CUT debate perda de direitos e condições de trabalho dos trabalhadores em mineração
Encontro, que começou nesta quinta-feira (13) e vai até nesta sexta-feira (14), fala da importância da organização sindical para travar a luta no setor da mineração
Publicado: 14 Junho, 2024 - 11h46 | Última modificação: 17 Junho, 2024 - 12h24
Escrito por: Walber Pinto | Editado por: André Accarini
Representantes de diversos ramos de trabalhadores em mineração discutiram nesta quinta-feira (13), na Sede da CUT Nacional, em São Paulo, entre outros temas, a perda de direitos provocadas pelas Reformas da Previdência e Trabalhista, e as más condições de trabalho no setor.
Organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT Brasil) e Confederação Nacional do Ramo Químico da CUT (CNQ/CUT) em parceria com Solidarity Center/AFL-CIO, o Encontro Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras em Mineração no Brasil reúne representantes de sindicatos filiados, convidados de outras entidades e representação do UWS (United Steelworkers).
Objetivo do evento é fortalecer o processo de organização da categoria reafirmando a tarefa histórica da Central na defesa dos direitos e da vida dos trabalhadores e trabalhadoras, das comunidades e do meio ambiente.
A mesa “Resgate histórico da organização de trabalhadores em mineração na CUT”, coordenada por Maria Aparecida Faria, secretária nacional de Comunicação da CUT e Tadeu Porto, secretário-adjunto da pasta, contou também com as participações de Jacy Afonso (ex-dirigente da direção da CUT Nacional), João Trevisan (membro do Fórum Nacional da Mineração Responsável – Fonamir), Lucineide Varjão (Secretária de Relações Internacionais da CNQ) e Roberval Viana (presidente do Sindicato Metabase de Itair/MG e Conselheiro da Vale).
“O direito do trabalhador [na mineração] foi tirado com as reformas trabalhista e previdenciária, tirou também a dignidade do trabalhador porque muita gente dentro da mina está com tempo bem superior para se aposentador e não consegue. Por quê? Porque caiu dentro desse regime de pontos de idade mínima que estabeleceram sem debate com a sociedade”, explicou João Trevisan, membro do Fórum Nacional da Mineração Responsável – Fonamir.
Para ele, a reforma trabalhista, no desgoverno de Michel Temer (MDB), assim como a reforma previdenciária do governo de Jair Bolsonaro (PL), foram aprovadas sem o debate devido com a sociedade, com setores que foram afetados, como o da mineração.
“Sei que vai ser difícil a gente reverter isso, mas a gente tem esperança porque nós elegemos o nosso presidente Lula”, disse Trevisan.
Além disso, “os trabalhadores são expostos a choques elétricos e explosões, e situações que trazem impactos imediatos à saúde, enquanto outros são levados ao adoecimento gradativo. É o caso da exposição à sílica presente na poeira respirável de algumas minas e que pode provocar quadros de silicose”, completou.
De acordo com a secretária de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Químicos (CNQ), Lucineide Varjão, é preciso acompanhar as condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores dentro do setor de trabalho.
“As engenheiras me explicaram o que elas fizeram para conseguir banheiro para elas. Então, essas histórias fortalecem a gente, nos ajuda a pensar não só como mineração, como setor da mineração, mas como é que vivem, quais são as condições de trabalho, quais são as condições de saúde desses trabalhadores e trabalhadoras”, disse a dirigente.
A lista de fatores de risco da mineração é extensa, tais como ruído causados por equipamentos como perfuratrizes, rock-drill, etc.; vibrações causadas por grandes equipamentos e ferramentas manuais; e umidade e radiações ionizantes e não ionizantes em atividades de solda e corte.
Trabalho análogo à escravidão na mineração
No setor de extração de minérios, entre 2005 e 2023, foram resgatados 1.222 trabalhadores e trabalhadoras em condições análogas à escravidão, em apenas 240 estabelecimentos fiscalizados. Mais de 33% destes trabalhadores foram encontrados na extração de pedra, areia e argila, 30,8% na extração de minério de ferro e 19% na extração de metais preciosos.
No que diz respeito a acidentes, dados mostram que em 2021 foram registrados 3.011 acidentes de trabalho na extração de minérios.
No mundo, o setor de mineração emprega 3,7 milhões de trabalhadores, sendo 1,5 milhões em países desenvolvidos e 2,2 milhões em países subdesenvolvidos.
“Ainda assim têm alterações na lei que estão em andamento no Congresso Nacional. Por isso não podemos nos isolar”, alertou Lucineide.
Organização sindical
Para Jacy Afonso, ex-dirigente da Direção Nacional da CUT, é importante a organização dos trabalhadores e trabalhadoras da mineração para enfrentar as dificuldades no setor.
“A CUT decidiu, lá atrás, que ia ter 18 ramos e um desses ramos era o setor mineral. Então, nós temos que criar uma confederação do setor mineral, com muita organização. O papel do sindicato é sindicalizar, defender os interesses das trabalhadoras e dos trabalhadores. Esse é o papel do sindicato”, disse Jacy.
A apresentação sobre a mineração e barragem ficou por conta de André Viana, presidente do Sindicato de Itabira/MG e Conselheiro da Vale.
Ele ressaltou o patrimônio da Vale, que está 32 bilhões, e ressaltou que muitas comunidades no Brasil, assim como Itabira, em Minas Gerais, vivem o fantasma da exaustão mineral.
“A Vale lançou a previsão para o ano de 2041 a exaustão mineral em Itamira, que é uma cidade que já é explorada há 82 anos, então os municípios vulneradores têm esse fantasma”, finaliza.
Programação
14/06 (Sexta-feira)
9h - Mesa 3: Desafios da mineração e sua construção na estratégia da CUT
Coordenação: Geralcino Santana Presidente da CNQ e Rosana Sousa - Solidarity Center/AFL-CIO
- Direitos Humanos:
Jandyra Uehara - Secretaria de Políticas Sociais e Direitos Humanos/CUT
- Meio ambiente:
Milton dos Santos Rezende - Direção Executiva Nacional/CUT
- Saúde do trabalhador, Aposentadoria especiais e normas regulamentadoras:
Marta Freitas - Mestre em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, Assessora técnica na bancada dos trabalhadores na Comissão Nacional Tripartite Temática (CNTT) da Normas Regulamentadoras
Loricardo de Oliveira - Presidente da CNM/CUT e Membro da Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP)
14h às 14h45 – Mesa 4: COP 30 - Secretaria de Relações Internacionais/CUT Brasil
Coordenação: Renato Zulato Secretário Geral CUT/Brasil e Álvaro Luiz Alves Coordenador do Secretaria Setorial Minérios da CNQ
14h45 às 17h00 – Mesa 5: Sistematização e Plano de ação para os trabalhadores e trabalhadoras em Mineração