Com gratidão, quilombolas do Vale Pega defendem Lula livre e acampam em Curitiba
“Antes de Lula, não tínhamos nada, nem luz nem água, nem vez nem voz”, diz quilombola mineira explicando porque comunidade decidiu ir ao Paraná defender a liberdade do ex-presidente
Publicado: 18 Abril, 2018 - 15h37
Escrito por: Denise Veiga, especial para o Portal CUT
Os ancestrais do povo negro revivem no Vale Pega, comunidade do Vale Jequitinhonha, em Minas Gerais, pedaço de solo onde brota esperança, memória, cultura, tradição e gratidão pelo governo do ex-presidente Lula que deu vez e voz, e garantiu direitos a essa e as outras comunidades quilombolas do Brasil.
O reconhecimento por Lula ter iniciado o resgate da dívida histórica com esses brasileiros, antes ignorados nos Orçamentos da União e na construção de políticas públicas, levou 40 quilombolas do Vale Pega a encarar quilômetros de estrada a caminho de Curitiba para dar apoio e prestar solidariedade ao ex-presidente, mantido como preso político há onze dias nas proximidades da sede da Superintendência da Polícia Federal.
Denise Veiga“Nossa comunidade chegou ao Acampamento Lula Livre na segunda-feira e vai ficar até sábado. Estamos sofrendo com a prisão arbitrária e injusta de Lula, mas estamos acampados aqui em Curitiba para dizer ao nosso Lula que estaremos com ele, onde ele estiver”, disse à reportagem do Portal CUT Liliane de Barros Nascimento, 36 anos, que tem na ponta da língua tudo que o ex-presidente fez pelo povo quilombola.
Segundo ela, foi o governo Lula que colocou no currículo escolar brasileiro a história e a cultura afro-brasileira que passou a ser conteúdo obrigatório das escolas municipais e estaduais do país.
“Lula nos deu vez e voz. Não tínhamos direito, como quilombola, de dizer sequer o que pensamos", diz Liliane que faz uma análise da realidade do seu povo antes e depois de Lula ter assumido a presidência .
"Antes de Lula não tinha luz, não tinha saneamento básico, nem faculdades, nem tampouco universidades, entre outros", conta a quilombola, que segue listando tudo que o ex-presidente fez pelas comunidades: "Lula sancionou a Lei 12.288/2012, Estatuto da Igualdade Racial, garantindo à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica”.
Outro grande passo dado durante os governos do ex-presidente Lula, diz Liliane, foi a criação da Lei de Cotas nas universidades que estabelece acesso de pretos e pardos ao ensino superior.
“Quem nos deu esse direito foi Lula. Eu acompanhei dezenas de quilombolas da minha comunidade e comunidades vizinhas se formarem médicos, dentistas, advogados, enfim. Imagine, em cada instituição federal de ensino superior, as vagas [50% do total] são preenchidas por autodeclarados pretos, pardos e indígenas”, afirma e questiona: “Isso não é fantástico?”
Dados do IBGE mostram que as políticas públicas de acesso ao ensino superior, como FIES e PROUNI, criadas nos governos Lula, aumentaram o percentual de alunos pretos ou pardos em faculdades de 16,7%, em 2004, para 45,5%, em 2014.
Tantos avanços é o que fez Liliane pedir à reportagem do Portal CUT que fizesse sua mensagem de gratidão e esperança chegar a Lula:
“Lula, você é a esperança que brota em nossos corações. Sem você o Brasil fica deserto. Não vejo saída. Com você a magia transborda em cada coração e cantinho desse país. Você é o sonho de uma igualdade justa em que nós trabalhadores sejamos felizes”.
Emocionada, a quilombola Liliane pede para acrescentar só mais duas frases, que espera mesmo, cheguem até Lula, que ela considera um exemplo para o Brasil:
Você precisa voltar. Você é nossa luz no final do túnel
Ela termina dizendo que ainda não tem filhos e que só terá quando tiver a certeza de que o Brasil está sendo governado por Lula. “Assim apresentarei ao meu filho um país verdadeiramente democrático, onde os pobres têm vez e voz”, conclui.
Vale do Pega
Por ter sido um dos principais refúgios dos escravos que fugiam das senzalas, o Vale Pega, território do médio Jequitinhonha, em Minas Gerais, possui hoje uma exuberante diversidade cultural e de forma significativa, as manifestações da cultura afrodescendente permanecem na região.
Angela Davis é Lula
No mesmo dia que Liliane falava com a reportagem do Portal CUT, a presidenta Dilma Roussef foi recebida no Centro de Estudos da América Latina pela professora Angela Davis, filósofa e ativista feminista e dos direitos civis. Angela ressaltou o caráter misógino do golpe de 2016 e observou que ele reacendeu também a forte luta das mulheres brasileiras. "Nós estamos com vocês, pela democracia e pelo futuro do Brasil", disse. No fim, posou com um cartaz pedindo a liberdade de Lula.