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Curuguaty: Tribunal absolve a jovem Raquel Villalba

Pré-julgada pela “justiça” e pela mídia paraguaia, vivia há 4 anos sob custódia

Publicado: 21 Novembro, 2016 - 14h31 | Última modificação: 21 Novembro, 2016 - 14h46

Escrito por: Leonardo Severo

CUT faz campanha em solidariedade aos camponeses presos políticos de CuruguatyCUT faz campanha em solidariedade aos camponeses presos políticos de CuruguatyO Tribunal de Sentenças de Salto de Guairá, no Paraguai, decidiu na última quinta-feira pela libertação de Raquel Villalba, de 19 anos, injustamente acusada pelos delitos de “invasão de imóvel alheio” e “associação criminosa” – na qualidade de autora – e “tentativa de homicídio” – na qualidade de cúmplice - no caso de Marina Kue, em Curuguaty. Pré-julgada pela “justiça” e pela mídia paraguaia, ela vinha sendo mantida há quatro anos sob custódia policial.

No dia 15 de junho de 2012, após um confronto forjado por franco-atiradores, foram assassinadas 17 pessoas (11 camponeses e seis policiais) no acampamento de Marina Kue. A manipulação midiática do trágico acontecimento - que contou com 324 policiais fortemente armados, inclusive um helicóptero, de um lado, e cerca de 30 camponeses, metade deles mulheres, crianças e idosos, de outro – levou ao impeachment do presidente Fernando Lugo apenas uma semana depois.

Embora não tivessem sido encontradas com os sem-terra nem uma única arma de grosso calibre, com a qual foram mortas as pessoas que tombaram no local, apenas camponeses foram mandados para o banco dos réus. Quatro deles, incluindo o então companheiro de Raquel, Rubén Villalba, com quem tem um filho, continuam presos. Rubén foi condenado a 35 anos de prisão.

Durante o processo, os advogados nomeados pela “Defensoria” chegaram a oferecer a Raquel um trato: reduzir sua pena a dois anos de prisão caso responsabilizasse Rubén pelos acontecimentos. A determinação da jovem só aumentou a ira dos acusadores.

VITÓRIA - Na última quinta-feira a defesa exigiu - e garantiu - a anulação do processo ao comprovar que o Ministério Público não adotou duas medidas obrigatórias determinadas pelo Código da Criança e do Adolescente, como a avaliação psicológica e psicossocial da jovem no momento dos fatos.

Dirigente da Organização de Mulheres Camponesas e Indígenas (Conamuri), Cony Oviedo, avalia que “a liberdade de Raquel é uma conquista política da luta das organizações nacionais e internacionais que acompanham solidariamente o processo”. Da mesma forma, disse Cony, “os companheiros de Curuguaty, que foram injustamente condenados pelo massacre, precisam ser libertados, porque todo o julgamento é irregular, devendo, portanto, ser anulado”. “Não existem provas que possam sustentar uma farsa que tinha como objetivo o julgamento político de 22 de junho de 2012, a mesma que obedece a um plano de acabar com a democracia e a garantia dos direitos humanos em nossa região, como bem o demonstram os golpes de Estado”, sublinhou.

Conforme alertou Cony, “Curuguaty é o massacre com que se desenvolve um dos julgamentos mais injustos da história do Paraguai, que mostra como a direita tudo compra e não tem piedade com nada nem ninguém”. “Raquel conseguiu sua liberdade com a defesa da Coordenadora da Defesa dos Direitos Humanos do Paraguai (Codehupy) e de toda a pressão social. Agora, esperamos a resposta à apelação dos demais presos políticos. Desde a Conamuri, no Congresso Democrático do Povo, seguimos acompanhando com convicção a luta pela liberdade e pela recuperação definitiva das terras de Marina Kue-Curuguaty para fazer a reforma agrária integral para as famílias e jovens, apostando no desenvolvimento do país”, concluiu.