Com quebras de sigilos, CPI da Covid ‘fecha o cerco’ contra Bolsonaro
Diante da dificuldade na coleta de depoimentos, o cientista político Paulo Niccoli Ramirez aposta na análise de dados oriundos das quebras de sigilos contra figuras ligadas a Bolsonaro
Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), as quebras de sigilo determinadas pela CPI da Covid do Senado, que investiga ações e omissões do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, devem ajudar a “fechar o cerco” contra o presidente. A CPI procura, por exemplo, identificar o repasse de verbas públicas para alimentar o esquema de divulgação das fake news.
“É óbvio que esse tipo de informação apelativa e sensacionalista acaba afetando pessoas com menos instrução ou tendenciosas. O resultado é que durante a própria pandemia esses sites reforçaram mentiras, atacando princípios sanitários básicos. Todos esses elementos certamente contribuíram para o número gigantesco de mortos que temos hoje”, disse Ramirez em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta sexta (20). Assista entrevista no final do texto.
CPI avança com quebra de sigilos
Nesta semana, os trabalhos da CPI pouco avançaram na coleta de depoimentos. Munidos com habeas corpus expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, assim como o advogado da empresa Túlio Silveira mantiveram-se em silêncio. Negaram-se a prestar esclarecimentos sobre as negociações suspeitas envolvendo a compra superfaturada da vacina indiana Covaxin.
No entanto, a CPI aprovou na quinta-feira (19), uma série de requerimentos que inclui quebras dos sigilos fiscal e telefônico de pessoas ligadas ao governo Bolsonaro.
Um dos alvos dessas quebras de sigilos é o deputado federal Ricardo Barros, que passou à condição de investigado pela CPI. Também atingiu o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef. Além deles, blogueiros bolsonaristas, como Allan dos Santos e Ruschel, e veículos como Brasil Paralelo e Senso Incomum também tiveram quebras de sigilos aprovadas.
A CPI identificou transferências monetárias e ligações societárias entre diversas empresas e pessoas que ligam Barros e Wassef ao escândalo da Precisa medicamentos. Já os blogueiros e sites bolsonaristas são suspeitos de disseminarem desinformação durante a pandemia, pregando contra o isolamento, o uso de máscaras e as vacinas. E fazendo a defesa de medicamentos sem eficácia contra a covid-19.
Blindagem
O cientista político destaca na entrevista que, apesar dos avanços das investigações, Bolsonaro conta com o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, para blindá-lo. O relatório final da CPI da Covid deve ser apresentado em meados do mês do que vem, segundo o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Os documentos que apontam para indícios de crimes comuns devem ser então enviados a Aras, que deve decidir se apresenta denúncia contra o presidente.
Dado o seu grau de omissão em função do seu estrito alinhamento político com Bolsonaro, são poucas as chances de Aras agir contra os interesses do governo.
Contudo, ele deverá ser sabatinado pelo Senado, na semana que vem, na busca por mais dois anos à frente da Procuradoria-Geral. Por outro lado, em função da crescente insatisfação da opinião pública por conta da sua postura submissa ao governo, os senadores podem “surpreender”, segundo Ramirez, dificultando os caminhos de Aras. Outro que deve enfrentar situação parecida é o advogado-geral da União, André Mendonça. Ele também será sabatinado, após ser indicado para integrar o STF.