Escrito por: CUT-BA
No último domingo (4) o monumento em homenagem a Ialorixá Mãe Stella de Oxóssi foi incendiado, em mais um caso de racismo religioso na Bahia. Comitê Inter-religioso do estado promoverá ato por paz e respeito
O monumento em homenagem à Ialorixá, líder religiosa, Mãe Stella de Oxóssi, localizado em Salvador, capital da Bahia, foi novamente alvo de racismo religioso. Dessa vez, um incêndio criminoso na madrugada do último domingo (4) destruiu a estátua.
Diante de mais um caso de racismo religioso, o Comitê Inter-religioso da Bahia promoverá um ato por uma cultura de paz e respeito, nesta quinta-feira (8), a partir das 9h. O encontro será na Avenida Mãe Stella de Oxóssi, local onde fica a estátua atingida. A orientação da entidade é para que os participantes do ato utilizem vestimentas na cor branca.
Entidades repudiam ataque
O ato de vandalismo, ódio e a intolerância têm vitimado o próprio direito constitucional quanto à liberdade dos que seguem as suas vocações religiosas. Trata-se de um crime bárbaro e que remete à violação dos direitos humanos, num estado que possui um legado histórico quanto às diversidades étnico-raciais e religiosas do seu povo.
Por isso, entidades e organizações populares manifestaram repúdio sobre o ato e relembraram que a última ocorrência de ataque ao patrimônio público aconteceu em 2019, quando a base da estrutura amanheceu com sinais de pichações.
A Defensoria Pública do Estado da Bahia cita: “Em pleno dia em que a cidade de Salvador celebrou sua fé, que manifestou livremente seus cortejos, seus cultos católicos e afro-brasileiros, para Santa Bárbara e Iansã, a cidade é acometida de tamanha brutalidade. Na certeza de que os órgãos de justiça e a polícia se posicionem e se pronunciem emitimos esta nota pública e nos manifestamos quanto à imprescindibilidade de investigação e punição sobre esse ato brutal.”
A Ordem dos Advogados do Brasil (Bahia) destaca: “O fenômeno religioso é parte integrante da vida em qualquer sociedade e a laicidade do Estado brasileiro se afigura na experiência republicana como o caminho de valorização do pluralismo religioso de um povo tão heterogêneo como o nosso. Entretanto, como ataque à própria democracia brasileira, no domingo, dia 04/12/2022, a estátua de Mãe Stella de Oxóssi, obra de arte composta por esculturas do orixá Oxóssi e de Mãe Stella, uma das principais ialorixás do país, que faleceu em 2018, foi incendiada. Registra-se que as esculturas já haviam sofrido depredação anteriormente, em razão de pichação e retirada da placa de identificação.”
O Setorial Inter-religioso do Partido dos Trabalhadores (PT-Salvador) também emitiu nota: “Concomitantemente, aguardamos ações dos órgãos governamentais que tenham por objetivo educar e conscientizar a população soteropolitana, que o respeito entre as religiões é um importante passo que precisa ser dado a fim de trilharmos um caminho sem ódio, mas sim permeado de paz, amor e respeito para a construção de uma sociedade livre de todas e quaisquer formas de preconceitos.”
A Central Única dos Trabalhadores (CUT-BA), repreende a violência religiosa contra homenagem à Mãe Stella de Oxóssi. Gilene Pinheiro, secretária de Combate ao Racismo da CUT-BA, entende que é preciso conscientização para evitar novos crimes de racismo religioso.
“Acreditamos que somente com a conscientização da população acerca do imenso legado que as religiosidades afro-brasileiras nos presentearam, poderemos apaziguar tais ações que, como se sabe, tem como plano de fundo a ignorância em sua forma mais bruta”. Leia a íntegra da nota da CUT-BA abaixo.
Trajetória de Mãe Stella
O terreiro de Mãe Stella, Ilê Axé Opô Afonjá, fundado em 1910 foi tombado como Patrimônio Cultural Nacional. A ialorixá ao longo da sua vida atuou na valorização da cultura ancestral tendo oportunidade em visitar inúmeros terreiros em outras nacionalidades, a exemplo, casa de orixás em Oshogbo na Nigéria. Recebeu inúmeros prêmios e com destaque para o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia, em 2009 e também pela Universidade Federal da Bahia, quando completou 70 anos de iniciação no candomblé. Escreveu dezenas de livros, membra da Academia Baiana de Letras, cuidou da sua comunidade com iniciativas educacionais como, escola, biblioteca e museu.
Íntegra da nota da CUT -Bahia
A CUT Bahia por meio da sua Secretaria de Combate ao Racismo repudia severamente os atos de violência, intolerância religiosa e racismo praticados contra um importante marco simbólico de manifestação do Candomblé nacional ocorridos no último domingo, 04/12, não por acaso, dia de celebração da Orixá Iansã, sincretizada no catolicismo sob o nome de Santa Bárbara.
Atear fogo à estátua em homenagem a Maria Stella de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxóssi, a quinta Ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, Bahia, foi um ato de extremo desrespeito não somente à pessoa de Stella, mas a todos os corações nos quais a sua lembrança vive.
Repudiamos também a escolha deliberada pela depredação do patrimônio público negro deste país através do vandalismo fundamentalista. Não são raros na Bahia os ataques aos centros da religiosidade de matriz africana, indícios do comportamento de um povo que ainda não aprendeu a respeitar a diversidade religiosa que compõe o seu país.
Esta secretaria sempre esteve e estará engajada pela promoção da paz e do ambiente democrático, o que a faz tratar como inadmissível quaisquer atos motivados pelo ódio, desrespeito e intolerância étnico-religiosa.
Acreditamos que somente com a conscientização da população acerca do imenso legado que as religiosidades afro-brasileiras nos presentearam, poderemos apaziguar tais ações que, como se sabe, tem como plano de fundo a ignorância em sua forma mais bruta.
Assim, repudiamos veementemente o comportamento que danificou a estátua de uma das mais importantes lideranças religiosas da história desse país e nos mantemos unidos, em apoio a todas as Casas de Santo que, com muito amor, resistem ao ódio e à intolerância.
Gilene Pinheiro
Secretaria de Combate ao Racismo - CUT Bahia