Crianças correspondem a 20% das população intoxicada por agrotóxicos
Atlas mapeia uso de venenos e aponta casos de complicações em bebês e de tentativas de suicídio de adolescentes com uso de agrotóxicos
Publicado: 10 Setembro, 2018 - 09h09
Escrito por: Redação RBA
A vulnerabilidade à qual são expostas as crianças que vivem nas zonas rurais do Brasil e o desrespeito ao que deveriam ser os limites para o uso de agrotóxicos em alimentos consumidos sobretudo por elas, explicam, segundo a autora do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, Larissa Mies Bombardi, que 20% do total de 25 mil casos notificados pelo Ministério da Saúde sobre a contaminação por agrotóxico na população geral de 2007 a 2014 sejam de crianças afetadas.
O dado sobre crianças e adolescentes intoxicados estão relacionados com a infância no meio rural e à contaminação de alimentos com altas doses de agrotóxicos. Até mesmo bebês, de zero a 12 meses, não escapam dos desdobramentos do uso indiscriminado de substâncias tóxicas, registrando 343 casos, uma média de 42 a 43 por ano. O que, de acordo com Larissa, pode ser muito maior considerando a subnotificação – algumas estimativas são de que o número chegue a 17 mil bebês intoxicados.
"Esse dado é dos mais chocantes do Atlas, porque traduz o atentado que é o uso de agrotóxicos indiscriminado à infância e, o direito mais básico que todo ser humano tem, especialmente as crianças – que é o direito à vida – estar sendo amplamente massacrado", lamentou a autora e pesquisadora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), aos jornalistas Glauco Faria e Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.
Diante da campanha de prevenção ao suicídio que marca o mês como "Setembro Amarelo", a pesquisadora alerta ainda que, dentre os registros feitos pelo Ministério da Saúde, mais de 300 crianças entre 10 e 14 anos tentaram tirar a própria vida por meio da ingestão de venenos de uso agrícola. "Isso responde à última ponta da exposição frequente ao uso de agrotóxico", explica Larissa, que lamenta a ausência de uma disciplina sobre toxicologia laboral nas grades dos cursos de medicina.