Escrito por: Tiago Pereira, da RBA
Para a categoria, demissões “políticas” dos que participaram da última paralisação representam retaliação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que quer enfraquecer a luta contra as privatizações
Em assembleia na sede do Sindicato dos Metroviários de São Paulo na noite desta quarta-feira (25), a categoria deve decidir pela convocação de uma nova greve na semana que vem, em protesto contra os trabalhadores demitidos. Em votação, a aprovação de estado de greve para a realização de uma nova paralisação na próxima terça-feira (31), antecedida de uma nova assembleia na véspera. O resultado deve ser divulgado por volta das 23h de segunda-feira.
Ontem, o Metrô anunciou a demissão de cinco trabalhadores – e a suspensão de outros quatro – que participaram da paralisação no último dia 12. Esta, por sua vez, ocorreu como reação a uma série de advertências a trabalhadores que participaram da greve unificada contra as privatizações no último dia 3.
Para os metroviários, trata-se de uma retaliação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), com o objetivo de “amedrontar” a categoria. O sindicato prepara recursos jurídicos para tentar reverter as demissões. Mas também aposta na mobilização para barrar as demissões, inclusive com uma nova greve unificada contra as privatizações. Além disso, a presidenta do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, também anunciou uma reunião com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, no próximo dia 6.
Professores devem aderir ao movimento
“Tivemos hoje uma reunião com os sindicatos da CPTM e da Sabesp e avançamos. Consolidamos a possibilidade de fazer uma nova greve unificada, como uma resposta ainda maior do que foi o dia 3. O governador Tarcísio acha que vai bater na nossa cabeça, mas ele está conseguindo um feito em São Paulo. O maior sindicato da América Latina, que é a Apeoesp, vai se somar a essa luta unificada”.
Nesse sentido, Camila anunciou que deve se reunir amanhã com representantes do sindicato que representa os professores da rede estadual. A categoria vem se mobilizando depois que Tarcísio enviou ao Legislativo um projeto cortando R$ 9 bilhões na Educação, reduzindo de 30% para 25% o investimento mínimo na área.
Para Camila, a greve do dia 3 serviu para “escancarar” as privatizações que Tarcísio pretendia fazê-las de maneira silenciosa. Além disso, serviu para “desmascarar” o discurso do governador, que alegava se tratar apenas de estudos sobre a venda do Metrô, da CPTM e da Sabesp.
Metroviários demitidos recebem apoio
Durante a assembleia, representantes sindicais de diversas categorias, parlamentares e estudantes manifestaram apoio aos trabalhadores demitidos. “Um ataque a um metroviário também é um ataque contra os sabespianos”, afirmou Anderson Guahy, diretor de imprensa e comunicação do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).
Do mesmo modo, a codeputada Sirlene Maciel, da Bancada Feminista (Psol) classificou como “um absurdo” as demissões dos metroviários por causa da participação na greve. “Trata-se de um processo de assédio à categoria, de retaliação à greve que foi feita. Estamos diante de um governo de extrema direita, por isso é necessário a máxima unidade para poder derrotá-lo”.
Flávia Bischain, coordenadora da Subsede Oeste Lapa da Apeoesp, também classificou a demissão dos metroviários como um ataque a todos os sindicatos. “Essa atitude autoritária do governo Tarcísio é uma ameaça ao direito de organização sindical. É para tentar calar a boca de todos os lutadores. Temos que transformar isso num tiro no pé do governador. Não vamos retroceder nenhum milímetro na luta contra a privatização da Sabesp, da CPTM e do Metrô”.
Demitidos apostam na reintegração
Priscila, operadora de trem da linha 2-Verde, uma das demitidas por participar da greve dos metroviários, agradeceu a solidariedade da categoria e os apoios externos. “As demissões que ocorrem ontem, além de ser uma resposta, uma retaliação do governo e do Metrô, à greve que a gente fez no dia 3, para tentar amedrontar a categoria, são demissões mentirosas. A demissão que eu recebi é mentirosa, tem inverdades que o Metrô colocou. Tenho prova e testemunha de tudo o que aconteceu na mobilização do dia 12. Tenho certeza que a gente vai conseguir reverter todas as demissões”.
Operador da linha 2-verde, Daniel, que também foi demitido, ressaltou que a a paralisação do dia 12 ocorreu justamente em solidariedade aos colegas que foram alvo de punições, e defendeu nova greve na semana que vem. “Não adianta votar o indicativo e não construir a greve à altura do que o ataque nos obriga a fazer. É possível sim fazer uma forte greve na terça feira”.
Outro que consta na lista de cortes é Altino Prazeres, ex-presidente do Metroviários. Ele também aposta na unidade dos trabalhadores para não apenas reverter as demissões, como também barrar as privatizações. “Vamos nos unificar com CPTM, Sabesp, Apeoesp. E espero que outras categorias se somem, para a gente fazer uma importante greve na cidade de São Paulo”.