Covas não negocia e servidores municipais de SP prometem aumentar a greve
Com serviços paralisados há 16 dias, servidores públicos municipais de São Paulo aprovam, por unanimidade, a continuação da greve, ao menos até que o prefeito Bruno Covas resolva conversar e negociar
Publicado: 19 Fevereiro, 2019 - 18h40 | Última modificação: 19 Fevereiro, 2019 - 18h52
Escrito por: Andre Accarini
Pelo menos 80 mil servidores públicos municipais lotaram as proximidades da sede Prefeitura Municipal de São Paulo, no centro da capital paulista, para participar de uma assembleia para definir os rumos da greve iniciada no dia 4 de fevereiro, contra as mudanças nos sistema previdenciário da categoria.
A lei encaminhada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) à Câmara dos Vereadores e aprovada as vésperas do Natal, aumentou de 11% para 14% o percentual que os trabalhadores e trabalhadoras terão de contribuir mensalmente para se aposentar, impôs o teto de benefícios igual ao do INSS (R$ 5,8 mil) e criou o Sampaprev, um plano de previdência individual semelhante ao de capitalização. Quem quiser ganhar mais que o teto terá de contribuir com mais 7,5%.
O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de São Paulo (Sindisep), Sérgio Antiquera, diz que os trabalhadores aderiram em massa ao movimento porque a grande maioria ganha em torno de R$ 2.500 reais mensais, e um reajuste assim no contribuição mensal compromete o já tão desfasado salário.
Os trabalhadores também reivindicam um reajuste de 10% e valorização tanto do serviço público, como dos próprios servidores, caso dos assistentes sociais, que de acordo com o dirigente, é um dos setores que mais se mobilizaram.
João Batista Gomes, secretário de Mobilização da CUT São Paulo e dirigente do Sindisep, afirma que mais de 60% dos trabalhadores da ativa do município participam da greve.
“Temos grande adesão da educação, que é carro chefe da categoria. Mais de 60% dos trabalhadores são dessa área. Estão paralisadas também Unidades Básicas de Saúde (UBS), vigilância sanitária – pessoal do combate à dengue – cultura e habitação”.
Para ele, a adesão é crescente porque a cada dia, mais trabalhadores se conscientizam que a reforma da Previdência municipal de São Paulo, chamada de SampaPrev, é um “confisco salarial”.
Negocia, Covas
Na última quinta-feira, o prefeito Bruno Covas determinou o desconto dos dias parados, nos salários e encaminhou um ofício ao Comando de Greve dos Sindicatos de Servidores, propondo a “suspensão da greve para que seja estabelecido um canal de comunicação”.
João Batista lamenta: “assim não tem conversa. O governo ameaça os grevistas, não abre negociação e ainda classifica as faltas como injustificadas para descontar nos salários”.
O dirigente lembra que a greve “foi organizada dentro da lei, comunicada com antecedência de 72 horas e que, portanto, Covas endurece as negociações”.
Como resposta à intransigência de Covas, os servidores públicos aprovaram por unanimidade a continuidade da greve. Sérgio Antiquera, presidente do Sindisep, mandou um recado ao prefeito: “Bruno, tenha a dignidade de atender os servidores. Já são 16 dias e a categoria não está de brincadeira. E não precisa ter medo. Só queremos uma proposta justa”.
Assembleia Nacional
Os servidores públicos também aprovaram, na assembleia desta terça, participar da Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora, que será realizada nesta quarta-feira (20), na Praça da Sé, às 10 horas da manhã.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, parabenizou a categoria pela mobilização e pela decisão de participar da luta contra a reforma da Previdência dos trabalhadores da iniciativa privada e servidores estaduais e federais proposta pela equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro (PSL).
“Temos uma unidade muito grande, com capacidade de luta para barrar a reforma. Os municipais de São Paulo estão demonstrando isso, assim como todas as outras categorias de trabalhadores, que não querem perder o direito de se aposentar”, afirma Vagner.
O dirigente ainda afirmou que, nesta quarta, após a entrega da proposta de Bolsonaro ao Congresso, a classe trabalhadora deverá definir um dia de luta contra a reforma.
“Deverá ser já em março, aquecendo para uma grande greve, caso o governo insista em acabar com a aposentadoria”.
O presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, lembra que “os governos Municipal, Estadual e Federal estão alinhados em um projeto de desmonte do Estado, para entregar as riquezas do Brasil e a entregar a previdência ao setor financeiro, fazendo o trabalhador pagar a conta”.
Vagner Freitas também avalia que o interesse do governo Bolsonaro, com sua proposta de reforma ainda pior do que a apresentada pelo ilegítimo Temer (MDB) não é equilibrar as contas e sim entregar a Previdência aos bancos.
O governo tem um compromisso com o sistema financeiro: entregar a previdência para atender aos interesses de banqueiros. É isso que representa a proposta de capitalização
Presidente trapalhão
Para o presidente nacional da CUT, o Brasil tem um governo “atabalhoado que vai dar um tiro no pé”. Para ele, Bolsonaro acredita que vai convencer que acabar com seguridade social e a Previdência para todos, transformando num fundo para colocar dinheiro na conta dos banqueiros, a população vai engolir. “Não vai. Bolsonaro vai ter uma grande derrota, dada pelo povo”, diz Vagner Freitas.