Escrito por: Redação CUT

Comissão do Senado adia votação de projeto de privatização dos Correios

Senadores temem que pequenos municípios, especialmente na Região Norte, fiquem sem os serviços prestados pelos Correios, como pagamento a aposentados do INSS 

Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado adiou e ainda não marcou nova data para a votação do projeto que abre caminho para a privatização dos Correios, que ocorreria nesta terça-feira (9).

A maioria dos senadores, em especial os da Região Norte, teme o fechamento de agências em áreas remotas da Amazônia Legal, o que deixaria a população de pequenos municípios sem os serviços prestados pelos Correios, entre eles, o pagamento a aposentados e pensionistas de Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Apesar de o senador Marcio Bittar (MDB-AC), relator da proposta, ter alterado seu relatório, proibindo o fechamento de agências nos municípios que tenham menos de 15 mil habitantes, pelo prazo de 60 meses (cinco anos), após a venda dos Correios, não houve  acordo com os demais senadores.

O amazonense Eduardo Braga, líder do MDB na Casa, já demonstrou em diversas ocasiões sua desconfiança com a venda dos Correios, segundo o jornal Estadão. Apesar de o projeto aprovado pela Câmara garantir a universalização dos serviços e vedar o fechamento de agências essenciais em áreas remotas, a questão ainda causa receio entre os parlamentares.

Parece que ninguém acredita que a proposta aprovada na Câmara seja respeitada pela iniciativa privada. O projeto aprovado pelos deputados federais obriga a empresa que arrematar a estatal a manter os serviços universalizados. Mas, define que as tarifas poderão ser diferenciadas geograficamente, com base no custo do serviço, o que pode inviabilizar o uso dos Correios por milhares de brasileiros sem emprego fixo ou com renda em queda.

O governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) também afirma, mas ninguém acredita, que o atendimento integral - tanto de municípios lucrativos quanto os deficitários financeiramente - vai permitir o subsídio cruzado nas tarifas - ou seja, cobrar mais onde é lucrativo para subsidiar o preço de onde o serviço não gera lucro.

Hoje, onde o povo está, tem Correios

Presente em todos 5.570 municípios brasileiros, os Correios, além de entrega de correspondência e produtos, presta vários serviços em suas agências, como a emissão, regularização e alteração de CPF; emissão de certificado digital; entrada no seguro por acidente de trânsito (DPVAT); distribuição de kit da TV Digital e pagamento a aposentados e pensionistas do INSS.

Toda esta gama de serviços não está garantida caso a empresa passe para mãos de empresários que só visam o lucro.

“E não é apenas o aumento da tarifa postal, o prejuízo será também das pequenas empresas que utilizam os serviços dos Correios para encaminhar os produtos que vendem pela internet.

O empresário de pequeno porte, ou vai absorver o prejuízo ou vai repassar o preço e essa segunda opção é a mais provável”, alerta José Rivaldo, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect).

Processo de venda irregular

Todo o processo de privatização dos Correios é repleto de irregularidades. Até mesmo a Procuradoria Geral da República (PGR) se posicionou contra a sua venda e o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, do governo Dilma Rousseff ( PT), declarou que a venda de uma empresa que teve de lucro no ano passado R$ 1,5 bilhão , por um “valorzinho” como anunciou o governo, é crime de peculato.

O presidente da Fentect alerta ainda para o desmonte dos Correios feito pelos dois últimos governos, para que a população creia que o serviço não atende à sua necessidade.

“Não é por acaso que os Correios perderam 25% do seu quadro funcional. Em 2012 chegamos a ter 128 mil trabalhadores, hoje contamos apenas com 91.500”, diz.