Escrito por: Redação CUT
“Democracia diz respeito a direitos trabalhistas”, ressaltou o secretário do meio ambiente da CUT, Daniel Gaio, se referindo aos empregos precários da indústria de energia limpa
Na manhã desta sexta-feira (6), no espaço Brazil Climate Hub, o debate organizado pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS), dentro das atividades da 25ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019 (COP-25), foi sobre a relação entre democracia e recursos naturais, e também sobre a importância do Fórum Popular da Natureza, que realizará um encontro nos dias 19, 20, 21 e 22 de março de 2020.
O secretário de Meio Ambiente da CUT Brasil, Daniel Gaio, fez uma fala relacionando a democracia aos direitos trabalhistas, nem sempre uma prioridade da indústria de energia limpa que raramente promove empregos com garantias, pelo contrário, amplia a precarização do mercado de trabalho, afirmou.
“Democracia diz respeito a direitos trabalhistas”, ressaltou Daniel.
“São empregos terceirizados, quarteirizados, muitas vezes nem conseguimos saber quem são esses trabalhadores que, naturalmente, também não podem se organizar. Este é um ponto que precisamos ficar atentos, porque uma empresa que produz energia limpa nessas condições não é exatamente o modelo de equilíbrio que nós buscamos”, disse Daniel se referindo a indústria de energia limpa.
Athayde Motta, diretor-executivo do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), destacou a necessidade de conexão entre todos os direitos argumentando que democracia pressupõe a inclusão social.
“Democracia exige inclusão. No Ibase há algum tempo não conseguimos mais preparar uma atividade sem pensar em qual mulher, qual pessoa negra vai compor a mesa. Isso já é natural para nós. Garantir a voz da maior quantidade possível de atores é essencial para se discutir qualquer coisa, inclusive meio ambiente”, disse.
Gaio concordou e ressaltou que o campo sindical vem cada vez mais se abrindo para compreender e destacar a relação entre as questões ambientais com os direitos da classe trabalhadora.
“O meio ambiente chega no movimento sindical via Chico Mendes os trabalhadores começaram a entender mais qual a relação entre saúde, meio ambiente e trabalho. Mas, ainda há muito diálogo a ser construído”, reconhece o secretário da CUT Brasil.
O debate também abordou o interesse de atores internacionais nos recursos naturais brasileiros, como petróleo e água.
“Petróleo, água e território estão na mira dos interesses de um capital que conhece seus limites. A América Latina e também a África possuem uma riqueza natural importantíssima, e este é um fator que interfere diretamente nas políticas locais. Não foi à toa que logo após o impeachment de uma presidenta que não havia cometido crime algum, Michel Temer abriu a chance de o capital estrangeiro comprar terras brasileiras”, afirmou Agnes Franco, da Frente Ampla Democrática Socioambiental (FADS), defendendo a ideia de que os golpes latino-americanos, como o que destituiu a presidente Dilma Rousseff em 2016, aconteceram impulsionados pelos interesses nos recursos naturais.
Sobre o Fórum Popular da Natureza
Agnes Franco, da FADS e membro da Comissão Executiva do Fórum Popular da Natureza, do qual a CUT Brasil também faz parte, explicou que o Fórum é um processo de construção permanente e que o evento de março do ano que vem não deve ser considerado um fim, mas, um meio. “As manhãs terão mesas grandes de debates que serão realizadas na quadra do Sindicato dos Bancários, e a parte da tarde será reservada para oficinas autogestionadas que as pessoas físicas e jurídicas poderão inscrever”.
“Tudo acontecerá nas ocupações, sedes de sindicatos e outros espaços de apoiadores do Fórum existentes no centro de São Paulo”, esclareceu Agnes, que disse ainda que o grande objetivo do encontro de março é tirar uma agenda de lutas comum para movimentos sociais e populares, e uma carta com 20 pontos de princípios ou metas acordadas pelos movimentos.
Para Daniel Gaio, secretário de Meio Ambiente da CUT-Brasil, o Fórum é um espaço estratégico para articulação com os movimentos e para criar novas estratégias de resistência e proposições: "Não creio que a resposta às crises climáticas venha dos governos, mas, da sociedade civil organizada que pode influenciar na governança".