Escrito por: Walber Pinto

CUT lança pílulas antirracistas para dialogar e despertar a luta contra o racismo

O projeto, que tem 30 pílulas e três documentário, leva as pessoas a refletir sobre temas atuais e do passado, como o papel da greve de 1857 de negros escravizados à época

Edson Rimonatto/CUT

A secretaria nacional de Combate ao Racismo da CUT lança nesta terça-feira (29), mais uma série de “Pílulas Antirracismo”, que inclui vídeos e cards que buscam conscientização e despertar não só a classe trabalhadora, mas toda a sociedade brasileira sobre a luta antirracista.

As pílulas têm o objetivo de ampliar a reflexão sobre como o racismo se estrutura e se perpetua no cotidiano das pessoas até os dias de hoje e o lançamento da campanha faz parte do “Julho das Pretas”, referência ao dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Afro-Latino Americana e Afro-Caribenha. No Brasil,  a data é dedicada à memória de Tereza de Benguela, líder do quilombo do Quariterê, em área que hoje pertence ao Estado do Mato Grosso, ela é símbolo da resistência contra a escravidão, mas sua luta só  foi reconhecida em 2014, pela então presidenta Dilma Rousseff (PT).

O projeto, que é um instrumento de informação à classe trabalhadora, fala dos levantes populares, como Revolta dos Malês e a Balaiada, no Maranhão, que tiveram participação efetiva de negros e negras escravizados. A campanha também mostra alguns termos racistas que muita gente usa no cotidiano, no entanto, que devemos tirar do vocabulário, como: mulato, denegrir, serviço de preto, traços finos. (veja aqui todos os vídeos)

“Vamos abordar (nas pílulas) o encarceramento em massa, o cabelo como estética, como símbolo de resistência e como a juventude hoje se apropria dessa estética do cabelo crespo como uma forma de se colocar nessa sociedade. Enfim, nós vamos falar um pouco de tudo isso”, explica Anatalina Lourenço, secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT.

Segundo a dirigente, serão 30 pílulas e três documentários sobre diversos temas que abordam a questão racial. Durante todo o mês de julho, mulheres negras, coletivos de mulheres negras, organizações, a CUT, realizam várias atividades que abordam sobretudo as desigualdades de gênero e raça. A data é uma oportunidade também para fazer a discussão sobre os meios para superar a opressão histórica sobre as mulheres negras que estão sempre na base da pirâmide social.

A secretária-adjunta de Combate ao Racismo da CUT, Rosana Sousa, afirma que o terceiro lote de pílulas trará temas importantes para  compreender como o racismo se organiza no Brasil. “É uma reflexão de como racismo se estrutura e como ele está em situações simples do cotidiano. O mês de julho é importante pensar que nós vivemos em uma sociedade racista, e que as mulheres negras estão numa pirâmide totalmente desigual e excludente.

Apontado pela fala de Rosana, quando se observa dados de homicídios no Brasil, são as mulheres negras as maiores vítimas de homicídio, segundo o Atlas da Violência 2020, estudo anual produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

De acordo com o levantamento, uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil —foram 4.519 mulheres assassinadas em 2018, um índice de 4,3 a cada 100 mil mulheres que moram no país. Um comparativo entre 2008 e 2018, neste intervalo de uma década, os homicídios de mulheres negras aumentaram 12,4%, enquanto os homicídios entre mulheres brancas caíram 11,7%.

Na política, dados da campanha Mulheres Negras Decidem apontam que, em 2018, dos 513 parlamentares, apenas 10 eram mulheres negras. No mercado de trabalho, as mulheres negras voltam a enfrentar taxas de desemprego, trabalho informal e tornam as mais vulneráveis ao desemprego.

Ressignificação das lutas

Falar de racismo, é lembrar das questões centrais que mantém esse processo longo de desigualdade entre brancos e negros que se desdobram no genocídio de pessoas negras, no encarceramento em massa, na pobreza e na violência contra mulheres.

Não é possível debater um projeto de nação e desenvolvimento econômico sem que o racismo seja abordado. As pílulas nos levam a refletir, por exemplo, sobre temas do passado, como a greve de 1857 de negros escravizados à época.

A primeira greve no Brasil não foi 1917, foi em 1857. Então, a gente precisa ressignificar de como se deu a formação a classe trabalhadora que não é a partir da imigração europeia, mas a partir da escravização dos negros africanos aqui no Brasil- Anatalina Lourenço

Rosana concorda também que a greve de 1857, conhecida como a “Greve Negra”, foi importante para o movimento sindical e a luta de classe no Brasil.

Muitas pessoas até hoje ainda fazem o debate de que a formação do movimento sindical e de classe se deu com a chegada dos trabalhadores europeus, na verdade não é essa a história. A gente não pode desmerecer, esquecer de fato o papel que os trabalhadores negros tiveram na formação do movimento sindical- Rosana Sousa

Quem foi Tereza Benguela

Tereza de Benguela, ou “Rainha Tereza”, é um ícone da resistência negra no Brasil Colonial. Nascida no século XVIII, ela chefiou o Quilombo do Piolho ou Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso.

Comandada por Tereza de Benguela, a comunidade cresceu militar e economicamente, resistindo por quase duas décadas, o que incomodava o governo escravista. Após ataques das autoridades ao local, Benguela foi presa e se suicidou após se recusar a viver sob o regime de escravidão.

A Lei nº 12.987/2014, sancionada por Dilma, é conhecida como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Assista a primeira pílula: