Escrito por: Vitor Nuzzi, da RBA

Com medidas contra a covid, setor de audiovisual tenta retomar atividades

Com acordo na área de saúde e segurança, trabalhadores esperam retorno gradual. Em São Paulo, setor emprega 12 mil profissionais, quase todos autônomos

Reprodução

 A recente retomada das atividades presenciais por uma produtora paulistana, a Coração da Selva, é considerada uma espécie de “teste” para o protocolo de saúde e segurança no setor de audiovisual, firmado há três meses. O documento inclui as áreas de cinema e publicidade, bastante atingidos pela pandemia. Em tempos de covid-19, é definido como um “manual de boas práticas” pela presidenta do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual (Sindcine), Sonia Santana. A entidade tem bases em várias unidades da federação, principalmente São Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. “Vejo as equipes um pouco mais tranquilas”, diz Sonia.

Com 42 páginas, o protocolo é resultado de negociações entre Sindcine, Siaesp (que representa a indústria audiovisual no estado de São Paulo) e a Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro). Teve acompanhamento de várias associações profissionais, incluindo assistentes, contrarregras, figurinistas, produtores e técnicos cinematográficos, entre outros. Sonia estima que, apenas na cidade de São Paulo, o setor inclua 12 mil profissionais, basicamente autônomos (PJs).

Paralisação

Segundo ela, o impacto da pandemia foi “total”. Para mitigar os efeitos, foi criado um fundo em parceria com o Instituto de Conteúdos Audiovisuais Brasileiros (Icab), voltado para técnicos do cinema publicitário. Algumas empresas também fizeram doações. Inclusive canais de streaming, como a Netflix. “Segurou a onda de muita gente”, diz Sonia.

A crise, de certa forma, levou a um acordo para garantir jornada máxima de 12 horas. Abusos eram frequentes, segundo a dirigente, com jornadas que iam até 30 horas seguidas. “Havia acidentes por conta de jornadas excessivas”, relata. Mas é preciso monitorar, para garantir cumprimento do acordo. “Por um lado, temos boas produtoras, trabalhando acima do protocolo. O cliente não sente a pressão, o medo no setor. O técnico protegido está protegendo a cadeia e o próprio cliente.”

Zonas de acesso

Por enquanto, está vedada a realização de filmagens em locações públicas, até liberação pelo pode público. Segundo o protocolo, deve haver no máximo 20 pessoas simultaneamente no set de filmagem, com distanciamento mínimo de 1,5 metro. Essa também deve ser a distância entre câmeras e elenco. Sonia lembra que o protocolo criou “zonas de acesso”, conforme o risco de exposição.

“As pessoas estão realmente preocupadas em não ter nenhum ‘BO’ em seu set. E os clientes têm que entender esses esforço e o custo”, afirma Sonia. Ela estima esse custo extra em 20%.

Em 18 de setembro, a produtora Coração da Selva iniciou as filmagens do longa O Porão da Rua do Grito – um thriller de terror dirigido por Sabrina Greve e ambientado em um casarão do bairro do Ipiranga, em São Paulo –, adotando as medidas previstas no protocolo. O Sindcine foi convidado para a pré-gravação, na véspera.