Escrito por: Redação CUT

Corregedor do TCU pede apuração da PF sobre dados falsos mencionados por Bolsonaro

Informações constam em documento editado por servidor que inseriu conteúdo incorreto no sistema do tribunal

Fábio Rodrigues Pozzebom / Fotos Públicas

O ministro-corregedor do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, assinou um despacho nesta quarta-feira (9) solicitando apuração da Polícia Federal (PF) sobre documento com informações falsas que foi incluído no sistema da instituição e que tem sido utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como fonte para citar dados errados a respeito da pandemia no Brasil. A informação foi publicada pelo jornal "Folha de S. Paulo".

O material, produzido por um servidor que confessou a elaboração do documento, foi postado no sistema no ultimo domingo (6) e traz dados que subestimam os estragos da crise sanitária, insinuando que parte das mortes causadas pelo novo coronavírus em 2020 não teria sido motivada de fato pela doença.

A questão veio à tona na ultima segunda-feira (7), quando Bolsonaro afirmou à imprensa que “50% dos óbitos por covid não foram por covid”. Na ocasião, o presidente citou o TCU como fonte, tendo sido desmentido horas depois. Em manifestação pública feita pelo tribunal, a instituição disse, em nota, não ter produzido relatório que questione a estatística de óbitos por covid.

O servidor em questão é o auditor Alexandre Figueiredo Costa e Silva Marques, cujo afastamento também é solicitado no despacho assinado por Bruno Dantas nesta quarta (9). O ministro-corregedor pede ainda que ele seja alvo de um processo administrativo disciplinar (PAD) por conta do ocorrido.

A definição dos pedidos feitos por Dantas fica a cargo da presidenta do TCU, Ana Arraes. A instituição tem dito, nos últimos dias, que o documento que está no centro da discussão se trata de uma avaliação pessoal do auditor.

 Auditor responsável foi afastado dos trabalhos

Costa e Silva integrava o grupo que investiga atos formais de gestores públicos relacionados ao enfrentamento da pandemia, mas foi retirado da equipe por conta do ocorrido.

Segundo divulgou o jornal "Folha de S.Paulo", as primeiras informações que chegaram à corregedoria do TCU apontam que o servidor teria compartilhado o conteúdo do documento com o pai, que é militar e amigo de Bolsonaro.

Esse teria sido o caminho pelo qual as informações chegaram ao presidente da República, oportunizando a manifestação feita por ele à imprensa na última segunda-feira.

A proximidade entre as duas famílias chegou a motivar, em 2019, a indicação de Costa e Silva para ocupar um cargo no BNDES. A ideia acabou sendo interditada na época pelo próprio TCU, que alegou conflito de interesse. O banco está entre as entidades que são acompanhadas e fiscalizadas pelas equipes do tribunal.

Segundo apuração do portal "Metrópoles", o pai de Costa e Silva, Ricardo Silva Marques, é coronel do Exército e chegou a ser nomeado como gerente-executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras em 2019. O site afirma que ele já teria se reunido pelo menos três vezes com o presidente Bolsonaro. 

O imbróglio envolvendo presidente, o auditor e o TCU foi parar também na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. O presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou ao blog do jornalista Valdo Cuz, do G1, que Costa e Silva pode ser a “chave” para apontar “a atuação da família Bolsonaro contra as ações de enfrentamento à pandemia”. Aziz disse que a CPI irá convocá-lo e pedirá a quebra dos sigilos telefônico e telemático do auditor.

Edição: Vinícius Segalla