Com humor, Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé comemora 10 anos
A nota que celebra o aniversário, inspirada no verdadeiro Barão de Itararé, Aparício Torelly, debocha da enxurrada de notas de repúdio atualmente em moda no Brasil
Publicado: 14 Maio, 2020 - 16h34 | Última modificação: 14 Maio, 2020 - 16h58
Escrito por: Érica Aragão
A Direção do Centro de Estudo da Mídia Alternativa Barão de Itararé decidiu emitir uma nota de repúdio para comemorar os 10 anos da entidade, nesta quinta-feira (14). A ideia do documento, cheio de sarcasmo, foi inspirada no verdadeiro Barão de Itararé, Aparício Torelly, jornalista, escritor e pioneiro no humorismo político brasileiro. E também para debochar da moda de entidades da sociedade brasileira de emitir “notas de repúdio”.
O Barão, como é conhecido, é uma importante entidade que contribui na ampliação da militância na luta pela democratização da comunicação, fortalecer os fóruns existentes do tema e incentiva novos espaços de atuação, reforça as mídias alternativas, comunitárias e públicas, investe na formação dos novos comunicadores e aprofunda os estudos sobre o papel da mídia na atualidade.
“O Centro de Estudos Barão de Itararé jamais recebeu em sua sede representantes do jornalismo da família brasileira - desprezou olimpicamente alexandres, augustos, mervais e outros que tais, preferindo abrir suas portas para subversivos debates sobre democratização da Mídia”, diz trecho do documento.
“Que esta seja a primeira de muitas décadas de vida do Barão de Itararé, um espaço importante para debates, estudos e fortalecimento das mídias alternativas e progressistas, que são de grande importância para a democracia brasileira”, afirmou o secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, que representa a Central na direção da entidade.
“O Barão é grande parceiro do movimento sindical e sempre estaremos juntos na luta pela democratização dos meios de comunicação para que os trabalhadores e as trabalhadoras possam ter voz e vez na mídia brasileira”, ressaltou Roni.
Veja a nota na íntegra:
Manifestamos nosso mais veemente repúdio contra essa entidade que, traiçoeiramente, completa hoje 10 anos. Contrariando seu nobilíssimo nome de baptismo, o Centro de Estudos desprezou barões da mídia e fartou-se em reuniões com blogueiros sujos e ativistas digitais. Uma década perdida, vejam só, sem jamais ter beijado as mãos da família Marinho ou dos Frias e Mesquitas.
O Centro de Estudos Barão de Itararé jamais recebeu em sua sede representantes do jornalismo da família brasileira - desprezou olimpicamente alexandres, augustos, mervais e outros que tais, preferindo abrir suas portas para subversivos debates sobre democratização da Mídia.
Uma nota apenas não basta para tanto repúdio!
A sede da entidade esteve sempre aberta para personagens como Paulo Henrique Amorim e Audálio Dantas - que já não estão por aqui, mas seguem a inspirar com suas histórias e palavras os rebeldes que insistem em resistir...
Sim, essa é uma entidade com nome de Barão e vocação subversiva. Esse é um centro de estudos sobre mídia, mas que sediou assustadores debates sobre Política, Economia, Relações Internacionais, Cultura, Feminismo, Combate ao Racismo.
Desde 2010, por lá passaram Amorins, Dinos, Dirceus, Lulas, Boulos, Haddads e Stédiles… Dilmas, Manuelas, Jandiras e Erundinas… até Chomskys e Mujicas! Por lá passou o professor Marco Aurélio Garcia, algumas semanas antes de partir. Mas vejam só a afronta: o ministro das Relações Exteriores do capetão jamais foi convidado a depositar suas patas no já histórico auditório da rua Rêgo Freitas, que leva o nome do saudoso e subversivo Vito Giannotti.
Será preciso que os homens de bens lancem notas de repúdio pelos próximos dez anos, para impedir que isso prossiga.
Lamentavelmente, o Barão abriu as portas até para a ralé das torcidas de futebol e para o povo dos coletivos da periferia paulista. Debates, rebeldia, brasilidade... Um coquetel nefando.
Sem respeitar limites, ardilosamente, o Barão ainda espalhou núcleos Brasil afora. E organizou encontros nacionais de blogueiros e ativistas digitais. Promoveu cursos, fez parcerias com sindicatos e associações que o verdadeiro baronato gostaria de ver extintos.
Por isso, nosso repúdio é absoluto.
Chega desse povo que grita basta!
Chega de basta! Basta de chega!
Outros dez anos virão! Vinte, ou trinta! E nosso repúdio se multiplicará em notas.
Se Bolsonaro é pandemia, o Barão é pandemônio.