Escrito por: Redação RBA
Fausto Augusto Junior assume direção técnica lembrando que "momento conturbado" faz parte da história do instituto. Também tomou posse nova direção sindical, com Maria Aparecida Faria, da CUT, na presidência
Ao tomar posse como diretor técnico do Dieese, no início da tarde desta terça-feira (4), o sociólogo Fausto Augusto Junior chamou a atenção para o momento “conturbado” do país, mas lembrou que isso já faz parte da história do instituto, que se confunde com a do país.
Fausto destacou o rigor científico na produção do Dieese, voltada para o ponto de vista do trabalho. “Fazemos uma ciência de classe, mas fazemos ciência. Fazemos política pela ciência”, disse, lembrando ter sido aluno de Paul Singer, defensor da chamada economia solidária. Em sua fala, ele também citou o educador Paulo Freire.
O novo diretor técnico substitui Clemente Ganz Lúcio, que permaneceu no cargo durante 16 anos. Clemente fez um histórico da atuação do Dieese, observando que o instituto criado em 1955 reúne profissionais com visões de mundo e teórica distintas, mas com uma visão política convergente: a defesa do trabalhador. Entre a extensa produção técnica do departamento, ele destacou os estudos sobre o salário mínimo.
A cerimônia na sede do Dieese, na região central de São Paulo, também marcou a posse da nova direção sindical. O Dieese passa a ser presidido por Maria Aparecida Faria, secretária adjunta de Administração e Finanças da CUT.
Para a secretária-geral da central, Carmen Foro, o instituto, construído “para aportar conhecimento para nós”, deve ser fortalecido e renovado.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, disse que o Dieese demonstra a eficiência da unidade do movimento: “É um referencial não teórico, mas prático, da ação sindical”.
Fausto lembrou de momentos marcantes para o Dieese que se “colam” à história política brasileira. “Entre a morte de Getúlio Vargas e a criação do Dieese (pouco mais de um ano depois), o Brasil teve três presidentes.”
Depois do suicídio de Vargas, em agosto de 1954, o país teve mandatários provisórios: Café Filho, Carlos Luz e Nereu Ramos, até a eleição, já em 1956, de Juscelino Kubitschek. “(Walter) Barelli assumiu pouco antes do AI-5”, acrescentou, citando o diretor técnico de maior permanência no instituto – 22 anos –, que iniciou sua gestão no período mais agudo da ditadura. O sucessor de Barelli, Sérgio Mendonça, assumiu em plena vigência do polêmico Plano Collor, enquanto Clemente chegou em 2003, no início do primeiro governo Lula.
Agora, o novo diretor, que está no Dieese desde 1996, inicia seu trabalho em “momento histórico bastante conturbado”, em um cenário de desempregado elevado, precarização do trabalho e perda de direitos.
“Este é um momento de aumento da desigualdade”, lembrou o novo diretor, para quem cabe “resistir e enfrentar algo que nos organiza e nos mobiliza, que é o embate contra a desigualdade”. “Esta é a nossa história”, completou. Além dele, o departamento terá Patrícia Pelatieri e José Silvestre como diretores técnicos adjuntos.
Fausto homenageou dois economistas com quem trabalhou: Roberto Sugiyama, o Japa, que morreu em 2015, e Osvaldo Cavignato, o Osvaldinho, metalúrgico do ABC que se tornou economista. “Uma coisa que a gente aprendeu com eles é que, no Dieese, o conhecimento é coletivo.”