Escrito por: Edilson Lenk, CUT-ES
O Espírito Santo continua a figurar como um dos estados onde mais se mata mulheres no país
A sociedade capixaba assiste estarrecida a uma sucessão de crimes que tiram vidas de mulheres, como se uma escalada de violência estivesse assolando a região. Mas não se trata de uma escalada e nem de uma onda. A violência contra a mulher é uma realidade permanente e que tem, sistematicamente, ceifado vidas em nosso estado, que ocupa a triste posição de estar entre os que mais matam mulheres no Brasil.
O caso da médica Milena, assassinada a mando do marido, repercutiu muito na sociedade capixaba. Talvez por ser uma médica, ter um futuro garantido, gozar de um bom lugar na sociedade. Mas a realidade vivida por milhares de mulheres reserva a elas o que foi reservado a Milena e a tantas outras que morrem sem que a imprensa ou a sociedade lamentem ou parem para pensar que essas mortes poderiam ter sido evitadas.
Estamos falando de feminicídio. Estamos falando de quando uma mulher é assassinada simplesmente pela condição de ser mulher. As motivações mais usuais do feminicídio são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres, comuns em sociedades marcadas pela associação de papéis discriminatórios ao feminino, como é o caso do Brasi.
A sociedade patriarcal confere ao homem o direito de vida e de morte sobre a mulher, a partir do momento em que ele acredita plenamente que ela é sua propriedade, que lhe deve obediência e que não é senhora de sua vida. As sociedades que assim se organizam assistem cotidianamente aos assassinatos de milhares de mulheres, sem que uma reflexão profunda seja feita sobre este tipo de organização.
Nós precisamos repensar nossa sociedade sobre vários e muitos aspectos. Mas o repensar quanto às práticas machistas que se reproduzem cotidianamente, sobre a coisificação das mulheres, sobre uma suposta supremacia do homem heterossexual sobre as mulheres e sobre homens homossexuais, sobre a certeza de que se pode agredir, humilhar, violentar, estuprar e matar por que “as coisas funcionam assim”!
Esse tipo de realidade nos torna menores, nos apequena e nos humilha.
A CUT Espírito Santo vê com preocupação e horror, tanto os crimes que vitimam mulheres cotidianamente, quando as vidas que são condenadas a uma existência de subserviência, de agressão e de desmandos. Vamos continuar a cobrar das autoridades a efetividade e aplicabilidade da Lei Maria da Penha, com a proliferação de Varas Especializadas e de Delegacias de Defesa da Mulher, bem como a construção de casas abrigos e toda forma de suporte para que as mulheres vítimas desse tipo de relação tenham a quem recorrer.
E exigimos punição exemplar em casos onde os assassinos e/ou mandantes são comprovadamente os culpados por ceifar vidas já tão marcadas pela violência que essas relações impõem cotidianamente a inúmeras mulheres.