Escrito por: Redação CUT
Sem receber auxílio emergencial, a maioria dos ambulantes não consegue vender nada e não tem dinheiro para pagar o aluguel. Muitos acabam indo morar na rua
Vários governadores e prefeitos vêm reabrindo a economia, depois de mais de três meses de isolamento social para conter a disseminação do novo coronavírus (Covid-19), apesar da curva de casos e mortes ainda não ter ficado ao menos três semanas em baixa, como recomendam as autoridades da área da saúde.
O risco de contaminação parece ter afastado os consumidores tanto dos shoppings quanto do comércio de rua, onde se concentram os trabalhadores mais afetados pelo isolamento social por causa da impossibilidade de conseguir renda para sobreviver no período mais rígido do confinamento.
Pesquisa da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (ALSHOP) constatou que apenas 9% dos lojistas afirmam que a movimentação é regular e ninguém qualificou o movimento como “bom” ou “no mesmo nível anterior ao da pandemia”. Segundo a pesquisa, em São Paulo, 32% dos lojistas relataram que o faturamento caiu 90% em relação ao período pré-pandemia.
A situação no comércio de rua é a mesma, com o agravante de que o ambulantre não é empresário, não tem acesso fácil ao crédito nem reservas financeiras. Segundo reportagem de Cida de Oliveira, da RBA, a reabertura ainda não melhorou a situação dos trabalhadores ambulantes das cidades do país.
“Mesmo com as pessoas voltando a trabalhar, está muito difícil para o ambulante. As pessoas estão indo trabalhar, levam suas mercadorias na expectativa de que vão trazer dinheiro para casa, mas não conseguem”, relatou a vendedora Margarida Ramos, integrante do Fórum dos Ambulantes de São Paulo, durante o debate promovido, nesta quinta-feira (23), pela Central dos Movimentos Populares (CMP).
Margarida afirmou ainda que, mesmo em pontos mais movimentados da capital paulista, como o bairro do Brás, importante centro de comércio popular da capital paulista, os trabalhadores ambulantes chegam a passar o dia todo, ou a noite toda, em seus pontos de venda sem nenhum faturamento. “Tem muitos que tinham trabalho e casa, mas sem poder pagar aluguel, acabaram indo morar na rua”.
“Quando começou a pandemia, já se sabia que a coisa ia ficar feia pros ambulantes”, complementou Maira Vannuchi, que integra a União Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Camelôs, Feirantes e Ambulantes do Brasil (Unicab).
“A situação não chega a surpreender”, diz Maira lembrando que a categoria já enfrenta a criminalização e tem dificuldades para ser reconhecida como categoria profissional. “São trabalhadores sem direito”.
Luta durante a pandemia
Nesse período de pandemia, os trabalhadores tiveram de lutar para que prefeituras fornecessem cestas básicas, depois pelo auxílio emergencial de R$ 600 (R$ 1.200 para mães chefes de família), aprovado pelo Congresso Nacional e pago pelo governo federal, e também pela isenção, durante a pandemia, da cobrança das contas de luz e de água.
“Com a quarentena, eles tiveram as licenças para trabalhar canceladas e ainda não foram reeditadas. Mas precisaram voltar para as ruas; não dá para ficar em casa passando fome”, disse Maira, que é mestranda em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Só há um jeito: que esses trabalhadores se vejam como parte de um corpo, que vai lutar coletivamente por direitos, sentar à mesa com gestores. A gente não pode admitir que na cidade de São Paulo trabalhadores dignos como eles apanhem na cara e tenham sua mercadoria roubada pela polícia. Isso tem de acabar”, afirmou Maira.
Com pesquisas na área de trabalho, informalidade, mercados populares e transformações urbanas, a doutoranda em sociologia pela USP, Ana Lídia de Oliveira Aguiar alertou que as dificuldades enfrentadas por esses trabalhadores resultam de uma política repressora e higienista.
“Os ambulantes têm de enfrentar essa guerra urbana promovida pelo Estado e as consequências do desmonte do Estado, que promove uma verdadeira guerra urbana. Trabalhadores informais têm uma série de barreiras para receber um auxílio emergencial que, além de insuficiente, foi criado para dificultar o acesso.