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Com colega em coma por Covid-19, professores em MG pedem que prefeito feche escolas

Prefeito de Coronel Fabriciano passa por cima de decisão judicial, mantém trabalho presencial da categoria e casos de contaminação aumentam. Trabalhadores estão na luta para defender vidas

Publicado: 04 Agosto, 2020 - 14h30 | Última modificação: 04 Agosto, 2020 - 17h18

Escrito por: Érica Aragão

Arquivo professora
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Mesmo sem alunos, os trabalhadores e trabalhadoras da Educação de Coronel Fabriciano, no interior de Minas Gerais, foram obrigados a voltar as escolas  pelo prefeito, Marcos Vinícius da Silva Bizarro (PSDB), e o resultado é trágico: um professor está em coma e mais de 30 trabalhadores foram contaminados pela Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. A categoria luta pelo  fechamento das escolas para preservar vidas. 

A decisão de abrir as escolas, apesar das aulas estarem proibidas, foi tomada pelo prefeito tucano depois que ele perdeu três ações na Justiça para reabrir as unidades de ensino. Bizarro não desiste de colocar as vidas em risco e já recorreu até ao Superior Tribunal Federal (STF) para conseguir a volta das  aulas presenciais, que havia sido marcado para 22 de maio, em plena pandemia.

A professora, Elisete Alves Pereira Novaes, que está liderando um movimento dos trabalhadores e das trabalhadoras da educação contra a medida do prefeito, gravou um vídeo fazendo um apelo para o chefe do executivo. Ela disse que a categoria só quer trabalhar com segurança e reforçou o pedido de fechamento das escolas.

“Prefeito, eu apelo. Feche as escolas de Coronel Fabriciano! Não estamos fugindo do trabalho, estamos fugindo de um vírus que não é uma gripezinha e que pode matar. Já temos um colega em coma e centenas de casos de trabalhadores da educação que estão adoecendo e a gente só quer proteger nossas vidas”, disse.

Gripezinha é como o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), que zomba da pandemia que já matou mais de 94 mil pessoas e contaminou mais de 2,7 mil pessoas no Brasil, se refere ao novo coronavírus.

O descaso do prefeito com a categoria é enorme, Ele que já tirou direitos dos professores, não tem tomado nenhuma medida para evitar a proliferação da doença e ainda mantem os trabalhadores e trabalhadoras da educação dentro das escolas. O que não poderia ter acontecido, como garante uma liminar da ação ajuizada pela deputada Estadual, Bia Cerqueira (PT).

A liminar determina que não ocorra o retorno das atividades educacionais nas escolas da rede municipal de ensino de Coronel Fabriciano a partir do dia 25 de Maio de 2020, até que os órgãos públicos de saúde indiquem que é desnecessário manter o isolamento social para controle da disseminação da  Covid-19, com fixação de multa em caso de eventual descumprimento.

“Mesmo com a decisão judicial o prefeito manteve a convocação dos profissionais, o que levou a contaminação de quase 30 professores e o coma de um deles e mesmo assim ele vem tentando mudar a decisão recorrendo até ao STF, onde também perdeu. Isso é um caso típico de gestor que não compreendeu o que é uma pandemia e nem o seu papel neste momento”, disse a deputada Bia Cerqueira.

Elisete, a professora que apelou à humanidade do prefeito, diz que o trabalho que está sendo feito nas escolas, pode ser feito tranquilamente de casa e ainda com melhor qualidade, porque a categoria se sentirá mais segura e com menos risco até para os próprios alunos.

A professora disse que estão fazendo o planejamento semanal, enviando tarefas e vídeos e atendendo os alunos através de grupos no WhatsApp nos aparelhos celulares individuais. E que, quando precisa ou tem alguma demanda específica atendem algum pai ou mãe na porta da escola.

O pai de um aluno da Escola Municipal de Boa Vista, bairro de Coronel Fabriciano, Ernane Everton Soares da Silva, escreveu uma carta de apoio à luta da categoria, no qual reafirma que o posicionamento da prefeitura de manter os trabalhadores e trabalhadoras da educação dentro das escolas é imprudente, inclusive para pais e alunos. 

Segundo ele, o perigo é invisível para todo mundo, o que pode ser fatal. A transmissão do vírus pode acontecer sem que seja percebido, porque muitas pessoas são assintomáticas. E isso pode ocorrer tanto com as aulas presenciais quanto este formato atual, no qual trabalhadores e trabalhadoras da educação ficam na escola e às vezes os pais ou mães precisam buscar algum material pedagógico. 

“O meu filho poderia ter sido uma possível transmissor pelo fato do meu exame ter constatado que eu tive contato com o vírus em algum momento de forma assintomática.O mesmo risco pode ser verificado na outra ponta, quando estes profissionais são obrigados a interagirem com nós pais que por muitas vezes também podemos ser agentes transmissores da doença por meio das atividades físicas entregues ou mesmo pelo contato desnecessário", diz trecho da carta.

Elisete disse que nas 23 escolas municipais de Coronel Fabriciano, tem gente com suspeita ou já contaminada pela doença, a prefeitura não está controlando a doença, não tem testagem e nem o número oficial de casos.

“Não sabemos o número certo de contaminados, porque a prefeitura nem faz questão de controlar isso. Nesta escola onde trabalha este professor que está em coma, mais 10 testaram positivo. Fora os que não têm coragem de dizer que estão doentes com medo de represálias. Se continuar assim, daqui uns dias nem terá trabalhador para ir para escola e nem dar aula”, afirmou a professora.

Além disso, aponta Elisete, a prefeitura deu só duas máscaras de panos para cada profissional, álcool em gel sem qualidade, os trabalhadores dividem computador, fazem fila para bater o ponto e a merenda está por conta de cada um.

A categoria já fez abaixo assinado, já denunciou em rádio, em TV e agora espera outra decisão da justiça, porque enviaram as cópias de atestados médicos comprovando o alto número de contágio da doença entre a categoria.

“Não tem condição de estar na escola, o prefeito trata a gente com picuinha, chama a gente de preguiçoso e quer punir a gente porque lutamos contra a reabertura das escolas. A gente vai até o final desta luta mesmo as vezes perdendo a esperança, porque o que a gente não pode perder é a vida”, ressalta Elisete.

*Edição: Marize Muniz