Com cursos de formação e contribuições do público, o Instituto Lula resiste
Conteúdos sobre economia e democracia ministrados por Marilena Chaui e Marcio Pochmann já estão no ar. "Promoção do conhecimento é uma das razões de ser do instituto", diz Paulo Okamotto
Publicado: 18 Setembro, 2018 - 09h29
Escrito por: Tiago Pereira, da RBA
A perseguição jurídica ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que culminou com a sua prisão política e exclusão do processo eleitoral deste ano, atinge também o instituto que leva o seu nome. O Instituto Lula, criado em 2011, quando Lula deixou a Presidência da República, já foi alvo de hostilidade policial e agora sofre com a cobrança de somas de dinheiro, pela Justiça, sob pretexto de que palestras que Lula realizou ao redor do mundo, fartamente documentadas e testemunhadas, não teriam ocorrido.
O Instituto Lula, porém, resiste, buscando fortalecer o diálogo com o mundo acadêmico, com a imprensa e com outras regiões do mundo em desenvolvimento, como África e América Latina. Também atua na preservação da memória das lutas e conquistas da classe trabalhadora. "A gente precisa mostrar que tudo o que país tem hoje foi obra de muita luta, conquistado com muito sacrifício, que são características da história dos trabalhadores. O Instituto Lula tem essa missão de registrar e fazer avançar essa luta", diz o presidente da instituição, Paulo Okamotto.
Neste momento em que empresários e organizações foram constrangidos a não colaborar com o instituto, por temer a sanha persecutória de setores da imprensa e do Judiciário, o instituto tem buscado a colaboração de profissionais, acadêmicos e simpatizantes em busca de financiamento para prosseguir. A organização chegou a fazer campanha de arrecadação virtual e tem promovido uma agenda de cursos de formação com professores e intelectuais renomados e identificados com os objetivos do IL.
A série de cursos virtuais começou com aulas da filosofa Marilena Chauí, professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Chauí tratou da democracia e seus obstáculos (conheça aqui o conteúdo). E continua agora com o economista Marcio Pochmann, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Cesit-Unicamp).
A temática Democracia, com Marilena Chauí, continua no ar até o final do ano. As aulas de Pochmann entraram no ar na semana passado. Para ter o acesso a cada curso são pedidas, em contrapartida, doações a partir de R$ 200.
Pochmann aborda trajetória e perspectivas do desenvolvimento capitalista no Brasil, e suas contradições. O conteúdo completo do curso pode ser visto aqui. Também estão previstas aulas com o advogado Ricardo Lodi, a filósofa Marcia Tiburi e o cientista político Emir Sader. Cada curso conta com quatro aulas, de cerca de 40 minutos cada uma.
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A promoção do conhecimento é uma das razões de ser do Instituto Lula, como assinala Okamotto. "A formação política é uma questão importante no país hoje. Infelizmente, já há alguns anos, existe uma tentativa, que vem sendo bastante exitosa, em tentar destruir a política. A gente tem de lembrar que, na democracia, a gente só consegue construir alternativas com muita conversa, com muita política, com muito convencimento, com acordos entre as pessoas e as instituições, para fazer avançar a civilização e a sociedade que a gente defende", diz o presidente do IL, que defende que outras instituições promovam cursos que estimulem o debate político também. "Se xingar não é fazer política, política é a arte de convencer."
Okamotto considera o instituto "vítima de uma violência do Estado", por conta das perseguições jurídicas que buscam inviabilizar o seu funcionamento, e diz que é preciso aperfeiçoar nossos sistemas de investigação e punição. "Alguns setores da Justiça, no afã de mostrar serviço, muitas vezes destroem instituições e pessoas. Esse é um problema que vamos ter que começar a discutir. A pretexto de fiscalizar, tentam destruir a nossa reputação, toda a imagem construída em relação ao instituto e ao Lula. Houve um cerco geral. Muitas pessoas e muitas empresas e instituições foram prejudicadas."
Sobre viagens e palestras realizadas pelo ex-presidente, Okamotto diz que ao mesmo tempo em que fortaleceram a imagem do Brasil, foram importantes para o intercâmbio de ideias e soluções para problemas comuns, como o combate à miséria e a promoção do desenvolvimento.
"O que nós queremos é que todos os países se desenvolvam, criem oportunidades, com a criação de emprego e renda. A única forma de termos um mundo com paz e justiça é com todos trabalhando e participando do desenvolvimento. É esse o trabalho que a gente procura fazer. A gente não pode se fechar em si nem ficar olhando só para os países desenvolvidos."
Se o tratamento com a imprensa tradicional não é dos mais amistosos, a coisa muda em relação aos jornais e veículos estrangeiros. "Não tem no mundo muitas personalidades como o Lula. Não tem no mundo país que conseguiu combater a pobreza e a desigualdade como o Brasil. Muitas pessoas valorizam isso no mundo e querem conhecer como isso foi feito. Até a imprensa estrangeira tem, em sua maioria, outra abordagem, de curiosidade e valorização de experimentos", observa o dirigente. "Aqui no Brasil, infelizmente, vivemos essa campanha movida por um essa necessidade dos adversários de destruir as coisas boas que a gente tem. Não sei se é uma questão cultural, se é dor de cotovelo. Mas esse é o fato", lamenta.