Escrito por: Luiz Carvalho

Comitês pela democracia estão em mais de 80 universidades

Grupos reúnem estudantes, docentes e servidores contra o golpe

Paulo Pinto
Ato em dezembro de 2015 contra o golpe, na Avenida Paulista


A manhã desta quinta-feira (7) foi mais uma de mobilização na Universidade de Pernambuco. Desta vez, para o lançamento da “UPE em Defesa da Democracia”, um dos mais de 80 comitês que se espalham pelas universidades do país e reúnem alunos, docentes e servidores.

A lista completa por estado foi reunida no portal Universidade pela Democracia. Na página também é possível indicar um grupo que ainda não esteja indicado na plataforma.

Responsável pela coordenação do espaço, a estudante Yasmin Melo explica que a ideia é ser uma referência para elaboração de estratégias na conscientização de alunos para a importância da luta em defesa do Estado democrático.

“Para nós foi mais fácil porque a universidade está entre as primeiras a lançar uma nota pela democracia. Agora, vamos nos reunir mais para fazer panfletagens, dialogar com as pessoas e organizar debates. A maior parte dos estudantes ainda não tem lado ou não se posicionou nessa discussão”, explica.

Professora de História da Educação e diretora da escola normal superior da Universidade do Amazonas, Eglê Wanzeler, acredita que a ação da Academia, justamente por ser mais próxima dos alunos e servidores, tende a ter mais resultado, apesar de também lidar com o silêncio.

“Eu vejo mais o silêncio, que diz muita coisa. Tem a ver com medo, omissão, não querer se comprometer e medo de ir ao enfrentamento. Porém, está crescendo o apoio à democracia, as pessoas estão se envolvendo, alguns professores ingressaram no comitê e vamos fazer aulas públicas para ampliar esse debate”, diz.

Mackenzie e USP contra o golpe

No dia 23 de março, estudantes do Mackenzie, ainda que contra a vontade da direção, promoveram um ato na rua da universidade, a Maria Antônia. Uma manifestação que remeteu a outubro de 1968, quando estudantes da instituição (alinhada à direita) e da USP (à esquerda) entraram em um confronto que resultou na morte de um estudante.

Conforme destaca Mateus Weber, estudante de Direito do Mackenzie e diretor de Comunicação da UNE (União Nacional dos Estudantes), os estudantes estão receptivos à manifestação contra o golpe.

“Engana-se quem pensa que a juventude não quer participar ou que somos apolíticos. A juventude não tem é participado das manifestações da direita, vide o próprio Mackenzie, onde nosso ato contra o golpe reuniu 500 estudantes e o a favor do impeachment 100”, falou.

Para o estudante de Direito da USP, Gabriel Beré, os comitês são resultado direto de uma discussão que toma as universidades e não pode ser cerceada pelas direções.

“Em dezembro chamamos um diálogo com professores e trabalhadores para chamar reuniões abertas e discutir a conjuntura brasileira e o golpe está em curso. Essas reuniões tiveram um público bem grande, com professores importantes, e foi a partir daí que demos início aos comitês. Há cursos em que o repúdio ao impeachment é maior, como filosofia, Direito. Em outros é menor, como na Politécnica, com a presença mais organizada de conservadores. Mas a discussão está totalmente incorporada ao cotidiano da Academia”, define.