Em seu depoimento à CPI, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello justificou a rejeição à vacina da Pfizer dizendo que era cara, além de que a empresa tentava impor um “contrato leonino” ao governo brasileiro. No entanto, a negociação com a fabricante da Covaxin previa o custo de US$ 15 (R$ 80,70) por dose, enquanto o da norte-americana era de US$ 10. Pazuello também declarou que imunizantes da Pfizer não foram comprados em 2020 por falta de aprovação pela Anvisa à época. Porém, o contrato com a Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, foi assinado sem aprovação da agência, que só autorizou a importação no início deste mês, mas com várias restrições.
‘E daí?’
Enquanto se desenrolava essa negociação, o Brasil perdeu 95,5 mil vidas para a covid. Mortes que poderiam ter sido evitadas se Bolsonaro e seus liderados não tivessem boicotado as vacinas CoronaVac e Pfizer, segundo cálculos do epidemiologista Pedro Hallal, mencionadas por ele à CPI da Covid nesta quinta-feira (24). Em abril de 2020, confrontado com o crescimento da pandemia, pouco mais de um mês depois do primeiro caso detectado no país, o presidente da República respondeu: “E daí?”.
Ao encerrar a sessão que ouviu Hallal e a diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no exercício da presidência, lamentou mais uma das atitudes diárias de Bolsonaro, que desafiam a razão e provocam repúdio. No Rio Grande do Norte, em evento no qual provocou aglomerações, ele pediu a uma criança de dez anos para tirar a máscara que usava, informou Randolfe. A presença do presidente brasileiro como governante de um dos maiores países do mundo é hoje incompreensível para cidadãos em todo o planeta.
Em outra frente de trabalhos, a CPI da Covid recebeu na quinta as quebras de sigilos telefônico e telemático (de mensagens) de vários envolvidos na condução do combate à pandemia pelo governo, seus aliados e membros do “gabinete paralelo”. Entre eles, os dos ex-ministros Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo (Relações Exteriores). A comissão recebeu também os sigilos telefônico e telemático quebrados do médico Paolo Zanotto, da “capitã cloroquina” Mayra Pinheiro, entre outros, além do sigilo bancário do empresário Carlos Wizard.
Ameaças: a tática bolsonarista
Pedro Hallal foi questionado e confirmou à CPI que ele e a mulher sofrem reiteradas ameaças por ele expor seus posicionamentos científicos. Segundo o acadêmico, todos os ataques de que o casal tem sido vítima estão sendo investigados pela Polícia Federal, Delegacia da Mulher e Polícia Civil. Ele lembrou que o próprio Bolsonaro tuitou um ataque contra ele “diretamente”. Relatou que a mulher foi perseguida enquanto dirigia, há duas semanas. “Está tudo registrado, filmado devidamente”, disse o pesquisador e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Em sua intervenção, o senador Otto Alencar (PSD-BA) foi solidário a Hallal e falou dos ataques que ele próprio recebe. “Tenho passado pelos mesmos problemas que Hallal tem passado. Recebi 15 mil e duzentas mensagens agressivas e até ameaças de morte. Nunca imaginei isso na minha vida, por estar participando de uma CPI que está apurando o que aconteceu. Mas ameaças por trás de um computador, um celular, normalmente são de pessoas covardes”, afirmou o parlamentar.