CPI da Covid ouve nesta quarta motoboy da VTCLog que sacou mais de R$ 4,7 milhões
A maior parte do dinheiro foi sacado em espécie e na boca do caixa, segundo o Coaf. CPI investiga suposto esquema de propina e superfaturamento nos aditivos de contratos da VTCLog com o Ministério da Saúde
Publicado: 01 Setembro, 2021 - 08h30 | Última modificação: 01 Setembro, 2021 - 11h37
Escrito por: Redação CUT
A CPI da Covid do Senado vai ouvir nesta quarta-feira (1º), o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva que, a serviço da VTC Operadora Logística (VTCLog), teria feito saques de mais de R$ 4,7 milhões – a maior parte em espécie e na boca do caixa –, de acordo com dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
O motoboy também pagou boletos do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, que pagou à empresa além do recomendado.
De acordo com o senador Humberto Costa (PT-PE), o empresário Marcos Tolentino, que deveria depor nesta quarta-feira, informou que passou mal e está internado em Brasília desde a noite de terça-feira (31).
Tolentino seria sócio oculto do FIB Bank e avalista do contrato da Precisa Medicamentos com o Ministério da Saúde para aquisição da vacina indiana Covaxin, fabricada pela Baraht Biotech, superfaturada em 1.000%, de acordo com denúncias feitas à CPI.
A carta de fiança apresentada pelo FIB Bank para dar cobertura à operação contém irregularidades e representa R$ 80,7 milhões, ou 5% do valor contratado.
Após o informe de Tolentino, os senadores ligaram para o motoboy que está sendo aguardado na Casa. Humberto Costa lembrou que o motoboy tem o direito de não comparecer à CPI. Esse direito foi garantido por um habeas corpus, que também lhe dá o direito de não responder a perguntas que o comprometam. Por isso, ele deveria depor ontem mas não compareceu.
Sobre os saques do motoboy
Segundo o relatório de inteligência financeira (RIF) do Coaf, a VTCLog movimentou, de forma suspeita, R$ 117 milhões.
O nome do motoboy foi cruzado e a conclusão dos técnicos foi a de que ele realizou operações sem que fosse possível identificar o destinatário final. Os saques efetuados por Ivanildo teriam representado 5% de toda a movimentação atípica feita pela VTClog.
Todas as informações constam no requerimento de convocação do motoboy, assinado pelo vice-presidente da Comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
O senador disse que o trabalhador sofreu "pressões" após uma reportagem do "Jornal de Brasília" noticiar indícios de movimentações suspeitas da empresa de logística.
A VTCLog, que pertence ao grupo Voetur, é investigada pela comissão por suposto esquema de propina e superfaturamento nos aditivos de contratos com o Ministério da Saúde. A CPI da Covid suspeita de irregularidades em um aditivo de R$ 18 milhões em um contrato atual com o ministério.
A empresa é a encarregada do transporte de medicamentos e também a atual responsável pela distribuição de vacinas no Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Outro motoboy, Marcio Queiroz de Morais, que trabalhou 20 anos na VTCLog, disse em entrevista ao Estadão que sacou milhares de reais em espécie para a empresa. O nome dele também aparece no relatório do Coaf.
“Eu já saí de lá, não trabalho mais lá. Eu sacava e levava o dinheiro, só isso. Era motoboy”, afirmou Morais em conversa com o Estadão por telefone. Ele disse que nunca entregou dinheiro fora da rota bancos-sede da empresa.
Após a publicação da reportagem do Estadão, Randolfe disse que também vai convocar Morais para prestar depoimento. “Nós estamos vendo indícios de uma grande operação financeira em dinheiro vivo. É algo atípico. Há características de pagamento de propina”, afirmou à reportagem.
Em outros contratos, assinados em 1997 e 2003 com o Ministério da Saúde, a Voetur é suspeita de superfaturar R$ 16 milhões (em valores corrigidos). Conforme revelou o Estadão, o prejuízo foi indicado em parecer da área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU).