Com proposta inédita, dirigente da CUT disputa vaga no Conselho da Vale
Proposta da chapa encabeçada por Wagner Xavier, do Sindfer/CUT, é ampliar a participação dos trabalhadores no Conselho. Dirigente abrirá mão da remuneração para fortalecer a luta dos sindicatos da categoria
Publicado: 02 Fevereiro, 2021 - 14h19 | Última modificação: 04 Fevereiro, 2021 - 13h38
Escrito por: Andre Accarini
O presidente do Sindicato dos Empregados da Vale do Espírito Santo e Minas Gerais (Sindfer ES/MG, filiado à CUT), Wagner Xavier, é um dos nove candidatos à vaga de representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Vale, formado por outros 12 membros que representam os interesses dos acionistas da mineradora.
A vaga para os trabalhadores no conselho existe desde 1997, quando a empresa foi privatizada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e foi uma conquista dos sindicatos que representam a categoria. A principal responsabilidade do representante dos trabalhadores no Conselho é participar dos debates sobre questões estratégicas da Vale como investimentos, por exemplo.
É ele quem leva a luta dos trabalhadores para que esses investimentos contemplem pautas como renda, manutenção de direitos e geração de mais empregos. As bandeiras de luta da chapa incluem também pautas como a ampliação da Participação de Lucros e Resultados (PLR), o combate à terceirização e questões que tratam de saúde e segurança no trabalho.
Para exercer a responsabilidade que o cargo exige e estabelecer uma conexão direta com os trabalhadores, a chapa elaborou uma proposta cujo principal ponto é a abrir mão da remuneração para o cargo de representante, que gira em torno de R$ 50 mil, e destinar esse recurso para a organização e a luta sindical.
A ideia é fortalecer a luta em nível nacional, envolvendo todos os 13 sindicatos da categoria no país, buscando uma campanha salarial unificada. Os recursos, de acordo com Wagner Xavier, “entram como forma de financiar as mobilizações, eventuais viagens de dirigentes para negociações, a comunicação, materiais e tudo o que envolve a necessidade dos sindicatos para sua manutenção”.
Outra destinação dos recursos é o financiamento de programas sociais desenvolvidos pelos próprios trabalhadores. O dinheiro será usado em benefício de obras e ações sociais dos empregados que integram o programa Voluntariado Vale, que envolvem questões como saúde dos trabalhadores.
A proposta da chapa, que tem como conceito reaproximar os trabalhadores da atuação sindical, prestando contas do que está sendo feito, também é de fortalecer a Ouvidoria da Vale, um importante canal para os trabalhadores fazerem valer a sua voz.
A Ouvidoria da Vale serve, por exemplo, para os trabalhadores registrarem suas necessidades, reclamações, denúncias de falta de segurança no trabalho, assédio moral e todas as questões que envolvem o dia a dia deles e que precisam ser resolvidas.
As eleições acontecem de 9 a 11 de fevereiro. Quem vota no representante para o Conselho são os próprios trabalhadores da ativa, por meio de urnas que serão colocadas nas 13 plantas da Vale no país. O mandato do conselheiro é de dois anos, com direito à reeleição.
Eleição
Além de Wagner, candidato ao cargo pela Chapa 3 - União e Movimento, uma das chapas que contam com dirigentes da CUT nesta eleição, concorre como suplente o diretor financeiro do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias dos Estados do Maranhão, Pará e Tocantins (Stefem MA, também filiado à CUT), Eduardo Pinto.
Wagner afirma que é necessário menos discurso e mais ação para enfrentar os desafios. “Quero levar um método de lutas e conquistas que tem dado certo para todos as unidades da Vale no Brasil, representando os trabalhadores com transparência e democracia”, diz o dirigente.
Wagner ainda afirma que será constituída uma comissão dos trabalhadores para que estabelecer um melhor diálogo entre a categoria, sindicatos e a representação no Conselho.
Sobre abrir mão da remuneração para destinar à luta sindical, ele considera que um sindicalista não deve usufruir de um ‘alto salário’ enquanto toda uma categoria carece do fortalecimento de sua representação.
Para Eduardo Pinto, “o propósito central é retomar a defesa dos interesses dos trabalhadores nesse espaço tão importante, em busca de novas conquistas, sem medo de lutar e de dialogar”.
Wagner é maquinista ferroviário, tem 18 anos de carreira na Vale e nove anos de militância no movimento sindical.
Já Eduardo Pinto trabalha na Vale desde 1983. Foi o primeiro maquinista da mineradora no Sistema Norte. É também técnico em eletrotécnica e bacharel em Direito. Atua no movimento sindical desde 1991. Presidiu o Stefem/MA de 1997 a 2013.
Compromisso firmado em cartório
Para demonstrar transparência aos trabalhadores, Wagner Xavier registrou um documento em cartório firmando o compromisso em abrir mão da remuneração. Na declaração, o sindicalista ainda diz que a doação e a destinação dos recursos serão fiscalizados pela comissão formada por empregados da Vale, que será escolhida para esta finalidade.
Outras chapas
Lucio Azevedo, também é diretor do Stefem/MA, mas aliou-se à central sindical Conlutas. Ele cumpre seu terceiro mandato como conselheiro e encabeça a chapa 8, concorrendo à mais uma reeleição. De acordo com Wagner Xavier, Azevedo tem a simpatia da Vale e dos demais conselheiros que representam os acionistas.
As outras nove chapas são formadas por candidaturas avulsas.
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