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Comércio de Bento Gonçalves (RS) diz que trabalho escravo é por falta de mão de obra

Nota de “posicionamento” do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves não manifesta solidariedade aos trabalhadores escravizados, defende vinícolas e ainda critica “sistema assistencialista”

Publicado: 28 Fevereiro, 2023 - 14h27 | Última modificação: 28 Fevereiro, 2023 - 15h43

Escrito por: Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha

MPT / Divulgação
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Alojamento onde foram encontrados os trabalhadores escravizados

A nota divulgada pelo Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), no Rio Grande do Sul tem um teor altamente discriminatório com os trabalhadores e trabalhadoras, especialmente com os 207 resgatados, na última quarta-feira (22), em situação análoga à escravidão, de uma empresa terceirizada que fornecia mão de obra para as vinícolas Salton, Garibaldi e Aurora.

De acordo com a entidade, a falta de mão de obra e o benefício do Bolsa Família que paga R$ 600 por família são os maiores responsáveis pelo aliciamento dos "escravos do vinho" que foram resgatados por fiscais do trabalho.

Um trecho da nota diz: “Situações como esta, infelizmente, estão também relacionadas a um problema que há muito tempo vem sendo enfatizado e trabalhado pelo CIC-BG e Poder Público local: a falta de mão de obra e a necessidade de investir em projetos e iniciativas que permitam minimizar este grande problema”.

Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade
- Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG)

Em nenhum momento os comerciantes da cidade se solidarizaram com as vítimas, mas defenderam a “idoneidade” das vinícolas que se beneficiaram da mão de obra escrava.

Confira este outro trecho da nota do CIC-BG: “ Da mesma forma, é fundamental resguardar a idoneidade do setor vinícola, importantíssima força econômica de toda microrregião. É de entendimento comum que as vinícolas envolvidas no caso desconheciam as práticas da empresa prestadora do serviço sob investigação e jamais seriam coniventes com tal situação... A elas, o CIC-BG reforça seu apoio e coloca-se à disposição para contribuir com a busca por soluções de melhoria na contratação do trabalho temporário e terceirizado

Ou seja, para os comerciantes locais o mais importante é resguardar os nomes das empresas as isentando de toda e qualquer responsabilidade com os maus-tratos e o horror vivenciados pelos trabalhadores, aliciados com o sonho de um bom emprego, mas que ao chegarem na cidade ficaram sem salários, endividados e ainda eram impedidos de deixar o trabalho, sem pagar uma suposta dívida com o mercadinho com preços abusivos, onde eram obrigados a fazerem suas compras.

Eles contaram que trabalhavam diariamente, das 5h às 20h, com folgas somente aos sábados. Isso representa uma absurda jornada de 15 horas de trabalho. Também denunciaram que representantes da empresa ofereciam a eles comida estragada. Além disso, os patrões ameaçariam os familiares, que vivem na Bahia.

Os comerciantes de Bento Gonçalves além de não terem nenhuma empatia pelos trabalhadores ainda se abstêm de enfrentar o problema, que segundo os fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), é recorrente na região. Além de Bento Gonçalves foram vistoriadas este ano 24 propriedades rurais nas cidades de Nova Roma do Sul, Caxias do Sul, Flores da Cunha onde foram identificados 170 trabalhadores sem registro. As origens deles são, principalmente, baianos, argentinos e indígenas, alguns, inclusive, com menos de 18 anos de idade.

No final da tarde o site com a integra da nota do comércio de Bento Gonçalves, foi retirado do ar

Saiba mais  MPT pode responsabilizar vinícolas Salton, Garibaldi e Aurora por trabalho escravo

Repercussão nas redes socias

O teor da nota causou revolta nas redes sociais. O assunto ficou entre os oito assuntos mais comentados no Twitter até o início da tarde desta terça-feira (28).