CUT alerta ministro Luiz Marinho para risco de demissões em massa nas Americanas
Em reunião nesta segunda (30), Sérgio Nobre destacou que responsáveis por rombo bilionário têm de ser punidos, mas sem prejuízo a empregos e direitos dos trabalhadores no Grupo
Publicado: 30 Janeiro, 2023 - 15h48 | Última modificação: 30 Janeiro, 2023 - 16h53
Escrito por: Andre Accarini | Editado por: Vanilda Oliveira
O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, em conjunto com os líderes das demais centrais sindicais e confederações de comerciários (Contracs-CUT e CNTC) pediram e o ministro do Trabalho e emprego, Luiz Marinho, que convoque o Grupo Americanas para tratar do rombo que põe em risco os empregos e direitos de 44 mil trabalhadores e trabalhadoras.
A reunião presencial entre o ministro e os líderes sindicais sobre o caso foi realizada nesta segunda-feira (30), em São Paulo.
“As centrais solicitaram ao Ministro do Trabalho e Emprego que o Governo participe diretamente do processo com o objetivo de estabelecer diálogo tripartite e total transparência neste que é um dos maiores processos de recuperação empresarial do país”, diz trecho da nota divulgada ao final da reunião (leia integra abaixo) das centrais, que convocaram um ato nacional para a próxima sexta-feira, 3 de janeiro.
Ainda na semana passada, a CUT e demais centrais sindicais entraram com uma ação civil pública, na 8ª Vara do Trabalho de Brasília pedindo o bloqueio de bens no total de R$ 1,54 bilhão dos principais acionistas do Grupo Americanas
44 MIL EMPREGOS
Na reunião, o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, reforçou que não somente os 44 mil trabalhadores e trabalhadoras do grupo correm riscos, mas também toda uma cadeia produtiva – os fornecedores – que envolve várias categorias de trabalhadores como químicos e metalúrgicos.
Para o dirigente, a atividade econômica, as empresas e os empregos têm que ser preservados independentemente das responsabilidades dos executivos, controladores e acionistas majoritários do Grupo Americanas, que ainda estão sendo apuradas.
Ao citar a extinta Operação Lava Jato e o estrago causado pelo fechamento de empresas como a Odebrechet e os prejuízos à Petrobras, Sérgio Nobre lembrou a história recente do país como forma de alerta para que mais empregos não sejam perdidos, caso haja o fechamento das Lojas Americanas.
Leia Mais: O estrago econômico e social provocado pela Operação Lava Jato
“Temos que relembrar o que aconteceu, o prejuízo causado ao Brasil por causa da punição às empresas. Foram 4,2 milhões de empregos perdidos”, disse o presidente nacional da CUT, explicando que assim como nas empresas investigadas pela Lava Jato, nas Americanas os erros foram cometidos por pessoas, “que devem ser investigadas e punidas, mas preservando a atuação da empresa, que gera empregos, dos quais dependem milhares de trabalhadores”
Quando você tem um rombo de R$ 43 bilhões, que ninguém percebe, já algo errado. Tem que ter uma investigação dura e pessoas têm que ser punidas, seja por negligência ou por corrupção
Sérgio Nobre ainda pontua que as empresas são patrimônios que exercem uma função social e por isso devem ser preservadas.
Minisitério
As centrais sindicais solicitaram a Luiz Marinho que o ministério do Trabalho e Emprego participe da construção de um diálogo tripartite, envolvendo empresa, trabalhadores e o ministério para acompanhar o processo de recuperação empresarial das Americanas, já considerado um dos maiores do Brasil.
“Tivemos um compromisso do ministro em convocar a empresa para prestar esclarecimentos sobre o que aconteceu nas Americanas”, afirmou Sérgio Nobre sobre o encontro.
Na próxima sexta-feira (3), CUT e demais centrais realizam Ato na Cinelândia, no Rio de Janeiro, às 10h
Diante da gravidade do fato, as centrais sindicais convocaram atos para a próxima sexta-feira (3) em frente a uma das unidades das Americanas, localizada na Cinelândia, no Rio de Janeiro. O ato está programado para as 10h com participação dos próprios trabalhadores.
Outros atos também serão realizados em São Paulo. “Em Osasco temos o maior centro de distribuição do grupo e neste dia também faremos uma mobilização em defesa dos empregos dos trabalhadores das Americanas”, disse o vice-presidente do Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região, Luciano Lima.
O dirigente ainda afirmou que, em várias lojas do grupo, espalhadas pela região, haverá panfletagem e colagem de faixas e cartazes informando à população sobre o caso e incentivando os consumidores a continuarem comprando normalmente nas lojas.
“Temos que dizer que é importante que as unidades vão continuar funcionando e que a população não deixe de comprar nas lojas para não prejudicar os trabalhadores. A empresa, em si, precisa desses recursos para continuar operando”, afirmo Luciano.
Histórico do rombo
Controlada pelos acionistas majoritários, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, sócios na empresa 3G, as Americanas ganham destaque nos noticiários quando veio à tona, no início do ano, a informação de uma dívida que chegaria a R$ 20 bilhões, incialmente – valor que a própria empresa admitiu ser de R$ 43 bilhões.
O grupo deve essa quantia para cerca de 16 mil credores, entre eles empresas, bancos e até pessoas físicas. Durante o processo de recuperação judicial, que pode durar anos, a empresa tentará renegociar as dívidas. Questionados, os controladores do grupo alegaram o rombo se deu por "inconsistências contábeis".
No dia 25 de janeiro, as centrais sindicais brasileiras ajuizaramuma Ação Civil Pública na 8ª Vara do Trabalho de Brasília para garantir os direitos dos mais de 44 mil trabalhadores do grupo em todo o país.
Ajuizaram a ação a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Geral dos Trabalhadores (UGT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Força Sindical (FS), a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), a Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs-CUT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC).
Na nota em que anunciam a ação judicial, os dirigentes sindicais alertam que há risco iminente de insolvência e calote nos trabalhadores, não apenas nos credores e pequenos acionistas, desde que executivos das Lojas Americanas comunicaram os acionistas que o grupo tinha o rombo bilionário.
Leia mais: Banqueiros dizem que rombo na Americanas "é fraude e crime"
Leia a íntegra da nota das Centrais Sindicais sobre o caso:
"As centrais sindicais unificadas em reunião com o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, nessa segunda-feira, 30/01/2023, em São Paulo, discutiram o processo de recuperação judicial do Grupo Americanas e reforçaram a necessidade de garantia dos empregos e dos direitos dos mais de 44 mil trabalhadores diretos e de centenas de milhares de trabalhadores de toda a rede de fornecedores.
A atividade econômica, as empresas e os empregos tem que ser preservados independente das responsabilidades dos executivos, controladores e acionistas relevantes do Grupo Americanas, que ainda estão sendo apuradas.
Se os indícios de fraude forem provados, os culpados devem ser punidos, mas a empresa e os empregos precisam ser preservados.
Por esses motivos, as centrais solicitaram ao Ministro do Trabalho e Emprego que o Governo participe diretamente do processo com o objetivo de estabelecer diálogo tripartite e total transparência neste que é um dos maiores processos de recuperação empresarial do país.
Diante da gravidade do problema, as centrais sindicais unificadas convocam toda a sociedade para o ato no dia 03 de fevereiro (sexta-feira), às 10 horas, na Cinelândia no Rio de Janeiro (RJ)."
Assinam o documento:
CNTC - Confederação Nacioinal dos Trabalhadores no Comércio
CUT - Central Única dos Trabalhadores
Contracs - Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços
CTB - Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
UGT - União Geral de Trabalhadores
NCST - Nova Centrasl Sindical de Trabalhadores
Força Sindical
CSB - Central de Sindicatos Brasileiros