsabilidade de atender os doentes”, afirma Madalena.
A dirigente ressalta que os procedimentos represados são de responsabilidade do Estado, que não deu uma resposta adequada ao direito à saúde garantido pela Constituição brasileira.
“A Covid resiste, isto é um fato que impactou não só o Brasil, mas o mundo inteiro. Porém a forma negligente que o governo brasileiro tratou as questões relacionadas à saúde inviabilizou muitos procedimentos e tratamentos que já deveriam ter sido realizados”, diz Madalena.
Confira no quadro a lista de procedimentos em atrasos, segundo a Fiocruz.
Metodologia da pesquisa da Fiocruz
Os estudos destacaram as dinâmicas dos 30 grupos de procedimentos listados no Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do SUS de 2014 até maio de 2022, que são os dados consolidados até o momento do estudo. Em seguida, foram comparados os volumes específicos dos anos marcados pela Covid-19 (2020, 2021 e 2022) em relação à média do período 2014-2019.
Proposta da CUT e centrais na área de saúde ao futuro governo Lula
Os bloqueios financeiros no orçamento da saúde que chegam a 3,8 bilhões também contribuíram fortemente para a atual situação caótica do setor, fez com que a CUT, e as centrais sindicais Força Sindical, UGT, CTB e Diesat elaborassem em conjunto um documento que foi entregue à equipe de transição do governo Lula, com sugestões para que o atendimento ao trabalhador e à trabalhadora volte à normalidade e com qualidade.
“A saúde deve estar no centro do debate porque a classe trabalhadora está adoecida tanto fisicamente como mentalmente, e a gente percebe que as relações de trabalho precarizadas, o desemprego, a falta de moradias e de perspectivas para um futuro melhor têm contribuído para esse adoecimento e, por isso defendemos que é preciso ter ações articuladas da saúde com outras políticas públicas para que o trabalhador possa viver com dignidade”, conclui Margarida.
No documento da CUT e demais centrais pedem à equipe de transição, entre outras medidas:
- Fortalecimento das ações da Política Nacional de Saúde e Segurança no Trabalho (PNSST); da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora no âmbito do SUS, com a implementação e fortalecimento das ações no âmbito da atenção básica e da vigilância em saúde;
- Promover a inclusão de conteúdos referente à saúde e segurança dos trabalhadores nos processos de educação permanente, incluindo os grupos de trabalhadores em situações precárias e vulneráveis;
- Investir na formação e no estabelecimento e aplicação de protocolos, guias e linhas de cuidado em saúde do trabalhador;
- Investir no combate à pandemia da Covid-19 e suas consequências sanitárias, econômicas e sociais, bom como criar e fomentar uma rede de atenção à saúde dos trabalhadores com sequelas da covid-19;
- Fortalecer a identificação e registro da situação de trabalho, da ocupação e do ramo de atividade econômica para evitar a subnotificação no Sistema de Informação de Agravo de Notificação (SINAN) e no sistema de informação da Atenção Básica;
- Garantir a carreira única para os trabalhadores do Sistema Único de Saúde e realizar concursos públicos.
Confira o documento na íntegra aqui