CSI: aumentar sindicalização é condição para vencer crise
Reunido em São Paulo, Conselho Geral da confederação internacional aprimora estratégias para defender empregos e salários no mundo
Publicado: 11 Outubro, 2015 - 07h16 | Última modificação: 11 Outubro, 2015 - 07h27
Escrito por: Isaías Dalle
190 participantes de diversos países do mundoNum mundo em que a renda do trabalho em relação ao PIB global caiu 9% nas últimas três décadas e onde, ainda, 58% dos países excluem seus trabalhadores e trabalhadoras da legislação trabalhista – enquanto 70% deles simplesmente impedem a realização de greves – chega a ser pequena a proporção dos habitantes do planeta que acreditam que o sistema econômico existe para favorecer os ricos. Embora maioria – 75%, ainda é tímida a quantidade de pessoas que se declaram inteiramente convencidas sobre as reais regras do jogo.
É para discutir e definir ações sindicais que combatam essa realidade global que, desde ontem, está reunido em São Paulo o Conselho Geral da CSI (Confederação Sindical Internacional). O encontro, primeiro a ser realizado pela entidade na América Latina, tem como tema “Reforçar o Poder dos Trabalhadores e Trabalhadoras”.
Os dados citados acima fazem parte de documentos entregue aos 190 participantes, vindos de diferentes países. O conjunto de informações vai nortear os debates e ajudar na feitura de resolução final do encontro, que se encerra na próxima segunda-feira. Muitos dos dados foram abordados em apresentação da secretária-geral da CSI, Sharan Burrow.
O presidente da CSI, o professor brasileiro João Felício, ex-presidente da CUT, explica que o Conselho Geral está reunido para afinar as estratégias que serão usadas para atingir os objetivos traçados até 2018.
“Numa conjuntura internacional como essa, nosso maior desafio é proteger os empregos. Isso exige um conjunto de ações, para resistir aos ataques brutais que os trabalhadores e trabalhadoras estão sofrendo em todo o mundo”, diz Felício.
Sharan: pressão sobre os governosUm dos pilares para essa defesa é o fortalecimento dos próprios sindicatos, o que expõe uma situação contraditória, uma vez que o mercado de trabalho enfraquecido tende a retrair a ação sindical. “Os sindicatos sofrem ataques na maioria dos países. Isso implica aumentar nosso poder de representação”, completa o presidente da CSI. Ele esclarece que até 2018, o objetivo da CSI é aumentar em 20 milhões o seu número de filiados, chegando então a 200 milhões de trabalhadores e trabalhadoras. A CSI é integrada por centrais sindicais nacionais, como as brasileiras CUT, Força, UGT e Nova Central, que por sua vez calculam a quantidade de trabalhadores e trabalhadoras filiados a partir de seus sindicatos.
Contra a cobiça
“Pelo fim da cobiça corporativa” é o lema de uma das campanhas que vêm sendo realizadas pela CSI, explica Sharan Burrow. E resume uma linha de ação, entre outras, adotadas pela CSI. “Devemos pressionar os governos a se posicionarem contra a predominância do mercado e do sistema financeiro sobre as políticas”, disse durante sua apresentação.
Uma das marcas da CSI é sua diversidade. As centrais que a compõem, além de obviamente manifestarem realidades locais diversas, possuem concepções políticas também diferentes.
O que as une é a certeza de que o mercado de trabalho no mundo inteiro vem se deteriorando, especialmente após o início da crise internacional, em 2008. Há, porém, locais na Terra em que as condições de vida são cronicamente precárias, não importa o período, como é o caso, destacado nos documentos apresentados para o encontro da CSI, da Palestina.
Para dar conta dos desafios, a CSI está concentrando seus esforços em algumas linhas de atuação gerais que, crê, devem ter participação do movimento sindical:
- eliminar a escravidão
- erradicar a pobreza extrema até 2030 (em consonância com as metas propostas pelo Banco Mundial)
- eliminar a fome e garantir a segurança alimentar
- garantir políticas educacionais inclusivas
- promover igualdade de gênero
- promover novas formas de energia limpa
Felício: meta de atingir 200 milhões de filiados- orientar os países a um crescimento econômico sustentável
- incentivar novo ciclo de industrialização
- reduzir desigualdades entre os países
- acompanhar e pressionar por mudanças que combatam o aquecimento global e que proporcionem o surgimento de novas modalidades de emprego
- contribuir para paz, justiça e democracia
Nobel da Paz
Simbólica quanto à contribuição que o movimento sindical pode dar na superação desses desafios foi a homenagem feita ontem a Houcine Abassi, secretário-geral da central tunisiana UGTT. Ele - e sua entidade por extensão – recebeu o Nobel da Paz 2015, por sua participação no diálogo quadripartite nacional que garantiu as eleições naquele país, logo após a promulgação da Constituição, ocorrida um ano antes do prêmio. Abassi fará na manhã deste domingo uma conferência de imprensa.
Lisboa alerta: não acreditar nos relatos da imprensaO secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa, fez uma saudação aos visitantes e disse que a Central está aberta para debater a conjuntura brasileira. “Sei que as notícias que vocês estão recebendo em seus países são produzidas pela imprensa tradicional, que é um dos atores da disputa política em curso no Brasil. A CUT preparou um resumo com nossa visão sobre os fatos, que será entregue a vocês”, disse.