Escrito por: Redação RBA

CPI da Covid deve investigar suposta vacina vencida e suspeitas de corrupção

Após semana de desafios, frustrações e até “cavalo de Troia”, CPI ouve ex-diretor da Saúde acusado de esquema para compra da Covaxin

Edilson Rodrigues/Agência Senado

Em posts no Twitter na sexta-feira (2), o senador e vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), deu indicações de alguns dos próximos passos da comissão. Afirmou que, no depoimento do policial Luiz Paulo Dominguetti, na véspera, ficou claro “o esforço p/ distanciar do Governo o Sr. Roberto Ferreira Dias, ex-diretor do MS, acusado de cobrar PROPINA p/ a aquisição da vacina” (mantida grafia original do tuíte). “Mas é bom lembrar que o Presidente o NOMEOU p/ o cargo de CONFIANÇA na ANVISA! A relação dos dois é evidente!”, acrescentou.

Além disso, o senador lembrou denúncia, publicada na Folha de S.Paulo, sobre cerca de 26 mil doses de vacinas vencidas terem sido aplicadas país. “É mais uma denúncia que levaremos à CPI da Covid!”, prometeu. Segundo a matéria, as vacinas seriam da AstraZeneca. Porém, de acordo com a revista Fórum, o médico infectologista Marcos Caseiro considere ser “muito improvável” que isso tenha ocorrido.

A comissão passou por uma semana de desafios e frustrações, quando o país atingiu 520 mil mortos na pandemia. Depois do inócuo depoimento do deputado estadual amazonense Fausto Junior (MDB), relator de uma CPI na Assembleia Legislativa do Amazonas em 2020, os senadores tinham expectativas para as oitivas dos empresários Carlos Wizard e Francisco Maximiano. Wizard é acusado de se financiar e atura no “gabinete paralelo”. Já Maximiano é sócio da Precisa Medicamentos, intermediária na compra da Covaxin por US$ 15 a dose e pivô de denúncia do deputado Luis Miranda.

“Me reservo o direito de permanecer em silêncio”

Mas, beneficiado por um habeas corpus da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, Wizard passou a sessão a repetir: “Me reservo o direito de permanecer em silêncio”. Indignado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator, ironizou: “Os machões da internet ficam caladinhos na CPI”. Enquanto o empresário depunha repetindo a frase monocórdica, a mesma ministra do STF concedia habeas corpus também a Maximiano, para que o empresário pudesse permanecer em silêncio na quinta-feira (1º). Para evitar “outro Wizard”, os senadores anteciparam o depoimento de Dominguetti e suspenderam o de Maximiano. Assim, tentam ganhar tempo para recorrer da decisão do STF, neste caso em relação ao sócio da Precisa.

O ministro do STF Luís Roberto Barroso determinou na sexta (2) a devolução do passaporte de Wizard, apreendido após o empresário fugir à CPI por semanas. Segundo o ministro – implacável e inclemente contra o ex-presidente Lula e aliado do ex-juiz Sergio Moro no “combate à corrupção” – o empresário já cumpriu o compromisso de comparecer à CPI e a retenção do passaporte não é mais necessária.

Cavalo de Troia na CPI da Covid

E Dominguetti chegou à CPI sem nenhum recurso. Autoproclamado representante da empresa Davati Medical Supply, falou com desenvoltura de um esquema de propina supostamente ligado ao ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. Dominguetti chegou a apresentar um áudio para desqualificar o depoimento de Luis Miranda em que o deputado ligou o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), ao escândalo da Covaxin. O depoente foi classificado como um “cavalo de Troia” e uma armadilha bolsonarista na CPI, mas segundo senadores, “o tiro saiu pela culatra”. Isso porque a tática governista, de desmoralizar a CPI, acabou fracassando, segundo os parlamentares.

Próximos depoimentos

A CPI da Covid agendou para esta semana, na terça-feira (6), o depoimento de Regina Célia. Isso porque ela é apontada pelo servidor Luis Ricardo (irmão do deputado Luis Miranda) como sendo quem autorizou a importação da Covaxin, apesar das irregularidades. A servidora teria sido indicada por Ricardo Barros.

Na quarta (7) será ouvido Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde. Dias foi acusado por Dominguetti de cobrar propina de US$ 1 por dose, em negociação para aquisição de 400 milhões de vacinas inexistentes da AstraZeneca. Dias também foi mencionado pelos irmãos Miranda. Teria sido um dos que pressionaram o servidor Luis Ricardo pela importação de 20 milhões de doses da Covaxin sob contrato irregular.

Para quinta (8) está prevista oitiva de Carolina Palhares Lima, diretora de Integridade (Dinteg) do Ministério da Saúde. A Dinteg foi criada para fiscalizar internamente os atos do Ministério da Saúde, que enviou ao TCU a informação sobre irregularidades na compra de kits de reagentes e insumos utilizados em testes de Covid-19, segundo o senador Humberto Costa (PT-PE) no pedido de convocação. Na sexta (9) será realizada diligência com o ex-governador do Rio Wilson Witzel, segundo assessoria do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI.