MENU

Covardia: vereadores da base aliada de Melo aprovam fim da Carris pública

Por 23 votos favoráveis e 13 contrários, vereadores de Porto Alegre votam contra os interesses dos trabalhadores e do município

Publicado: 09 Setembro, 2021 - 11h42 | Última modificação: 09 Setembro, 2021 - 13h27

Escrito por: CUT-RS

Elson Sempé Pedroso/CMPA.
notice

Apesar da resistência dos trabalhadores, os vereadores da base aliada do prefeito Sebastião Melo (MDB) aprovaram, na calada da noite desta quarta-feira (8), o projeto de lei do Executivo que permite a privatização da Companhia Carris Porto-Alegrense por 23 votos favoráveis e 13 contrários. Não houve ausências nem abstenções.

Votaram contra as bancadas do PT, Psol, PCdoB, PDT e PSB. Agora, a matéria segue para a redação final e, depois, para a sanção do prefeito, que repete a mesma política vergonhosa de entrega de estatais e retirada de direitos dos servidores do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) e do governador Eduardo Leite (PSDB).

O projeto aprovado é “um cheque em branco” para o prefeito, segundo os vereadores de oposição. Pela proposta, a prefeitura fica autorizada a "alienar ou transferir, total ou parcialmente, a sociedade, os seus ativos, a participação societária, direta ou indireta, inclusive o controle acionário, transformar, fundir, cindir, incorporar, liquidar, dissolver, extinguir ou desativar, parcial ou totalmente" a Carris.

Todas as oito emendas apresentadas pela oposição foram rejeitadas. Entre as propostas estavam o adiamento da tramitação do projeto, a realização de um plebiscito para ouvir a população, a transferência da gestão da Carris para cooperativa de trabalhadores e a prorrogação do início de vigência da lei.

Trabalhadores impedidos de ocupar as galerias

A sessão, que começou às 15h, foi acompanhada por protestos de funcionários do lado de fora da Câmara Municipal. Os trabalhadores usavam máscaras pretas em sinal de luto pela possibilidade de fim da estatal, fundada ainda no tempo do Império, em junho de 1872, que presta os melhores serviços de transporte na capital gaúcha. 

A votação ocorreu com as galerias do plenário da Câmara praticamente vazias. Somente 30 senhas foram distribuídas para quem quisesse acompanhar a sessão, que terminou às 22h30, o que foi muito criticado pelos vereadores de oposição. 

Foi o segundo projeto aprovado que ataca os rodoviários e a população de Porto Alegre. No último dia 1º passou com os votos da mesma base aliada do prefeito a extinção gradual dos cobradores de ônibus até 2026, o que jogará mais de 3 mil trabalhadores e trabalhadores no olho da rua, aumentando o desemprego na cidade.

Privatização vai aumentar desemprego e não vai baratear passagem

O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, destacou a luta dos trabalhadores da Carris e criticou a aprovação do projeto do prefeito. “É muita covardia. Mais uma vez, os vereadores aliados do prefeito se curvaram aos interesses dos empresários de ônibus, que querem aumentar ainda mais os seus lucros e não aceitam a presença de uma empresa pública no transporte coletivo da cidade". 

Para o dirigente sindical, “o projeto aprovado não vai baratear a passagem, mas vai atirar milhares de mães e pais de família no desemprego, piorando a vida da classe trabalhadora e o atendimento da população”.

“Ainda resta a luta na Justiça para tentar barrar a entrega da Carris e defender o patrimônio público”, concluiu Amarildo, convocando os trabalhadores e a população a participar do Plebiscito Popular sobre as privatizações no RS, que será realizado no período de 16 a 23 de outubro.

Vereadores de oposição criticam falta de diálogo do prefeito 

Ao longo da sessão, os parlamentares da oposição se revezaram quase exclusivamente na tribuna para criticar o projeto. Entre a base aliada do governo, poucos se dispuseram a discursar em defesa da privatização. “Apareçam, tenham coragem!”, provocou o vereador Jonas Reis (PT).
Na época da campanha, disse Jonas, muitos candidatos foram pedir votos na empresa. “Na eleição, eles são bonitos em pele de cordeiro e foram na Carris pedir voto para derrotar o ‘comunismo’ da Manuela (candidata à prefeita em 2018)”, afirmou. 

Para o vereador Roberto Robaina (Psol), "infelizmente a aprovação deste projeto vai ampliar o desemprego em Porto Alegre. O sistema de transporte vai piorar e vai gerar insegurança e uma situação de instabilidade na Carris. Além disso, a passagem não vai reduzir”. Segundo ele, “a Câmara  dos Vereadores está curvada para os interesses do governo municipal, que ganhou um cheque em branco e não sabe o que fazer com ele".

O vereador Matheus Gomes (PSOL) criticou o pequeno acesso às galerias e lembrou que os trabalhadores da Carris estiveram expostos ao coronavírus durante toda a pandemia. “O único lugar que não pode estar aberto é a Câmara, logo com os rodoviários. É a Câmara fechada votando retirada de direitos”, afirmou.

“Estamos enfrentando um projeto que não teve diálogo”, lamentou Daiana Santos (PCdoB). A vereadora destacou que, durante a pandemia, a Carris teve que assumir algumas linhas de ônibus que foram interrompidas por empresas privadas. “Como teria sido o atendimento da população?”, questionou.
Daiana se disse consternada com a falta de respeito com os trabalhadores da Carris, que arriscaram sua vida ao longo da crise sanitária. “Foram os últimos a serem vacinados, não estiveram na prioridade durante a pior crise sanitária, e agora são atacados.”

Ao lamentar a privatização da Carris, Airton Ferronato (PSB) destacou que os problemas financeiros usados como justificativa para vendê-la também acometem as empresas privadas de transporte público. Para ele, o problema é de gestão. “Acredito que empresas públicas bem geridas prestam serviço importante à sociedade”, ponderou.

Veja como votou cada vereador

A favor da privatização da Carris

Alexandre Bobadra (PSL)
Alvoni Medina (REP)
Cassiá Carpes (PP)
Cláudia Araújo (PSD)
Claudio Janta (SD)
Comandante Nádia (DEM)
Felipe Camozzato (NOVO)
Fernanda Barth (PRTB)
Gilson Padeiro (PSDB)
Giovane Byl (PTB)
Hamilton Sossmeler (PTB)
Idenir Cecchim (MDB)
Jessé Sangalli (Cidadania)
José Freitas (REP)
Lourdes Sprenger (MDB)
Mari Pimentel (NOVO)
Mauro Pinheiro (PL)
Moisés Barboza (PSDB)
Mônica Leal (PP)
Pablo Melo (MDB)
Professor Franzen (PSDB)
Psic. Tanise Sabino (PTB)
Ramiro Rosário (PSDB)

Contra a privatização da Carris

Airto Ferronato (PSB)
Aldacir Oliboni (PT)
Bruna Rodrigues (PCdoB)
Daiana Santos (PCdoB)
Jonas Reis (PT)
Karen Santos (PSOL)
Laura Sito (PT)
Leonel Radde (PT)
Márcio Bins Ely (PDT)
Matheus Gomes (PSOL)
Mauro Zacher (PDT)
Pedro Ruas (PSOL)
Roberto Robaina (PSOL)