Culpado pela falta de fertilizantes é Bolsonaro, que fechou 3 fábricas no país
Presidente culpou crise energética da China ao afirmar que falta de fertilizantes pode causar desabastecimento em 2022. Só não disse que mandou fechar fábricas que garantiriam a produção do insumo no país
Publicado: 15 Outubro, 2021 - 13h35 | Última modificação: 15 Outubro, 2021 - 15h02
Escrito por: Andre Accarini
O presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) disse a apoiadores esta semana, como se não tivesse nada a ver com isso, que o país pode sofrer com escassez de alimentos em 2022. O motivo é o possível desabastecimento de fertilizantes nitrogenados, insumos essenciais para a agricultura, que dá sinais de desabastecimento no mercado externo.
O que Bolsonaro não disse foi que seu governo fechou fábricas que produziam o insumo no país. Não disse também que, com isso, o Brasil se tornou 100% dependente de outros países e hoje importa fertilizantes da China, Ucrânia e Lituânia, e outras nações que já anunciaram redução e até interrupção na produção por causa do aumento dos custos.
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O aumento dos custos ocorre por causa de situações adversas como as atuais, de inverno rigoroso no hemisfério norte e crise energética na China. Quando isso ocorre, os países têm por estratégia, priorizar o mercado próprio.
Essas adversidades encareceram os custos de produção e obrigaram essas nações a rever a destinação do gás natural, utilizado na produção de ureia, explica Gerson Castellano, da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
“Quando chega um momento assim esses países usam o gás de forma mais racional, deixam de produzir para exportação e usam internamente seja para produção de fertilizantes, seja para aquecimento de casas, por exemplo. Qualquer país faz isso – pensa em sua nação antes de tudo”, diz Castellano.
Qualquer país, menos o Brasil, é claro. O que Bolsonaro fez aqui, diz o dirigente, foi simplesmente fechar as fábricas de fertilizantes, sem sequer pensar no que poderia ocorrer em um futuro.
“Ele fechou a Fafen [Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados] no Paraná, não concluiu a fábrica do Mato Grosso do Sul e paralisou atividades em outras duas fábricas, uma em Sergipe e outra na Bahia, para depois arrendá-las”, afirma Castellano.
Eu avisei
Desde que as fábricas de fertilizantes foram extintas a FUF alertou para a possível crise de desabastecimento do insumos.
“A gente já alertava sobre isso lá atrás. Em 2020 quando Bolsonaro fechou a Fafen, no Paraná, alertamos que a falta de estratégia do governo colocaria o país em uma situação de dependência total dos insumos”, afirma Gerson Castellano, da FUP.
Mesmo com as fábricas em funcionamento, ele ressalta, o Brasil ainda importava cerca de 50% dos fertilizantes usados no país. Portanto, ao invés de fechar as unidades, o correto seria haver mais investimentos, abrir mais unidades produtoras para não depender de outros países.
Castellano ainda classifica o governo como uma ‘bagunça’, uma gestão sem direcionamento. No fim de 2020, após ter acabado com as fábricas, o governo chegou a montar um grupo de trabalho especial para estudar como reduzir a dependência de fertilizantes importados.
Bolsonaro não tem nenhuma condição de assumir um governo. Eles estão perdidos e não têm planejamento estratégico seja para fertilizantes, seja para o refino de outros derivados, seja para qualquer coisa. Eles não sabem o que estão fazendo no comando do país
Agriculta familiar perde mais
Quem mais perde com um possível desabastecimento de fertilizantes é a agricultura familiar, responsável por cerca de 70% do que vai à mesa dos brasileiros e que trabalha com orçamento apertado. Em uma eventual queda de produção, o repasse de preços não cobre os custos e, por outro lado, encarece os preços para os consumidores.
Já o agronegócio, segundo Castellano, não amargará grandes prejuízos, uma vez que o foco de sua produção são as commodities (soja e milho, por exemplo), para a exportação, que é negociada em dólares. “Eles não perdem dinheiro. Repassam e continuam lucrando”.
Imbecil
Na live em que Bolsonaro fala a seus apoiadores sobre o desabastecimento, ele diz que a China reduziu a produção por causa da crise energética e diz isso pode ser revertido explorando fosfato e potássio em regiões indígenas.
Mais uma vez o presidente ‘empurra’ questões ideológicas, distorcendo informações e desviando o foco central discussões econômicas que são de interesse de toda a população.
Para Gerson Castellano, Bolsonaro mostra má-fé. “Se a China deixar de produzir fertilizantes, é evidente que deixará de produzir fertilizantes petroquímicos e não de mienração. Bolsonaro agrega todas as qualidades de um grande imbecil. Ele confunde as coisas e fala mentiras a todo momento. O que estamos falando hoje é de redução de produção de nitrogenados”.
Contra ataque
Para a FUP, a solução é reabrir as fábricas fechadas, concluir a unidade do Mato Grosso do Sul e retomar a produção das unidades arrendadas e priorizar o mercado interno. Além disso o ideal seria o governo estabelecer uma política de industrialização, mas o que acontece no país é exatamente o contrário. Inclusive com as refinarias da Petrobras.
“Estamos ficando dependentes de outros derivados também”, diz o dirigente que complementa: “Pressionamos pela volta da Fafen do Paraná e que terminem a construção da Fafen Mato Grosso do Sul. Isso envolve também a recontratação dos profissionais demitidos de forma injusta no ano passado”.
Ele sempre joga a culpa nas costas de terceiros
O que Bolsonaro está fazendo em relação ao risco de desabastecimento é o mesmo que ele faz em outras situações em que sua responsabilidade pelo prejuízos aos brasileiros começam a ser expostos.
Ele sua habilidade de confundir e distorcer os fatos para culpar outros países, em especial a China.
O alto preço dos combustíveis impulsionados pela política de paridade internacional da Petrobras, que faz com os preços variem de acordo com a cotação do dólar, não é culpa dele, que manteve a política implementada pelo ilegítimo Michel Temer (MDB-SP). Bolsonaro acuda governadores e culpa o ICMS pelos aumentos, mas não diz que há anos o imposto estadual não é reajustado.
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Os aumentos nos preços dos alimentos também não é culpa do governo Bolsonaro. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a inflação é uma tendência mundial no momento e no Brasil, não é diferente.
Ele não diz que seu governo não atuou para controlar os preços, com a manutenção de estoques reguladores e ignora o drama de milhões de pessoas com fome no país.
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Edição: Marize Muniz