Crise na Argentina de Macri: governo anuncia mais um ajuste fiscal
Governo argentino deve anunciar nesta segunda-feira (3) mais um pacote de ajuste fiscal, que prevê a eliminação de 10 a 12 ministérios, entre eles Ciência e Tecnologia, Cultura, Energia e Agroindústria
Publicado: 03 Setembro, 2018 - 10h22 | Última modificação: 03 Setembro, 2018 - 10h43
Escrito por: Redação CUT
O governo do argentino Mauricio Macri, que assumiu com uma agenda neoliberal prometendo baixar a inflação e aquecer a economia do País, deve anunciar nesta segunda-feira (3) mais um pacote de medidas de ajuste econômico.
A taxa de inflação deve passar dos 30% até dezembro. Com a última corrida cambial - na última semana, o peso perdeu 25% de seu valor em relação ao dólar norte-americano- já tem economistas prevendo que a taxa de inflação será ainda maior este ano.
Em um ano, o peso argentino perdeu 104% em relação ao dólar norte-americano, que na Argentina funciona como termômetro da economia. Quando a moeda dos Estados Unidos sobe, os preços na Argentina acompanham, gerando um ciclo inflacionário vicioso. E como os salários ficam atrasados, cai o poder de compra e cresce a pobreza – algo que o próprio presidente já admitiu que vai ocorrer.
Segundo a imprensa local, entre as medidas está a eliminação de dez a 12 ministerios, entre eles Ciência e Tecnologia, Cultura, Energia e Agroindústria, que acaba de despedir 548 trabalhadores e trabalhadoras.
Neste domingo (2), Macri se reuniu com os principais assessores para definir as mudanças. Nesta terça-feira, a Argentina inicia a renegociação do acordo fechado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em junho. O acordo precisa ser revisto em função da nova crise cambial.
O governo argentino também reconheceu que o país está a caminho da recessão, com uma retração de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018. A decisão, na semana passada, de elevar a taxa de juros para 60%, só piorou o quadro recessivo. É a mais alta do mundo (quase dez vezes maior que a brasileira, de 6,5%). Ainda assim, e apesar do empréstimo de US$ 50 bilhões do FMI (o maior da história do país), o dólar parou de subir somente depois da intervenção do Banco Central, que vendeu reservas – o que , segundo especialistas, é uma situação insustentável a longo prazo e difícil de administrar às vésperas de ano eleitoral.
Pesquisas realizadas mostraram que seis em cada dez argentinos desconfiavam da capacidade do FMI em resolver os problemas do país. “Já passamos por isso várias vezes e a história é sempre a mesma: o FMI pede ajuste, o governo faz às custas do trabalhador, entramos em recessão e acabamos dando o calote”, disse o aposentado Adrian Vasquez, de 76 anos. Ele conta que um dos filhos acaba de perder o emprego e o outro teve o salário reduzido pela metade.
A agenda de arrocho em cima dos trabalhadores, como a proposta de reforma na aposentadoria que levou milhares de argentinos as ruas em maio deste ano, não melhorou a economia do país e, hoje, um dos problemas de Mauricio Macri é se cacifar para garantir a reeleição em 2019. Os números e o que eles significam na piora da qualidade de vida trabalhadores e trabalhadoras são os principais obstáculos para os planos do presidente argentino.
O orçamento de 2018 previa uma inflação de 15,7%. Hoje, já se fala em 32%. Quanto ao dólar, que deveria se estabilizar em torno dos 19 pesos, já rompeu a barreira dos 32. Estimativas otimistas para um PIB de 3,2% não se confirmaram e o produto interno bruto do país cairá pelo menos 1%.