CUT defende Estado Laico e reforma política
A religião na política fere os princípios da democracia
Publicado: 25 Junho, 2015 - 16h24 | Última modificação: 26 Junho, 2015 - 12h56
Escrito por: Érica Aragão
Muitos são os motivos que levaram o Congresso Nacional atual ser o mais conservador desde 1964, mas o principal deles é o financiamento empresarial de campanha.
O investimento para eleger um deputado não sai por menos de R$2 milhões, e a de senador, por menos de R$ 5 milhões. Os partidos de modo geral não deram o devido espaço para os candidatos vindos de movimentos sociais, priorizando nomes com acesso a financiadores privados ou integrantes da máquina pública. O reflexo disso foi a redução das bancadas com visão trabalhista, solidária e humanitária, que poderiam fazer o contraponto à onda conservadora.
A composição do Congresso não corresponde ao anseio específico de determinados setores da sociedade. Assim, surgem grupos com o propósito de promover causas, ideias e interesses próprios. Eles organizam o debate e buscam influenciar decisões em favor das políticas públicas que defendem, passando até por cima da constituição.
Segundo a Constituição Brasileira, o Brasil é oficialmente um Estado Laico, país com posição neutra no campo religioso. O princípio do Estado Laico é a imparcialidade em assuntos religiosos, não apoiando ou discriminando nenhuma religião. Vindo nesta lógica, a laicidade do Estado pressupõe a não intervenção da Igreja no Estado e vice-versa.
Mas dos eleitos ou reeleitos, 75 deputados são da bancada evangélica, que terão como prioridades temas como União homoafetiva, pesquisas com células-tronco, defesa da família e aborto, terceiro lugar na representatividade no congresso. Ficam atrás da bancada empresarial, com 221 deputados e dos ruralistas, com 109 representantes.
A religião na política fere os princípios da democracia. Em março deste ano, por exemplo teve até um culto dentro da câmara dos deputados coordenado pelo presidente da casa, Eduardo Cunha. Ele prometeu em outro culto, no Rio de Janeiro, que lutaria para que os princípios da Igreja Evangélica sejam levantados e defendidos no legislativo.
Para o diretor executivo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Júlio Turra, isso é resultado do funcionamento do sistema político que a CUT combate há anos.
Ele cita dois aspectos negativos centrais. O financiamento empresarial de campanha, no qual muitas igrejas são empresas e controlam redes de televisão e rádios e através dos dízimos que recebem dos fieis e acumulam recursos. “Ainda assim, deputados da bancada evangélica representado pelo Eduardo Cunha são financiados por empresas”, afirma Júlio.
Para o dirigente a votação deveria ser em lista partidária, no qual se vota no partido, no programa político, nas propostas e não no indivíduo. “Hoje a votação é predominantemente “fulanizada”, é nominal, que explica fenômenos como Tiririca e a eleição de uma grande bancada evangélica. “Independentemente do partido, pois a clientela do deputado evangélico são os fieis da sua crença”, destaca ele.
“É necessário o financiamento público de campanha e voto em lista”, finaliza Julio, que também é militante no movimento do plebiscito por uma constituinte exclusiva e soberana para uma reforma do sistema político.
É fundamental uma reforma política para eliminar estas distorções que fazem com que as representações, ao invés de serem de segmentos da população que defendem uma ideia, determinado projeto, programa, acabem expressando interesses fragmentados ou de grupos que não são partidos políticos, como é o caso das igrejas.
O Estado Laico não é um estado que condena as pessoas que tem religiões, ao contrário, é o Estado que respeita todos de qualquer religião, inclusive aqueles que não tem religião nenhuma.