Escrito por: Elaine Neves e André Accarini

CUT participa de debate para elaborar estratégias contra o adoecimento mental

Oficina organizada pelo Ministério da Saúde debateu estratégias e ações para prevenir adoecimento mental decorrente do trabalho. Mais de 748 milhões de trabalhadores no mundo todo tem algum tipo de transtorno

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O enfrentamento aos transtornos mentais relacionados ao trabalho no Brasil foi tema de uma oficina realizada em Brasília, nos dias 21 e 22 de março, voltada a profissionais de saúde, pesquisadores e movimento sindical com o objetivo de elencar e definir as ações prioritárias da Vigilância em Saúde do Trabalhador e das Trabalhadora sobre o tema.

Organizada pela Coordenação-Geral de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, a oficina teve dois dias de debates com apresentação de dados sobre o adoecimento mental no trabalho, e discussões sobre os desafios para o enfrentamento ao problema que afeta grande parte dos trabalhadores. 

O movimento sindical foi representando pela CUT, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e pela Federação Única dos Peteoleiroe (FUP). Participaram também representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de instituições nacionais como o Ministério Público do Trabalho (MPT).  

Debates e ação

Cerca de 60% da população mundial é classe trabalhadora. Desse contingente, 61% estão na informalidade. Os dados foram apresentados pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) durante a oficina e apontam que no mundo todo, mais de 748 milhões de trabalhadores sofrem com adoecimento mental. São 301 milhões com ansiedade, 280 milhões com depressão e 164 milhões com esquizofrenia ou transtorno bipolar.

Todos os anos, ocorrem 703 mil suicídios de pessoas em idade de trabalhar.

No Brasil. dados do Ministério da Previdência Social mostram que mais de 288 mil benefícios por incapacidade devido a transtornos mentais e comportamentais foram concedidos em 2023, número 38% maior que o ano anterior.

Além dos dados, nos debates foram expostos os aspectos do mundo do trabalho que causam tais mazelas e o que as instituições podem fazer para sanar o problema. O olhar dos trabalhadores sobre as relações de trabalho como causa de sofrimento também entrou em pauta.

A partir do panorama do adoecimento mental no trabalho, foram propostas ações para a promoção da saúde mental da classe trabalhadora. Entre elas, a prioridade na construção de grupos de trabalho envolvendo os diferentes setores para atuar na prevenção e tratamento dos casos de adoecimento mental.

Também foi pensada uma articulação entre a Coordenação Geral de Saúde do Trabalhador com secretarias do Ministério da Saúde e com a participação efetiva e permanente de trabalhadores. Um dos focos é a constituição e o fortalecimento de uma rede de atenção psicossocial.

Outros temas debatidos foram a identificação de casos por meio do sistema público de saúde, a atuação dos Centros de Referência de Saúde do Trabalhador (Cerests), além da atuação Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast).

“O objetivo principal é construirmos políticas públicas eficazes para protegermos os trabalhadores e essa oficina teve essa função”, afirmou Josivania Ribeiro Cruz Souza, secretária de Saúde do Trabalhador da CUT.

“Foi um passo importante para alinhar o que podemos construir para a promoção e proteção da saúde mental dos trabalhadores. E o papel deles é fundamental já que estão em contato direto com as condições de trabalho diariamente e podem detectar sinais precoces de estresse, ansiedade, depressão ou outros problemas”, disse a dirigente.

Ela explica que considerar as experiências vivenciadas pelos trabalhadores nos locais de trabalho é essencial porque traz informações valiosas e precisas sobre como fatores específicos do ambiente de trabalho afetam sua saúde mental.

“Carga de trabalho, pressão, assédio, são vários os fatores e as percepções são essenciais para entender os determinantes sociais da saúde mental no local de trabalho”, diz Josivânia explicando que a partir disso as ações de proteção e prevenção podem ser mais adequadas e eficazes.

“Ao compreender as necessidades e preocupações dos trabalhadores, as ações de promoção, proteção e assistência integral em saúde mental relacionadas ao trabalho, podem ser melhor direcionadas”, ponta a dirigente.

SUS

Na avaliação de Josivânia Souza, os debates da oficina evidenciaram que o Sistema Único de Saúde (SUS) desempenha papel essencial na vigilância em saúde mental da classe trabalhadora porque garante acesso aos serviços de saúde mental, promove a prevenção e vigilância e oferece atenção integral à saúde mental.

“Essas ações são fundamentais para garantir que trabalhadores tenham saúde e qualidade de vida e que os adoecimentos e mortes decorrentes do sofrimento mental relacionado ao trabalho sejam reduzidos”, diz Josivânia