Escrito por: Andre Accarini
No encontro realizado pela CSI, maior confederação de trabalhadores do planeta, dirigente da CUT explica roteiro do golpe no Brasil: “trama entre EUA, transnacionais, sistema financeiro e elite brasileira”
Na segunda-feira (3), durante as atividades do 4° Congresso da Confederação Sindical Internacional (CSI), encontro que reúne mais de 1.200 sindicalistas de 132 países, o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, denunciou o golpe de Estado vivido no Brasil, que derrubou a presidenta legitimamente eleita Dilma Rosseff e promoveu um brutal corte nos direitos sociais e trabalhistas no país.
O dirigente classificou o ‘movimento’ como um novo tipo de golpe de Estado, diferente dos vividos nas décadas de 1960 e 1970, em países da América Latina e da África. “Os novos golpes são uma combinação de interesses geopolíticos, especialmente em favor de potências do [hemisfério] Norte, com interesses de transnacionais e do sistema financeiro internacional”, afirmou.
Para Lisboa, países como os Estados Unidos “querem transformar a América Latina em seu quintal e, no caso do Brasil, tiveram na elite corrupta brasileira o apoio para derrubar Dilma Rousseff sem que ela tenha cometido crime algum, o que deu início a todo o processo que resultou na eleição de um candidato de extrema direita”.
Isso porque, segundo Lisboa, o passo seguinte do roteiro do golpe foi a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sem crimes nem provas, em um processo apontado por renomados juristas brasileiros e internacionais como inconsistente. “O Brasil inteiro sabia que Lula seria eleito presidente, por isso fizeram de tudo para impedi-lo de participar do processo eleitoral”.
Ao fazer a análise da eleição presidencial, Lisboa denunciou o processo marcado pela disseminação em massa de notícias falsas que interferiram no resultado final do pleito.
“A campanha foi baseada na falta de debate de propostas entre os principais candidatos e na disseminação de notícias falsas que deram vitória a Jair Bolsonaro, um candidato fascista, de extrema-direita, que já prometeu, entre outras coisas, mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, e acabar com ministérios como o do Trabalho e Meio Ambiente”.
O secretário de Relações Internacionais da CUT lembrou, ainda, que Bolsonaro tem a pretensão de romper o Acordo de Paris e tornar o país submisso não apenas aos Estados Unidos, mas especialmente a Donald Trump, o presidente de extrema-direita norte-americano.
Justiça seletiva
O dirigente cutista alertou que um olhar menos atento aos fatos pode levar parcela da população a acreditar que todo o processo do golpe foi legítimo, pois importantes forças articuladoras fazem parte do Poder Judiciário, o que passa a falsa sensação de legalidade do processo.
“Mas, na verdade, o mesmo juiz [Sérgio Moro] que investigou, julgou e condenou Lula foi quem criou as condições para que o ex-presidente fosse impedido de disputar a presidência. E agora, depois de ajudar a eleger Bolsonaro, será ministro da Justiça do novo governo”, denunciou.
Citação: A Justiça no Brasil não faz justiça. Ela aplica as leis para perseguir seus adversários políticos
Unidade e resistência
Lisboa finalizou seu pronunciamento lembrando que o campo progressista brasileiro, formado por partidos de esquerda, movimentos sindical e sociais criaram uma unidade e preparam a resistência contra a onda conservadora que se instaura no país.
Congresso
O 4° Congresso da CSI encerra nesta sexta-feira (7), com a eleição da nova direção que comandará a entidade nos próximos quatro anos. Atualmente, a CSI é presidida pelo professor e cutista, João Antonio Felício, e representa 207 milhões de trabalhadores de 331 sindicatos nacionais em 163 países.
O portal da entidade transmite ao vivo a programação, inclusive com tradução para o português. Assista aqui
Vídeo
Secretário de Relações Internacionais da CUT Brasil, participa do debate sobre Democracia, Paz e Direitos no 4° Congresso Mundial da CSI