Escrito por: Redação CUT

Conta de luz no Texas chega a R$ 90 mil. O Brasil será os EUA amanhã? Entenda

Contas de luz no Texas chegam a alcançar valores de até R$ 90 mil depois do apagão. Valores das contas também subiram no Amapá que ficou no escuro durante 22 dias

Agência Brasil

Uma forte nevasca com temperaturas abaixo de 18ºC no estado norte-americano do Texas, deixou pelo menos 70 mortos e 4 milhões de pessoas sem energia elétrica, na semana passada. Apesar do apagão, as contas de luz não pararam de chegar e os altos valores estão assustando os consumidores dos Estados Unidos do mesmo jeito que revoltaram os brasileiros quando um apagão deixou o Amapá escuro durante 22 dias.  

O Texas e o Amapá têm em comum a privatização da energia elétrica que, como todos sabem, contribui para aumentar os preços dos serviços prestados à população.

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Segundo o jornal The New York Times, um morador de Dallas, pagou uma conta de US$ 16 mil (cerca de R$ 88 mil) por apenas alguns dias de uso. Outra moradora da cidade de Denison, disse à Associated Press, que recebeu uma cobrança de US$ 1.300 (R$ 7.100) apenas pelas duas primeiras semanas de fevereiro. A mudança não afetou clientes que contrataram planos de tarifa fixa. Já aqueles que adotaram tarifas variáveis - normalmente mais baratas no curto prazo, quando as condições climáticas estão estáveis— foram duramente atingidos pelo aumento.

Analistas do setor energético dizem que o problema está na privatização que ocorreu no Texas em 2000. Durante a maior parte do século 20, a energia do Texas foi regulamentada como um serviço público. Mas, após a desregulamentação, cujos idealizadores diziam que iria baratear os custos, assim como dizem no Brasil os defensores da privatização da Eletrobras, o resultado foi apagão e contas mais altas justamente na hora em que a população mais precisou, como foi o caso da nevasca.

Os analistas também dizem que os responsáveis pelo sistema do Texas não fizeram a atualização e a manutenção necessária porque investir em capacidade de backup ou um sistema de distribuição robusto teria corroído os lucros (e as regras de preços tornam arriscado investir em capacidade extra).

Embora a rede a distribuição no Texas seja feita por energia elétrica, eólica, gás e até usinas nuclear, “ a rede ERCOT entrou em colapso  por  subinvestimento e negligência, até que finalmente quebrou em circunstâncias previsíveis”, disse o analista de energia Ed Hirs ao jornal Houston Chronicle.

Mas e o Brasil?

Embora o valor de R$ 90 mil numa conta de luz de um único consumidor residencial seja impensável para o Brasil, no estado do Amapá os valores altíssimos impossibilitam que a população pague a conta. Os moradores relatam que as contas ultrapassam os mil reais, praticamente um salário mínimo (R$ 1.100,00).

Ao contrário do Texas que teve uma nevasca, a desculpa para o alto valor, segundo disse à Folha de São Paulo, o ex-diretor de gestão Eletronorte, Lourival Freitas, é o calor no Amapá, que em média beira a 34º graus, faz com que as pessoas consumam mais energia com o uso de ar condicionado.

O que os defensores da privatização não dizem é que no Amapá, a energia elétrica, assim como no Texas, foi privatizada. O resultado foi um apagão que durou 22 dias. Em novembro do ano passado, a subestação de Macapá (AP), com menos de 10 anos de concessão sob controle privado , explodiu, incendiou e colapsou, deixando 700 mil pessoas no escuro, além de provocar estragos nos alimentos nas casas dos moradores e comércios.

A empresa privada pertence a uma sociedade empresarial chamada de “Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE)”, controlada pelo capital financeiro internacional. Mas quem precisou consertar o estrago foram os trabalhadores da Eletrobras, estatal que está na mira de privatização de Jair Bolsonaro (ex-PSL). 40 dias após o conserto, esses trabalhadores foram demitidos.

Leia mais: Apagão no Amapá é culpa de empresa privada, mas conserto é feito pela Eletrobras. 

Leia Mais : Técnicos que reverteram apagão no Amapá são demitidos da Eletronorte 40 dias depois   

Caso a privatização da Eletrobras se concretize vai prejudicar 99,7% da população brasileira que é consumidora de energia elétrica. A projeção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é de que as contas de luz subam, de imediato, entre 16% a 17% em todo o território nacional.

Na série de reportagens e Eu com Isso? do Portal CUT, listamos uma série de argumentos para que a Eletrobras não seja privatizada. Por isso que é importante a defesa das empresas públicas, para que os brasileiros não paguem um alto preço pelo fim da prestação de um serviço de melhor qualidade e que é de todos nós.

 

Alex Capuano

Texto Rosely Rocha, edição Marize Muniz, com informações da FNU e Folha de São Paulo