Escrito por: Érica Aragão

Contra os impactos de grandes projetos na Amazônia, CUT fará seminário no Pará

A Central e a organização popular local para defesa da vida de Oriximiná terão apoio internacional para a atividade que pretende unir forças para enfrentar as grandes obras na região

Carlos Penteado/arquivo Comissão Pró-Índio
Comunidade quilombola às margens do Rio Trombetas, Oriximiná, Pará

Contra os impactos das grandes obras no coração da Amazônia, a CUT e a Comissão de Atingidos por Barragens do Trombetas (CABT) – organização popular local para defesa da vida – farão em Oriximiná, no Oeste do Pará, o 1° Seminário dos Povos das Águas e das Florestas da Margem Esquerda do Baixo Amazonas nos dias 23 e 24 de setembro.

Com apoio da Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO), o seminário tem como objetivo rearticular, mobilizar e construir alianças com os povos e organizações sociais, sindicais e da igreja para fortalecimento das lutas na região frente aos grandes projetos de infraestrutura, que afetam profundamente o modo de vida de comunidades quilombolas, indígenas, extrativistas e ribeirinhos, além de pescadores, planaltinos e agricultores familiares.

Serão analisados e debatidos durante o seminário o contexto histórico e atual dos grandes projetos na margem Esquerda do Baixo Amazonas e os respectivos impactos sociais, econômicos, ambientais, culturais e dos direitos humanos; assim como os impactos que a barragem de Cachoeira Porteira vai provocar na vida na população local.

Além disso, o seminário vai promover diálogo coletivo que afirme alternativas de modelo sustentável de desenvolvimento para região e construir com os movimentos sociais uma agenda de lutas e debates, explica a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, que é agricultora familiar e paraense.

“A atual conjuntura expressa à necessidade de uma forte articulação das populações locais, estadual, nacional e internacional para fazer enfrentamento às grandes obras que acontecem no Amazônia, em especial a construção da Usina Hidrelétrica de Cachoeira Porteira, que fica no mesmo município da atividade”.

Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, o governo federal pretende  construir cerca de 40 hidrelétricas na região. A principal delas é a prevista para ser construída em Cachoeira Porteira, na Região Oeste do Pará. Governos anteriores vêm tentando construir esta hidrelétrica desde a década de 1980, mas a resistência e luta da CABT, que é composta por diversas entidades dos diferentes setores organizativos, junto com os movimentos sociais coordenados pela igreja Católica de Oriximiná, conseguiu paralisar por todos esses anos o Plano Nacional Energético do Brasil para a região do Baixo Amazonas.

O governo de Jair Bolsonaro (PSL) está retomando essa agenda e as ameaças voltaram a rondar a população da Região. Por isso, a CABT, a CUT, com apoio da AFL-CIO, organizaram o seminário para envolver toda a comunidade local no debate sobre os impactos que a construção da Usina Hidrelétrica de Cachoeira Porteira em Oriximiná trará, principalmente para essa região conhecida com Baixo Amazonas, e também discutir estratégias de enfrentamento coletivo que podem ser inclusive, propondo formas de desenvolvimento sustentável, com justiça e inclusão social na Região.  

“A CUT tem representação nesta região que envolve mais de dez municípios que estarão no seminário porque nós entendemos que só é possível enfrentar estas questões com a população local. Temos que ter uma articulação que leve em conta à diversidade que nós somos e de pessoas que serão atingidas por estas grandes obras”, destacou a vice-presidenta da Central.

Para o ambientalista, pesquisador e presidente da Sociedade para a Pesquisa e Proteção do Meio Ambiente (Sapopema), Antonio José Mota Bentes, a Região Oeste do Pará é a bola da vez. Segundo ele, na medida em que os recursos vão se esgotando em algumas regiões, as frentes vão se deslocando para outras. “E aqui é foco dessa disputa de atores a partir desses recursos”.

 “A política e a lógica de desenvolvimento do Estado obedecem a essa lógica dos grandes negócios. As comunidades tradicionais, os povos indígenas e quilombolas, esse pessoal fica no final da fila na política de desenvolvimento do governo. É hoje e foi assim historicamente”.

Carmen disse que a atividade foi pensada exatamente para trazer estas populações para serem ouvidas porque os grandes projetos na Amazônia continuam em curso, mas desta vez sem nenhum espaço de diálogo com a sociedade e um Congresso Nacional formado por maioria parlamentar neoliberal que defende mais flexibilização da legislação ambiental.

“Para além dos grandes projetos, as queimadas que acontecem nas florestas brasileiras neste momento mostram a necessidade urgente de empoderar a população local, os trabalhadores e trabalhadoras e pautar na agenda do país outro modelo de desenvolvimento para a região, que não seja esse”, afirma a vice-presidenta da CUT.

“Este modelo em curso é predatório e economicamente faz com que sejamos uma população com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que tenhamos cidades com muitos problemas de infraestrutura, com poucas políticas publicas e uma situação em que temos muita exploração de riqueza, mas com riqueza pouco distribuída”, disse Carmen Foro.

A gente precisa de um desenvolvimento sustentável, que não destrua vidas e nem direitos. Isso só será possível com a união dos povos. E é neste sentido que estamos caminhando.- Carmen Foro