Escrito por: Walber Pinto, de Brasília
"O que estará em jogo é o respeito às urnas e a vontade soberana do povo", diz Dilma em carta ao movimentos populares presentes
Foi diante de uma festa democrática que lideranças e militantes de entidades dos movimentos social, sindical, do campo e da cidade, partidos e parlamentares, participaram do ato em defesa da democracia e contra o golpe, neste sábado (16), em Brasília.
Acampados na capital federal desde o dia 10 de abril, em defesa da permanência de Dilma Rousseff na presidência, os manifestantes já se organizavam desde às 8h da manhã em frente ao Ginásio Nilson Nelson. O ato foi organizado por entidades popular da esquerda democrática, entre elas, a CUT.
A presidenta era esperada no evento, mas precisou cancelar sua participação devido a agenda de emergência no mesmo horário. Em carta enviada aos manifestantes, Dilma afirmou que o golpe será derrotado neste domingo.
“Vamos derrotar o impeachment sem base legal, que é um verdadeiro golpe contra a nossa democracia. Não cometi nenhum crime de reponsabilidade. Meu nome não aparece em nenhuma lista de recebimento de propina e tão pouca sou suspeita de qualquer delito”.
À véspera da votação na Câmara, ela disse ainda que a história gravará o nome de quem se pronunciou sobre o grave momento de tentativa de uma ruptura institucional. “Amanhã, na votação do impeachment, não estará em jogo apenas o mandado de uma presidenta eleita por mais de 54 milhões de brasileiros. O que estará em jogo é o respeito às urnas e a vontade soberana do povo”.
Ao contrário dos atos da direita, a diversidade de gênero, raça, etnia e geracional davam corpo à manifestação, diante de uma mística preparada pelos próprios movimentos.
O encontro contou com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de ministros e parlamentares da base do governo. Durante sua fala, ex-presidente deu um recado ao vice-presidente Michel Temer: “Se ele [Temer] quer ser candidato, que não tente através do golpe. Espere chegar até 2018”.
De acordo com Lula, a elite brasileira finge gostar da democracia. Ele lembrou que a mesma tentativa de golpe contra Dilma, fizeram no passado com João Goulart e Getúlio Vargas. “Em quatro anos Getúlio não suportou a pressão e se matou. Fizeram tanto até João Goulart renunciar”, reafirmou.
Em apoio às mobilizações no acampamento, doações de alimentos e produtos higiênicos não param de chegar. A vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, ressaltou que essa solidariedade é um esforço da coletividade dos trabalhadores. “Neste acampamento não faltou uma gota d´água por conta da coragem e da organização da classe trabalhadora”.
A dirigente reiterou que o golpe será contra a classe trabalhadora que vem sofrendo com a crise política e acrescentou. “Eu sinto vergonha que o principal golpista, que conduz o processo do golpe, é o Eduardo Cunha. É uma vergonha internacional tirar uma presidenta da República através de um golpe, reafirmou Carmen.
O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, afirmou que o impeachment não passará na Câmara dos Deputados. “Não vai passar porque estaremos nas ruas. O golpismo pode até ganhar, mas não vai ter governabilidade. Não terá um dia de paz e não vão conseguir governar este país”
O representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, reforçou a unidade das forças populares que, segundo ele, não se via nada igual desde as Diretas Já. É importante para a vitória nesse momento que a classe trabalhadora precisa”.
Stédile reiterou que é o que está em jogo neste momento é a luta de classes e prometeu protestos contra a Rede Globo. “É a Globo que está fazendo o papel de militante a favor do golpe. O golpe não é só do Cunha e do Temer, concluiu o dirigente.
Para a indígena Juvana Kakriabá, da tribo kakriabá, lembra que o povo indígena é um dos povos mais golpeados na história brasileira, e não aceita essa tentativa de golpe contra a Dilma. “Apesar de discordar do posicionamento do governo que fere nossos direitos, a gente está aqui para apoiá-lo porque somos a favor da democracia”.