Escrito por: Redação RBA

Cresce pressão contra Lenín Moreno com marcha indígena a Guayaquil

Principal central sindical também convocou greve geral pela derrubada do pacote ditado pelo FMI. Violência do Estado cresce, e ex-presidente pede novas eleições

REPRODUÇÃO/TELESUR

Os povos indígenas do Equador devem marchar até a cidade de Guayaquil nesta quarta-feira (8) para protestar contra o pacote de medidas adotado pelo presidente Lenín Moreno, em nome de um acordo firmado com o FMI. Moreno transferiu a sede do governo para Guayaquil na última segunda-feira (7) por conta dos protestos que tomaram a capital, Quito, desde o fim de semana, inclusive com a chegada de milhares de indígenas vindos de diversas regiões do país.

O estopim dos distúrbios foi o aumento de 123% no preço dos combustíveis por conta do fim do subsídio estatal, mas o pacote assinado com o FMI prevê também a flexibilização das leis trabalhistas e a privatização de serviços públicos.

Assim como os indígenas, os trabalhadores urbanos também reivindicam a derrubada do pacote de Moreno. A Frente Unitária de Trabalhadores (FUT) convocou uma greve geral em todo o país também nesta quarta. Já o ex-presidente Rafael Correa vai além, e quer a convocação de novas eleições.

“Conflitos na democracia se resolvem nas urnas. E é precisamente o que pedimos, em estrito apego à Constituição, que permite adiantar eleições em caso de grave comoção social, como a que estamos vivendo. O problema é que sabem que a resposta que dará o povo, nas urnas, será mais contundente do que a que estão dando nas ruas”, afirmou Correa. Moreno o acusa de estar por trás das manifestações, que também seriam financiadas, segundo ele, pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Após decretar estado de exceção, na quinta-feira passada (3), o governo equatoriano baixou também um toque de recolher nesta terça-feira (8), como mais uma tentativa de conter as manifestações. Ao menos cinco pessoas já morreram por conta da escalada repressiva comandada pela polícia e pelas Forças Armadas.

Para o consultor e analista internacional Amauri Chamorro, a situação no país é caótica. “O Equador não está funcionando. Aulas foram suspensas, não há transporte público. E há uma pressão muito grande por parte dos militares sobre os manifestantes. Moreno não tem o controle do país. Como todo governo de direita, em todo o mundo, tem amplo apoio das empresas privadas de comunicação, que representam a oligarquia e trabalham para mostrar que haveria certa normalidade, acusando militantes correistas de serem os responsáveis pelos distúrbios”, afirmou aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual.

Nesta terça-feira (3), manifestantes chegaram a invadir a Assembleia Nacional e também a sede da Procuradoria. Segundo Chamorro, principalmente a invasão à Procuradoria se tratou de um “falso positivo”, realizado por militares infiltrados que, na saída, foram capturados pelos indígenas. A intenção seria colocar a culpa nos grupos correistas, forjando roubo a processos judiciais contra seus ex-ministros e apoiadores. Ele também chamou a atenção que, até agora, o Parlamento não foi convocado para julgar o decreto do presidente.

Com a decretação do estado de exceção, a informação é restrita. Os hospitais, por exemplo, são impedidos de divulgar boletins com número de mortos e feridos.

“Se não há acesso a nenhum tipo de informação, se os militares estão nas ruas, com a capacidade de deter qualquer pessoa sem ter que apresentar à Justiça, obviamente, é uma ditadura. O que a gente pode ver é que o país inteiro está mobilizado. Não é Quito, não é apenas Guayaquil. Até cidades muito pequenas, distantes da capital, na região amazônica, contam com protestos e fechamento das principais vias para impedir a chegada dos militares”, ressalta Chamorro.