Escrito por: Rosely Rocha

Com lucro bilionário, Correios oferecem reajuste abaixo da inflação e mudam PLR

Trabalhadores dos Correios realizam assembleia no dia 31 para definir se entram em greve. Empresa oferece 90% do IPCA de reajuste e impõe condições para pagar a Participação dos Lucros e Resultados (PLR) 

Roberto Parizotti (Sapão)

Os trabalhadores e trabalhadoras dos Correios podem entrar em greve a partir de 1º de setembro se a direção da empresa continuar oferecendo reajuste salarial abaixo da inflação.

Enquanto a categoria reivindica 100% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), a empresa quer dar apenas de 9,62% - que representam 90% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que define a inflação para quem ganha até 40 salários mínimos. Ou seja, abaixo do índice oficial do país.

Os trabalhadores também estão inconformados com a proposta dos Correios sobre o pagamento da Participação dos Lucros e Resultados (PLR) deste ano.

Segundo Emerson Marinho, secretário de Comunicação da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), em 2021 a empresa não deu o PLR, e neste ano, quer impor condições prejudiciais aos trabalhadores para efetuar o pagamento.

“Os Correios tiveram R$ 3,7 bilhões de lucro e além de não definir o PLR querem que o benefício seja distribuído a partir do alcance de metas individuais e coletivas. Com isso, a maioria dos trabalhadores não vai receber sequer 70% do seu valor”, critica Marinho. 

Greve e calendário de Lutas

Em ato político realizado nesta terça-feira (23), em Brasília, em frente ao edifício-sede dos Correios, a categoria reafirmou o calendário de lutas. Ficou decidido que no dia 31 de agosto (quarta-feira) haverá uma assembleia de indicativo de greve, convocada pelos sindicatos, que pode ser deflagrada a partir do dia 1º de setembro.

Outras reivindicações dos trabalhadores

Além do pedido do pagamento de 100% do INPC, os trabalhadores dos Correios reivindicam mais R$ 300 linear a ser incorporados ao salário bruto; o aumento no tíquete refeição de R$ 41,95 para R$ 50,00.

Os Correios oferecem zero de reajuste no tíquete e apenas R$ 100 de incorporação ao salário, além de negar a manutenção de classes socias e a retomada de outros benefícios como o adicional de R$ 800 para os pais de filhos com alguma deficiência e R$ 50 de vale cultura; o recebimento do tíquete refeição durante as férias; a redução do índice do valor pago pelos trabalhadores ao o plano de saúde, que antes era de  30% e agora são 50%, e hoje ainda querem reajustar nossos salários bem abaixo da inflação,

Esses benefícios foram retirados durante negociação com o Tribunal Superior do Trabalho (TST), em 2020. Naquele ano, os ministros do TST ao julgarem o dissídio coletivo dos trabalhadores desrespeitou o Acordo Coletivo da categoria derrubando 50 das 79 cláusulas do documento, retirando direitos conquistados com muitos anos de luta. 

Correios querem retirar mais direitos

Com uma média salarial de apenas R$ 2.500, os 87 mil trabalhadores dos Correios correm o risco ainda de perder outros direitos conquistados com muita luta. Um deles, é o que resguarda os direitos dos motoristas dos Correios que se acidentam com os veículos da empresa.

Pela norma de “responsabilidade solidária”, o trabalhador que se envolve num acidente só paga os prejuízos se uma comissão comprovar que o erro foi dele – um direito conquistado em 2014. Com isso, os motoristas conseguiram evitar pagar prejuízos aos Correios, mesmo não tendo culpa do acidente. Um dos casos em que o motorista não foi o responsável, previa o pagamento de R$ 18 mil à empresa, o que ficaria inviável ao trabalhador arcar com essa despesa injusta.

Outro direito em perigo é o que permite as entregas apenas no período entre às oito da manhã e até o meio dia, o que favorece principalmente os carteiros das regiões Norte e Nordeste, que sofrem com as altas temperaturas locais.