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Conjuntura agrária é tema de debate em Brasília

Carmen Foro representou a CUT em encontro que reuniu especialistas de todo o país

Publicado: 05 Outubro, 2017 - 18h51 | Última modificação: 08 Outubro, 2017 - 14h23

Escrito por: Luciana Waclawovsky

Luciana Waclawovsky/CUT
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O seminário sobre conjuntura agrária e perspectivas, organizado pela Associação Brasileira de Reforma Agrária/ABRA, que aconteceu na manhã desta quinta-feira (05) em Brasília/DF, começou com uma emocionante homenagem ao incansável lutador pela reforma agrária Osvaldo Russo, falecido em março deste ano na Capital Federal.

A abertura da atividade contou com a participação da vice-presidenta da CUT Nacional Carmen Foro e do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto/MTST e da frente Povo Sem Medo, Guilherme Boulos, que iniciaram os debates do encontro fazendo uma análise de conjuntura da atual situação em que o país se encontra.

Tanto do ponto de vista da questão agrária e dos movimentos sociais do campo, quanto da classe trabalhadora e dos movimentos urbanos, o aumento da violência – física e institucional – com a retirada de direitos conquistados, que aconteceram a partir do golpe de Estado que tomou de assalto a Presidência da República em maio de 2016, a conclusão é a mesma: a ruptura democrática surrupiou os avanços que o país alcançou na última década.

Bastante emocionada com as vidas que foram arrancadas por conta da violência no campo, especialmente no Pará, Estado de origem de Carmen, a dirigente cutista lembrou aos participantes que os assassinatos de trabalhadores rurais aumentaram significativamente no último ano, conseqüência das disputas por terra promovidas especialmente pela nova gestão, que promove políticas voltadas ao agronegócio. “Eu, como cabocla da Amazônia, não sei mais contar quantos velórios aconteceram nesse último período. Tem sido muito difícil. Um dia você está com os companheiros de luta numa reunião e, na próxima semana, a morte deles vira manchete de jornal e, em menos de sete dias, já virou notícia velha”, lamentou.

Para ela, os retrocessos não são apenas de direitos, mas civilizatórios. “E nesse contexto todo, como que o povo do campo vive e resiste a essas pressões?”, questionou. “O papel da agricultura familiar, que vinha sendo protagonista nas políticas sociais e ajudou a tirar o país do mapa da fome, agora tem seu orçamento cortado em quase 100%. O agronegócio voltou a ser o centro das políticas desse governo ilegítimo e a fome está rondando novamente nossa população”, ressaltou.

Em sua apresentação, Guilherme Boulos fez uma análise sobre as retiradas de direitos inéditos, que foram pactuados ao longo de décadas. Segundo ele, o campo de derrotas pelo qual a sociedade, especialmente a classe trabalhadora, atravessa, é uma resposta do capital à crise econômica e financeira mundial. Boulos sugere que existem três desafios para o campo popular: a unidade das esquerdas, retomar a capacidade de mobilização e repensar programaticamente qual transição para a crise política que está instalada.

“Nesse momento o que está em jogo é um debate diante de um sistema político falido, de instituições que não conseguem resolver mais nada, de uma crise de hegemonia – aliás, comparável á crise que teve a ditadura militar. E agora, como nós vamos fazer essa transição? Esse sistema político que temos hoje ruiu!”, avaliou Boulos.

Carmen Foro destacou, ainda, que a crise econômica de 2008 só foi vencida, principalmente, por conta da soberania alimentar que o Brasil possuía em razão do fortalecimento da agricultura familiar, e por isso não precisou recorrer à importação de alimentos, como ocorreu em outros países da América Latina.

Hoje, segundo a dirigente, a concentração dos conflitos agrários estão na região da Amazônia, que reúne as maiores riquezas naturais do país: água, terra, floresta e minérios. “Diante deste contexto o caminho é parirmos nas ruas e nas urnas uma nova possibilidade democrática”, defendeu e ressaltou: “sem democracia não é possível que nós possamos avançar em qualquer ponto hoje. Ela é central para qualquer processo.”

Carmen enfatizou que a CUT segue sua mobilização contra a reforma da previdência e colocou nas ruas campanha nacional para revogar a reforma trabalhista. “A resistência precisa continuar de pé!”, finalizou.